RESSONÂNCIA

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No retorno ao segundo distrito, Artturo contemplou a beleza do primeiro. As árvores com flores lilases perfumadas adornavam as ruas, alinhadas nos passeios. Enquanto as flores vermelhas enfeitavam espaços aparentemente inúteis, agora transformados em beleza, os cantos dos pássaros rivalizavam com os sons de panelas e batidas das padarias, em plena produção. O ar puro, perfumado pelas flores, mesclava-se com os aromas dos pães e bolos, despertando barrigas e olfatos ainda adormecidos. Apesar das casas refinadas e ruas pavimentadas do segundo distrito, que trocavam os paralelepípedos ao primeiro sinal de desgaste, ele não rivalizava com a beleza do primeiro distrito e a presença colossal do coliseu no coração dele. Onde grandes eventos, incluindo as seleções para novos soldados da Égide, aconteciam. Artturo sentia-se estranhamente vivo, embora nunca tivesse experimentado o contrário.

Ao cruzar o portão do primeiro distrito, lamentou-se por não ter o próprio cavalo para deslocar-se pela cidade. Andar a pé era exaustivo, especialmente para quem estava de barriga vazia. Precisaria andar alguns minutos até chegar de volta ao restaurante Ostanach. Durante o trajeto, negou a si mesmo qualquer indício de algo além de amizade em sua relação com Breac. "Não é o que estão pensando, não é isso. Somos amigos desde... crianças". Lembrou-se de que Ivy também o conhece desde a infância. Seu raciocínio foi interrompido por uma voz grave que dizia:

"A cada dia que passa, você se torna um homem ainda mais completo, meu garoto!" À sua frente, um homem da raça taurina exibia uma pele bronzeada, evidenciando longas horas de exposição ao sol. Vestia uma farda militar semelhante à da polícia, com a única diferença de não apresentar as partes metálicas. Em sua cabeça, dois chifres curvos para trás emergiam de entre as mechas de cabelo escuro, assim como seus olhos.

— Gorm! - Exclamou Artturo com empolgação.

— Em breve, faremos mais treinos, tudo bem? — Perguntou Gorm.

— Mas este ano já fizemos dois. — falou Artturo com incerteza.

— Dorion vai falar com o próprio Rhys para liberar você por um mês. — disse Gorm, confiante.

— Mas você... o senhor acha que é tempo suficiente? — Artturo corrigiu-se, lembrando-se do ensinamento de seu avô sobre tratar os mais velhos com respeito.

— Você está no ponto, garoto. — Retrucou Gorm. — Você manteve seu físico. Agora, só preciso treinar sua habilidade descontrolada. Alguma novidade?

— Eu a usei novamente faz alguns dias. — Respondeu Artturo, olhando para a mão direita. -Eu estava com raiva na hora, socando um tronco de árvore para treinar um pouco. Quando aumentei a força e a quantidade de energia dos golpes, acabei liberando-a sem querer.

— E o que aconteceu? — Quis saber Gorm, curioso.

— Bom... nada aconteceu na hora. Mas, depois de alguns dias, o local da árvore onde bati começou a apodrecer.

Gorm alisava os poucos pelos que mantinha no queixo de forma inquieta. Pensou consigo mesmo: "Apodrecer... isso não é uma habilidade associada a algum estilo da energia da morte dos necromantes? Mas... Artturo é adepto da energia do fogo, não faz sentido." Até que, finalmente, proferiu:

— E mais alguma novidade?

— Não... — Lamentou Artturo. — Gorm, eu preciso dominar isso. Senão, Dorion não vai permitir que...

— Eu sei, filho. — Interrompeu Gorm. — Eu estou tão preocupado quanto você. Dorion confiou você a mim. Se eu estragar o seu futuro por não fazer o meu trabalho, como poderei me considerar um treinador de adeptos? É verdade que você, até hoje, está sendo meu maior desafio. Mas, durante o próximo mês, iremos conseguir. Ainda mais com essa sua descoberta. Talvez ela tenha ligação com seus sentimentos. Treinaremos isso até você conseguir! — Completou ele com grande convicção.

Arcano's - Paz ArmadaOnde histórias criam vida. Descubra agora