Não era um lugar bonito, muito menos cheiroso. Caixas enormes abertas estavam espalhadas, tudo jogado e revirado, os líquidos derramados no chão tinha um cheiro péssimo, parecia que estava tudo abandonado, como se ninguém visitasse este lugar a muito tempo. Não gosto de enfermarias, toda vez que—sem querer— acabava parando em uma, me sentia mal, fraca e impotente, não que eu devesse me importar, eu estava aprendendo a ser forte, mas, mesmo assim, me importava. Minha mãe sempre me disse que para uma mulher conquistar terreno por merecimento e não por casamento, deveria ser forte, que ela poderia ter conseguido mil vitórias, mas sempre todos só reparariam em sua única derrota. Isso significa que, mesmo uma mulher, no começo do treinamento para se tornar uma grande guerreira, nunca, jamais, em hipótese alguma, deve ir para enfermaria, mesmo em estado de vida ou morte. Todas as mulheres guerreiras que já ouvi falar são temidas, é óbvio que na sociedade que vivemos elas não tiveram muita escolha além de serem fortes e frias, caso fossem bondosas e gentis não seriam levadas a sério, acho que ninguém às consideraria guerreiras. “Então aprenda a ser temida e não amada”, era o que minha mãe sempre dizia. É o que sou agora.
— Então, porque está tudo revirado aqui ?
Dylan nem sequer pareceu ter me escutado, o silêncio predominou por alguns segundos mas logo foi quebrado por sua resposta.
— Quase não usamos a área médica, gostamos de pensar que é matar ou morrer. Esse lugar vai virar um escritório e tudo que está aqui será levado para uma sala menor.
Era difícil de andar, acho que já esbarrei em uma ou duas caixas, eles deviam terminar isso o mais rápido possível, qualquer um que venha parar aqui com ferimentos irá pegar uma infecção.
Caminhar por esses corredores parecia uma eternidade, o jeito cuidadoso para não esbarrar nessas caixas atrasa todo processo de caminhada. As beiradas da minha sapatilha estavam sujas e úmidas.
— É logo ali.
Dylan aponta para umas cortinas à frente que cobriam a passagem da enorme claridade que vinha de trás dela. Com mais alguns passos dados já conseguia ouvir o falatório de algumas pessoas.
Ao puxar a cortina abrindo caminho para que eu atravessasse, Dylan se junta a mim passando meu braço ao seu, nossa chegada atrai vários olhares, mas logo todos se curvam e a medida que caminhamos em frente alguns médicos e enfermeiros nos cumprimentam com bom dia e outros apenas nos fitam com olhares desconfiados.
— Como Nivy está?
O médico que nos acompanhava até onde Nivy estava, observa Dylan e transfere seu olhar para as fichas médicas em sua mão e revira algumas, possivelmente procurando a que era de nosso interesse no momento.
— O quadro clínico dele melhora a cada horário, sua recuperação está sendo bem rápida levando em conta a gravidade que seus ferimentos chegaram aqui.O doutor abre a terceira porta à nossa direita.
Nivy estava sentado na cama com um prato de macarrão nas mãos. Ao reparar que chegamos ele vira em nossa direção fazendo com que o macarrão que estava na sua boca caísse na sua roupa hospitalar deixando-a suja de laranja.
— É sério que você precisa de alguém para te dar comida na boca também? Parece uma criança comendo— Dylan entra na sala rindo e se joga no sofá, eu por outro lado fico parada na porta— Você sabe que tem macarrão até na sua testa né?
— Não enche Dylan, eu quase morri! Dá um desconto— a última parte soou como um resmungo.
— Posso ordenar que alguém venha te ajudar com isso se quiser— Era perceptível em sua voz o tom de deboche, Dylan levantou suas sobrancelhas e sorriu de um modo sarcástico.
— Eu vou querer sim— Nivy o encarava balançando a cabeça mas logo depois me olha parada na porta e por alguns segundos me analisa de cima a baixo logo depois de virar seu olhar para Dylan novamente— Acho que sua linda princesa conseguiria facilmente cuidar de mim, nos divertiriamos muito juntos não acha princesa?
Percebo a expressão de Dylan mudar, suas sobrancelhas agora estavam franzidas e seu olhar estava divido entre mim e Nivy, por algum tempo ele fixa os olhos em mim, como se ele quisesse me obrigar a responder a pergunta, esperando que eu negasse a proposta.— Olha eu não vejo porque não ajudar você, mas ainda sim tenho que receber autorização do meu futuro marido e príncipe de Nohtingan.
Aproximo-me da cama onde Nivy estava deitado e me sento a seu lado, ele passa o braço pela minha cintura me puxando para mais perto, eu o abraço olhando para Dylan sentado no sofá de braços cruzados com uma expressão nada boa e sorridente igual à de antes. Olho para Nyvi sorrindo deixando que meus dentes apareçam, ele faz o mesmo que eu e logo depois olhamos para Dylan deixando nosso sorriso amostra.
— Eu acho que não tem nenhum problema né. Afinal é só uma amiga muito querida cuidando do amigo do seu futuro esposo, o que você acha? Por que está tão calado Dylan? Não gostou de algo?
As falas de Nivy me faziam rir, não de um jeito forçado ou sarcástico mas de um modo espontâneo, de um jeito que eu não ria a muito tempo, tinha até me esquecido como era boa essa sensação.
— Aí! Isso não tem mais graça, parou a brincadeira!
Ele joga as almofadas que estavam à sua beira em cima do sofá, e Nivy as arremessa de volta. Eu só conseguia rir, gargalhava igual à criança, não mais criança que os dois que se agrediam com almofadas e travesseiros. Era divertido ver a palhaçada e participar dela, realmente igual a crianças, sem preocupações e deveres a cumprir, como se nada no mundo importasse mais a não ser isto. Amizade, amigos, era isso que parecia ser, melhores amigos contra o resto do mundo.
— Ei! Isso não é justo, eu não tenho como me defender! Parem!!— os dois apenas batiam em mim com as almofadas enquanto riam desesperadamente, a única coisa que conseguia fazer era rir e abaixar a cabeça para me proteger, minha barriga doía tanto por causa das gargalhadas que eu dava que não conseguia correr ou tentar pegar uma almofada.
Tinha me esquecido como adorava a sensação de ter amigos e fazer coisas estúpidas e desnecessárias com eles.
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O último reino
أدب الهواةMelys... a famosa guerreira acaba tendo que mudar seus planos para o futuro. Ela terá que conviver com príncipes e princesas de estilos diferentes. Histórias de seu passado que deviam estar enterrados voltam a assombrar e um suposto traidor pode r...