⁴ Não preciso do seu apoio

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Carolyna Borges

Estava demorando! Em um rompante Allan adentra a cozinha e acaba ouvindo nossa conversa. Não é nenhuma surpresa o ataque de fúria que ele sempre tem quando nos ouve falando sobre o assunto.

- Você não manda em mim. Se o papai e a mamãe deixarem eu vou.

-Mas eles não vão deixar. - Vejo o sorriso sarcástico no fim da sua frase. Manipulador miserável! Respiro fundo, não vou desistir dessa vez.

-Claro que vão. E você não tem nada com isso, cuida da sua vida Allan!

Nossa mãe só observa e nos deixa discutir, sempre foi assim, desde quando éramos crianças. Apesar de Allan ser dez anos mais velho que eu, ela e papai sempre deixaram que nós dois lidássemos com nossas discussões. Entretanto quando a coisa começa a ficar séria ela interfere.

-Esse assunto está encerrado, você não sai daqui. Não vou permitir que você vá para aquela cidade violenta. Esquece isso Anna Carolyna!

Pronto, a porra da minha paciência acabou.

-Olha aqui Allan, me deixa viver a minha vida, o meu sonho. Eu já tenho quase dezenove anos porra. Eu vou se eu quiser e não é você que vai me impedir, tá me entendendo?

Ele bufou igual um toro bravo, isso está ficando cada vez pior.

-Se você quiser ir, pode ir. Uma semana, depois volta pra casa. É pegar ou largar.

Olho pra minha mãe e suplico sua ajuda, mas ela dá de ombros, esperando que eu consiga sozinha convencer meu irmão cabeça dura. Eu preciso apelar, discutir não está funcionando. Faço cara de coitada, até meus olhos lacrimejam.
Autora> Eita como ela é atrizzzz

Caramba, poderia facilmente ser atriz! Pensei.

-Eu não quero viajar uai, quero ir pra ficar um tempo, caramba irmão me entenda. Eu posso cursar minha faculdade por lá. Quero fazer medicina veterinária como você. - Os olhos dele brilham, eu sei que acertei em seu ponto fraco. - Você mesmo disse que eu precisava me decidir logo em relação a isso.

Ele me encara por um tempo, passa as mãos pelos cabelos, esfrega o rosto com as duas mãos. Eu e minha mãe trocamos olhares. Ele está muito bravo, esses são os sinais de que sua paciência já era.

-Você só pode tá de brincadeira. - Alterou o tom de voz. - De jeito nenhum que você vai estudar no Rio de Janeiro. Tem um monte de faculdade boa aqui perto pra você escolher. Lá é perigoso Carol! Eu preciso que você entenda isso. - Tom de voz manso. Prefiro quando ele grita, consigo sentir um pouco de raiva.

-Essa é sua última palavra? - Pergunto com o queixo erguido querendo mostrar que estou debatendo de igual para igual com ele. Apesar de a nossa altura ser ridiculamente diferente.

-Sim, você não vai.

Respirei fundo e o encarei olho no olho.

-Eu gostaria muito que você me apoiasse Allan, você sabe o quanto eu te amo e o quanto sua opinião é importante pra mim. Eu te respeito na mesma medida que respeito nossos pais. Eu vou e você não vai me impedir, e eu tenho certeza que você já entendeu isso, só não quer admitir. Se os nossos pais concordarem eu não vou ficar só porque você quer cara.

O desgramado riu na minha cara, eu sabia o quanto ele estava furioso. E bem lá no fundo eu não sabia se teria coragem e nem forças para lutar contra ele nessa nossa batalha.

Allan sempre foi um segundo pai para mim, devido a nossa diferença de idade, ele sempre me protegeu, sempre se colocou na posição de meu guardião. Ele é muito mais que meu irmão, meu melhor amigo, ele é meu anjo da guarda. Entre nós nunca houve segredos, por isso ele sempre soube da minha vontade de ir para o Rio. Eu sou louca de amor por ele, mas eu preciso viver esse sonho. Eu quero voar. Quero poder enfrentar a vida por mim mesma. E mesmo que eu quebre a minha cara, eu quero tentar. Eu preciso ir até aquele lugar e descobrir o por que ele clama tanto por minha pessoa..

- O que você tem aqui não é o suficiente, Carolyna? Eu, o papai, a mamãe, o João, todo mundo...

Ele respira fundo e posso ver a mágoa em seus olhos.

- Lá você estará sozinha, num lugar estranho, sem nós, sem ninguém. Eu não quero mais falar sobre isso. Se você já é tão adulta assim pra tomar suas decisões, então vai, mas esquece que eu existo, não conte mais comigo. Você vai por conta própria, não vou te apoiar nessa loucura.

Tive que engolir o nó que se formou em minha garganta, eu não queria que as coisas tivessem chegado a esse ponto. Eu não queria que meu sonho me colocasse contra uma das pessoas que eu mais amo na vida. Mas eu não baixei a cabeça, agora que eu comecei, iria até o fim.

Enquanto ele me dava às costas e saia da cozinha ainda tive forças para gritar.

-Eu não preciso do seu apoio.

Corri para os braços da minha mãe e chorei feito um bebê.

-Calma meu amor, ele está com medo filha, todos nós estamos. O Rio de Janeiro é uma cidade muito violenta querida. Lá você não terá a segurança que temos aqui. Sem contar que você estará sozinha. Entenda seu irmão, ele te ama e está apavorado, eu também estou, Alessandro ainda mais.

-Será que o papai vai deixar? - Perguntei fungando, tentado segurar o choro que ainda insistia em sair.

-Nós já conversamos sobre isso, ele também não está nada contente com essa história, e concorda em partes com seu irmão. Mas com ele eu me entendo. Eu quero que você me prometa uma coisa. - Afasto-me dos seus braços e a encaro no fundo dos olhos. Olhos claros lindos, que transmitem todo amor do mundo.

-Eu prometo o que a senhora quiser mamãe.

-Eu quero que você seja responsável Carolyna. Mostre para seu irmão que ele não precisa ficar com tanto medo assim, que você saberá se virar na cidade grande. Seja responsável e extremamente cuidadosa. Lá você estará sozinha minha filha. Precisa ter muito cuidado! Existem pessoas ruins nesse mundo querida.

Pela primeira vez desde que surgiu essa vontade de ir para o Rio eu tive medo. Será que eu conseguiria viver sozinha?

Eu não sou alienada, não é porque moro em uma fazenda no interior de Minas desde quando nasci que não sei como o mundo funciona. Estudei no melhor colégio da nossa região, conheço os perigos de uma cidade como o Rio de Janeiro. O fluxo de pessoas, as diferenças entre as classes sociais, a violência... Porém pensar que viverei isso na pele é um pouco assustador.

Preciso provar a mim mesma que eu sou capaz. E eu sei exatamente como fazer isso.

[...]

To be continued...

Com Amor, Carolyna - CAPRI { G!P }Onde histórias criam vida. Descubra agora