Capítulo 5

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O panfleto estava à minha espera na mesa quando desci para o café da manhã na segunda-feira. Vi logo que entrei na cozinha, mas só quando cheguei perto pude ler o que dizia:

DIA DA FAMÍLIA: sábado, 20 de setembro, das 13h às 17h.

INFORMAÇÕES: ramal 2002 ou diretoria@penitenciarialincoln.us

- O que é isso? - perguntei à minha mãe, que estava no fogão mexendo o bacon na frigideira.

Ela me olhou por cima do ombro.

- Vai ser na Lincoln daqui a algumas semanas.

- Mas Jay não quer que eu vá lá - eu disse. - Certo?

- Não é que ele não queira. É que... - Ela hesitou e soltou um suspiro. - Minha esperança é que essa oportunidade possa fazê-lo mudar de ideia.

Logo que meu irmão foi preso, teve de preencher formulários para cada visitante que queria receber. Meus pais estavam garantidos, claro, assim como Gray, e minha mãe achava que eu também. Mas apesar de a Lincoln permitir - e até encorajar, porque acreditava que o contato com a família era importante para os internos - a entrada de crianças e adolescentes, Jay disse que não, não queria que eu fosse lá. E isso me deixou muito,muito feliz.

Minha mãe, por outro lado, estava convicta de que ele mudaria de ideia mais tarde. Ela queria que eu fizesse parte daquilo, assim como queria que eu falasse com Jay quando ele telefonava e escrevesse cartas para ele, duas coisas a que eu resistia. Sabia que isso me tornava uma péssima irmã.

Mas se eu não saberia o que dizer ao meu irmão se ele sentasse na minha frente naquela mesmíssima mesa da cozinha, saberia muito menos agora que ele estava trancado numa prisão em outro estado. Era natural tanto para minha mãe quanto para Gray permanecer completamente no time de Jay, apesar do que ele fizera com David Ibarra, sem falar na nossa família. Para mim, não era tão fácil.

Eu tinha falado com ele apenas duas vezes desde que ele foi embora. Em ambas ocasiões, eu era a única pessoa em casa para atender o telefone. Não havia a opção de deixar tocar até cair na secretária eletrônica. Jay não tinha acesso fácil ao telefone. Quando ele conseguia ligar, tínhamos que aceitar a chamada e conversar por todo o tempo disponível. Ponto.

Eu tinha aprendido essa lição na marra, numa tarde em que a minha mãe estava no mercado. Atendi, aceitei a chamada e então esperei em meio a uma série de cliques e bipes até, enfim, meu irmão falar:

- Jennie?

Foi a primeira vez que escutei sua voz em mais de um mês. Ele parecia distante, como se falasse longe do bocal. Além disso, a ligação chiava sem parar, o que tornava difícil entender.

- Oi! - cumprimentei. - A mamãe não tá.

Me arrependi um instante depois de ter falado isso. Em minha defesa,porém, ele sempre falava com ela. Se meu pai atendia, as conversas eram mais curtas e tratavam mais de questões legais do que qualquer outra coisa.

- Ah.

Houve uma pausa, e então ele perguntou:

- Como você está?

- Tudo bem. E você?

Estremeci. Ninguém pergunta como um presidiário está. Simplesmente assume que a resposta é "não muito bem". Mas Jay respondeu mesmo assim:

- Tudo certo. A pior parte aqui é o tédio.

Eu sabia que ele estava apenas jogando conversa fora. Mas só conseguia pensar em David Ibarra na cadeira de rodas. Devia ser bem entediante também.

Os Bons Segredos (JenKook )Onde histórias criam vida. Descubra agora