"Eu vi você na outra noite
Eu nem te reconheci
Ache isso meio estranho
Acho que as pessoas mudam
Mas eu não esperava que você mudasse"Younger - Ruel
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Tem algumas coisas que prometemos quando somos crianças, ajudar a todos quando formos milionários ou comer hambúrgueres todos os dias, bem, não importa qual seja a promessa, o "para sempre" dura menos do que o "nunca mais" e isso é inevitável. Era o que Helena pensava quando, parada em frente uma porta, lembrava que havia dito para Calina que as duas iriam juntas comemorar o seu aniversário.
ㅡ Vai ficar aí parada na frente da minha porta mesmo?
Ao reconhecer de quem era aquela voz grave, Helena revirou os olhos e se retirou da frente da porta.
ㅡ Ah, é você Marcelo, por um momento achei que era um velho carrasco.
Em sua voz continha um certo tom de ironia, mas o homem pareceu não ligar e entrou em sua sala ignorando o ataque.
ㅡ Terminei o vídeo promocional de natal da pousada, como me pediu.
Ela estendeu sobre a mesa o iPad e Marcelo analisou as imagens, na tela aparecia uma curta-metragem feita com os registros reais de hóspedes na pousada.
ㅡ Coloquei as filmagens dos arquivos pessoais da pousada, acho que isso vai gerar uma conexão com as pessoas e passar a imagem que prezamos aqui dentro, tanto de conforto, como amizade e amor.
"Venham para dentro Helena, Calina, Benjamin e Marcelo, está tarde"
A voz da avó de Calina ecoa para fora do vídeo, trazendo consigo as memórias, de um tempo onde tudo era possível se os quatro estivessem juntos. Juntos. Essa palavra nem fazia sentido levando em consideração a relação que o quarteto possui atualmente depois da separação.
Um desconforto percorre o corpo de Helena que buscando um escape olhou de relance para Marcelo que continuou a ver o vídeo concentrado.
ㅡ Vamos divulgar isso mesmo.
Ela se assustou com sua fala repentina, já que a momentos atrás o observava distraída.
ㅡ Tá bom, já vou indo então.
Marcelo a encarou com aqueles olhos verdes esmeraldas tão profundamente que ela pensou ter cometido um erro.
ㅡ Algum problema?
Ele suspirou e então começou a digitar algo no notebook sobre a mesa.
ㅡ Não, está liberada.
Helena soltou uma risada incrédula.
ㅡ Não sei porque ainda insisto em tentar ser legal, você continua sendo um completo idiota.
Brandou e saiu batendo a porta o suficiente para demonstrar sua raiva.
Já na saída, Helena sentiu o celular vibrar no bolso e então atendeu.
ㅡ Cah, desculpa. Estava resolvendo algumas coisas com o sujeito que não pode ser mencionado.
ㅡ O que ele fez dessa vez?
O tom de voz da mulher demonstrava que as brigas entre os dois eram muito frequentes.
Helena suspirou cansada.
ㅡ Deixa para lá.
ㅡ Enfim, nós ainda vamos fazer piquenique no lago?
Seus lábios abriram em um sorriso, era bom estar com sua amiga de longa data por tanto tempo.
ㅡ Claro que sim! Já estou indo para lá, as coisas estão todas no carro.
Ela ouviu Calina gritar animada do outro lado da linha.
ㅡ Meu ouvido, mulher! Vai me deixar surda. A gente se vê lá então.
ㅡ Vou ficar esperando então!
Ao sair da pousada, ela sentiu a brisa fresca de dezembro, um cheiro suave de sorvete de flocos e aquela peculiar fragrância típica de fim de ano, cheiro de madeira molhada, musgo e terra após uma chuva de verão. Seu coração pareceu abrir uma ferida que a muito tempo estava cicatrizando. Um sentimento de saudade e tristeza inexplicável dos bons tempos da infância, quando ainda havia motivos para acreditar que as nuvens eram feitas de algodão.
Ela balançou a cabeça na tentativa de afastar os pensamentos.
Não, ela podia ficar triste hoje, era o seu aniversário, nada poderia estragar esse dia. Nada.
Chegando no ponto de encontro, ela se sentou embaixo de uma árvore que ficava próxima ao lago e fechou os olhos sentindo o vento balançar seus cabelos castanhos no ar.
ㅡ Por que tem uma fada sentada em um lugar desses?
Ela sorriu ainda de olhos fechados.
ㅡ Acho que minhas asas estão cansadas.
A garota de cabelos ruivos deixou as coisas caírem na grama e foi até a amiga dar-lhe um abraço.
ㅡ Feliz aniversário, lena!
ㅡ Obrigada, Cah!
ㅡ E aí, como anda as coisas na faculdade?
Helena fez uma careta e então suspirou sem paciência.
ㅡ Aquele homem continua no meu pé.
A ruiva resmungou.
ㅡ Urgh, que terrível.
Helena levou as mãos até os ombros de Calina.
ㅡ Não se preocupe, sei me cuidar.
As duas sorriram e então começaram a experimentar toda a comida que haviam colocado sobre o lençol quadriculado, como: pães doces, bolo, salgadinhos e balinhas de chocolate.
Ao fim da tarde, Calina e Helena observavam as estrelas iluminando o lago deitadas no chão. Enquanto o vento suave soprava e a luz da lua beijava a superfície calma das águas, Calina observava a silhueta de um homem misterioso do outro lado da margem do lago. Seu rosto não podia ser visto devido à profunda escuridão da noite, mas algo nele despertou o seu interesse. De todo modo, ele seria só mais um das tantas pessoas que ela só veria uma vez sem saber o que poderia acontecer se tivessem trocado de fato uma conversa despretensiosa.
Isso, pelo menos, foi o que ela achou.
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Amigos, Estranhos, Amantes!
RomanceNeve, chocolate quente, luzes piscantes e romance: o combo perfeito para o Natal, ou seria para a maioria das pessoas, pelo menos. Marcelo, Helena, Calina e Benjamin cresceram juntos nas cidades turísticas de Gramado e Canela, o coração natalino do...