Capítulo 4

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Nada melhorou muito na escola nos dois dias seguintes. Mas também não piorou. Descobri o caminho mais rápido até as salas, cheguei à conclusão de que na verdade era mais fácil encontrar vaga no estacionamento de cima, e tive duas conversas com colegas de classe (embora uma tenha sido obrigatória, pois fomos obrigados a formar uma dupla para um trabalho; ainda assim já era alguma coisa).

Não voltei mais à Seaside Pizza; estava preocupada demais com a possibilidade de parecer estranha, maníaca ou as duas coisas. Em vez disso, em um dos dias encontrei Lisa na padaria Frazier pra botar o papo em dia e fazer lição de casa. No dia seguinte, fui pra casa depois da escola, pensando que talvez não fosse tão ruim. Até que vi o carro de Gray estacionado na frente da garagem.

- Jennie? É você?
Deixei a mochila na escada e respirei fundo antes de ir até a cozinha. Pra variar, lá estava ele sentado à mesa com a minha mãe, tomando café. Uma travessa de biscoitos estava entre os dois. Ao me ver, minha mãe a
empurrou na minha direção.

- Oi, sumida - Gray cumprimentou enquanto eu ia até a geladeira pra pegar uma garrafinha de água. - Quanto tempo.

Embora ele tenha dito isso com um sorriso, aquilo me deu calafrios. Só que a minha mãe já puxava uma cadeira, imaginando que eu me juntaria a eles, e foi o que fiz.

- Como foi a escola? - ela perguntou. E, voltando-se para ele, acrescentou: - Ela começou na Jackson esta semana.

- Sério? - ele perguntou com um sorriso estranho. - Conheço a parada. Ainda tem cheiro de cloro por todo lado?

- Você estudou na Jackson? - minha mãe perguntou. - Não sabia!

- No segundo e no terceiro ano - Gray respondeu, recostando-se na cadeira e esticando as pernas. - Depois fui convidado a me retirar.

- Parece alguém que eu conheço - minha mãe disse e tomou mais um gole de café.

- Está gostando? - Gray me perguntou.

Fiz que sim com a cabeça:

- Estou. É bacana.

Era minha resposta padrão sempre que me perguntavam qualquer variante dessa pergunta. Só contei a verdade uma vez, e foi para Rose, uma completa estranha. Não sabia bem por quê.

Foi então que escutei um zumbido: o telefone da minha mãe em cima do balcão. Ela levantou, conferiu o aparelho e soltou um suspiro.

- Esqueci completamente que tinha me comprometido com um evento no hospital infantil. Agora eles ficam me enchendo o saco o tempo todo com essas reuniões e orçamentos.

- Lembre-se do que estávamos conversando, Julie - Gray disse. - As prioridades em primeiro lugar.

Ela o olhou com gratidão.

- Eu sei. Mas preciso pelo menos me despedir com dignidade. Já volto.

E com isso ela se retirou e subiu a escada rumo à Sala de Guerra. O que me deixou a sós com Gray.

- Então - ele disse, inclinando-se para mim -, agora que somos só nós dois, diga a verdade. Como você está?

Ele sempre cheirava a cigarro, mesmo quando fazia tempo que não fumava. Relaxei um pouco na cadeira.

- Bem. É diferente, mas eu queria mudar.

- Aposto que é difícil seguir em frente com um modelo como Jay para se espelhar, tão distante do ideal. Meu irmão mais novo sentiu a mesma coisa.

Concordei com a cabeça, peguei um biscoito e dei uma mordida.

Desejava que minha mãe se apressasse e descesse logo.

Os Bons Segredos (JenKook )Onde histórias criam vida. Descubra agora