Sagrado Profano

Ato 3. Dão Errado

"Onde é que deu errado?
O peito chora mas a boca mente,
Procurando um culpado,
Quando a gente se cansou da gente?

Profano ou Sagrado?
A dor do amor que o peito dilacerado sente,
Onde é que deu errado?
Quando foi que a gente se cansou da gente?"

Estou bêbado demais para me iludir, e esse whisky não vai me calar por nada. Estou farto das coisas sempre darem errado, sinto como se eu estivesse fadado a nunca namorar com alguém. Creio eu que você está se perguntando porque eu estou falando essas coisas, bem, acontece que eu não estou mais ficando com aquele Sábio interino. Não sei quando isso tudo começou, mas as coisas começaram a esfriar entre nós, tipo, não me levem a mal, o sexo era bom como sempre, mas sinto que aquela paixão que a gente sentia um pelo outro esfriou (na verdade, nem sei se existia paixão pra começo de conversar).

Sei lá, sinto que esse "término" é diferente dos outros, não sinto nem raiva, nem tristeza, só sinto que as coisas poderiam ter sido diferentes. Talvez eu tenha sido só um esquema, um válvula de escape, uma presa na teia de aranha dele.

Teria sido sagrado ou profano nosso relacionamento? Um romance sagrado, que começou de forma genuína numa simples conversa de bar, e ao mesmo tempo um amor profano, não perdíamos oportunidades de transar e cometer atos pecaminosos. Gosto que o nosso amor ofereceu tudo que o amor tem pra dar, nem românticos demais, nem carnais demais, éramos uma mistura entre os dois extremos do amor. Lembro de nossas noites vendo filmes e comendo pipocas, nossas fodas inesquecíveis, nossas idas ao cinema, nossas idas ao motel, eu conversando com ele e vendo o quanto ele é inteligente, eu mostrando meus desenhos e projetos para ele e ele ficando impressionando, fazendo questão de falar o quanto eu era um bom desenhista e arquiteto.

Mas, sabe, no final, eu só quero que ele não esqueça tudo que vivemos até aqui, e que ele guarde o que sobrou do nosso relacionamento, pois eu sempre guardarei tudo o que eu vivi com ele até aqui.

Gosto de imaginar que, em todos os meus relacionamentos que dão errado, em outra vida eles deram certo, em outra linha do tempo meu relacionamento com ele poderia ter tido um final feliz, não só com ele, mas com todos os outros que eu já amei. Então, espero que algum dia eu encontre um amor verdadeiro, mas, enquanto esse dia não chegar, irei continuar com meu dilema: "Todas as histórias de amor dão errado."