Carolyna Borges
Era como se eu estivesse de longe observando tudo e não no meio daquele pesadelo. Eu ouvi quando ele a apresentou, Marcela! Eu prestei atenção em cada palavra temendo o ouvir dizer que ela era sua namorada, mas graças a Deus ele não disse.
Ela toda simpática disse que ouvia muito sobre nós, que estava feliz por estar ali. Eu engoli seco, respirei fundo e me obriguei a me afastar antes que caisse dura.
-Com licença, eu preciso terminar o meu trabalho.
As minhas mãos formigavam, meu rosto queimava e minha cabeça parecia estar inchando. Eu vou ter um treco! Eu preciso de ar, preciso respirar. Ouvi passos apressados atrás de mim e já sabia, sem nem mesmo olhar, quem era.
- Carol, você tá bem?
Não parei, eu precisava me afastar daquilo. Allan continuou e senti suas mãos segurando meus braços com delicadeza.- Cacá?
Meus olhos transbordaram e senti uma lágrima caindo. Inferno! Eu não quero chorar.
-Você sabia? - Olhei para meu irmão e o vi abaixar o olhar, e bem ali eu tive minha resposta.
-Por que você não me disse? - Minha voz saiu sussurrada, e dolorida.
-Eu não pensei que você fosse ficar mal com isso, uai. Vocês dois terminaram, você vai embora Carol!
-Você é meu irmão, deveria ter me avisado! Eu... Eu preciso de espaço.
Sai andando, mas Allan me acompanhou caminhando ao meu lado pela trilha que me levaria até o lago.
- Carol, ele também é meu irmão, eu não saio contando as coisas que converso com vocês. Me desculpa! Eu realmente deveria ter te falado.
Não disse mais nada, percebi que allan deixou de me acompanhar e segui firme na direção de um dos meus lugares preferidos naquela fazenda. Onde se via um pôr do sol maravilhoso, refletido na água, alguns patinhos ainda nadavam.
Uma parte de mim sabia que ele estava certo, ele deveria mesmo seguir em frente. Em menos de um mês eu estaria embarcando para o Rio e não tinha o direito de cobrar nada. Mas por que tinha que doer tanto? João é meu, meu??... Era meu. Pensamento egoísta, eu sei. Sentei-me na plataforma de madeira que se estendia sobre a água, e ali acessei todas as lembranças de uma vida toda ao lado daquele rapaz. O coração que era meu, já não me pertencia mais. Eu poderia ouvir nossas gargalhadas enquanto brincávamos na água, nossos passeios a cavalo... Nossos piqueniques, acampamentos no terraço. Tantas lembranças. Um dia, que eu nem sei quando, João deixou de ser meu amigo para ser algo mais, e a partir de agora ele volta a ser apenas um amigo.
Voltei pra casa já havia anoitecido e estranhei ao encontrar nossa mesa lotada. Na sexta feira à noite o pessoal daqui costuma ir para cidade beber em algum barzinho, mas como João estava aqui após muitos dias, decidiram confraternizar em casa mesmo, Minha mãe, tia Tereza e mais algumas mulheres preparavam pizzas de diversos sabores e assim que perceberam minha presença senti o par de vários olhos me observando como se eu fosse alguém diferente.
Eu sabia o motivo daqueles olhares, todos estavam surpresos, como eu, em relação à companhia de Joãozinho. Sentei-me em um lugar vazio ao lado de meu irmão e de frente para João, que estava sozinho. Allan me abraçou pelos ombros depositando um beijo em minha cabeça, bebi um gole de cerveja em seu copo e fiquei prestando atenção na conversa dos rapazes. Eu adorava ouvir as histórias que eles contavam.
Notei através de minha visão periférica que João não tirava os olhos de mim, então o encarei e isso foi suficiente para que ele falasse comigo.
-Seu irmão me contou que mês que vem você se muda.
- Pelo menos alguém por aqui preserva o costume de contar as coisas né João?..
- Isso é uma indireta para mim? - lancei lhe um sorriso amargo de raiva.
- Não costumo mandar indiretas, acho que fui bem clara.
- O que você queria? - João debruçou seu corpo sobre a mesa ficando mais próximo de mim, mantendo o tom de voz baixo. - Queria que eu te esperasse?
-Eu nunca pedi pra você me esperar. - Respondi contendo a vontade de gritar com ele. Que Inferno!
-Esse é o seu problema Carol, eu sempre estive a sua disposição, se você me pedisse pra esperar, eu te esperaria. Quer saber, se você me pedisse pra deixar tudo e ir com você, eu iria. Mas você é muito egoísta e só pensa nos seus sentimentos, nas suas vontades.
Gargalhei alto, mas minha risada não tinha nada de humor. -Eu teria que adivinhar tudo isso? Não sei se você sabe, mas eu não tenho bola de cristal João. Você sempre se colocou contra a minha vontade de ir embora, nunca demonstrou nenhum tipo de apoio.
-Porque eu queria você aqui comigo. - Ele me interrompeu. -Eu queria você do meu lado. Nós dois era tudo que eu mais queria, mas pra você isso nunca bastou.
-E ai você resolveu aparecer aqui acompanhado, você não me disse nada. Nenhum de vocês me disseram nada.
Essa última frase saiu um pouquinho alto demais, e todos na mesa fizeram silêncio. Levantei-me e fui para meu quarto, no caminho ainda encontrei a tal Marcela. A menina parecia uma bonequinha. Pequena, loirinha, toda simpática e delicada. Não dava nem pra sentir raiva dela.
Que ódio disso!!Tomei um banho demorado e depois de muito tempo resolvi descer, todos estavam agora na varanda, um dos meninos tocava violão enquanto os outros cantavam alguma moda sertaneja. Fui até a cozinha, coloquei um pedaço de pizza em um prato e me juntei a eles. Nesse momento os rapazes cantavam em coro o refrão de uma musica sertaneja..
"Tem amores da vida
Que não são pra vida
Nesse caso eu e você
Somos a prova vivaTem começo que o fim
Nem passa na cabeça
Até que um belo dia
Esse dia chegaChega chamando pelo nome
Quem chamou de amor
E a boca que falou te amo
Fala que acabou
E o nosso pra sempre
Infelizmente não vingou"No mesmo momento me lembrei de uma canetada de Marília..
É realmente Marília Mendonça nunca errou quando disse que
Tem coisas na vida
Que a gente não perde
A gente se livra!
_Pensei..[...]
Revirei os olhos e olhei para meu irmão, ele me encarava segurando a risada nos lábios, não aguentei e lhe Joguel a almofada que usava para apoiar o prato. Gargalhamos juntos e todos se entreolharam.
Acredito que a única ali que não entendeu nada foi a Marcela, porque de resto, todos riram (menos o João) comigo ou de mim, não tenho certeza.
Inferno!
[...]
To be continued...
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Com Amor, Carolyna - CAPRI { G!P }
FanficCarolyna que até então, cresceu com sua família em uma grande e renomada fazenda no interior de MG, cercada pelo grande amor de sua família, que algumas vezes eram Superprotetores, no entanto, carregava consigo desde mais nova o desejo de: Conhecer...