POV' Emma
Com muita dificuldade paro a moto em frente a minha casa. Estou muito bêbeda, nem sei como consegui chegar até aqui bem. Desço da moto cambaleando, meus pés se enrolam e vejo o chão ficando cada vez mais perto como em câmera lenta. Antes que eu possa beijar a grama, uma mão me segura impedindo que o impacto seja tão forte.
Olho pra cima e vejo o motivo da minha embriaguez. Um riso frouxo escapa de mim.
- Você sabe que horas são? Onde estava com a cabeça pra beber desse jeito e voltar pra casa nessa moto?
- Agora tem duas de você...- aperto os olhos tentando enxergar melhor. Bufo e volto a rir. - Eu tô tão ferrada.
- Anda, vou te ajudar a entrar antes que eu me arrependa e te deixe aqui.
Ela me ajuda a caminhar para dentro da minha casa e me joga no sofá, ela parece zangada.
- O que é isso na sua mão? - ela pergunta assustada. Minha mão está um pouco machucada por causa da minha brincadeira de mais cedo com aquele idiota. - E no seu rosto?
Agora ela parece duas vezes mais zangada. Sem dizer mais nada ela sai, olho para o teto, respirando fundo, está tudo rodanado, nunca tinha bebido desse jeito antes. Hoje eu percebi o quanto minha vida é uma merda, rejeitada pelo meus pais, acolhida por um traficante, não posso seguir minhas próprias escolha, a única pessoa que eu amo mal me olha na cara a mais de dez anos. Tudo o que faço é seguir Alyssa pra lá e pra cá e, ela nem me quer por perto.
Ela volta com uma caixa de primeiros socorros na mão. Senta a minha frente e cuida primeiro da minha mão, depois do grande hematoma em meu olho. Esse foi de quando brinquei de luta com Andrea. Ela nunca pega leve, nem de brincadeira.
- Você não tem jeito mesmo, quando vai parar de viver assim?
Isso me faz rir, o que consequentemente faz ela pressionar mais a ferida fazendo o local arder. Ela me perguntar isso é tão irônico. Porque eu não tenho a opção de escolha própria pra parar de viver assim, fui destinada a ela desde os meus quatro anos, sinceramente mesmo depois de estar livre de a proteger, eu ainda não saberia o que fazer.
Observo cada detalhe do seu rosto enquanto ela cuida de mim. Isso é bom, a muito tempo que não temos um momento assim.
Tiro uma mecha de seu rosto, a coloco atrás de sua orelha. Ela para por um segundo, encarando meus olhos de volta. O ar parece pesado, está tão perto assim me faz ignorar a parte do meu cérebro que me manda alertas, tentando me ensinar a forma correta de olhar pra ela. A forma que venho tentando olhá-la desde aquele dia em que ela me beijou. O dia que eu nunca mais consegui tirar da cabeça.
Toco sua bochecha, meus dedos passeiam pelo local com carinho, ela fecha os olhos, nos deixando nessa bolha por uns segundos.
- Eu sinto tanto a sua falta. - sussurro.
Ela abre os olhos, o verde queimando em minha direção. Se ela soubesse o quanto eu a amo ela ainda faria isso comigo? Se soubesse o que representa para o meu mundo, ela ainda me trataria dessa forma?
Parecendo voltar a realidade, ela se afasta, tira minha mão do seu rosto e tenta se levantar. Antes que se afaste, puxo sua mão a trazendo de volta, isso faz ela cair por cima de mim, sentada em meu colo.
- Por que você faz isso comigo, Aly? - sei que ela conseguiu sentir a dor em minha voz embargada. A bebida não me faz raciocinar, apenas quero dizer a ela o que estou sentindo. - Você não ver o quanto isso tudo me machuca?
Lágrimas quentes escorrem em meu rosto, ela não diz nada, mas sei pelos seus olhos que ela sofre tanto quanto eu. Encosto minha cabeça em seu ombro, enquanto as lágrimas não cessam e ela me deixa ficar assim até que eu me sinta melhor.
Não sei em que momento ela me trouxe pra cama, ou como conseguiu fazer isso, mas acordo com o sol quase nascendo. Passo a mão em meu rosto tentando acordar melhor, sem consegui continuar na cama, levanto sem um motivo específico. Ando pelo corredor, mas meus pés param em frente a porta do quarto de hóspedes que está aberta. Alyssa dorme tranquilamente enrolada, ela parece com frio apesar do grande lençol que a cobre.
Sem pensar muito, entro no quarto, logo em seguida, embaixo de sua coberta também. Passo meu braço por sua cintura e a abraço de conchinha. Ela se mexe um pouco mas não acorda, apenas se aconchega mais em mim. Encosto meu nariz em sua cabeleira, e inalo seu cheiro de bebê que conheço tão bem. Cheiro da minha bebê.
Alyssa tem o mesmo cheiro desde quando a conheço, claro que foi mudando um pouco, mas sempre que estou muito perto dela, seu cheiro me lembra de quando ela ainda era um bebê.
Rio fracamente pelos meus pensamentos. Se ela souber que acho seu cheiro ainda de um bebê, ela me chutaria e faria a mesma cara de brava que a faz parecer ainda mais com um.
Aperto mais ela contra mim e fecho meus olhos, em instantes já estou dormindo outra vez.
Quando acordo novamente estou sozinha, me sinto frustrada por ter sido deixada aqui sozinha sem nem perceber quando ela acordou. Suspiro pesadamente. Afundo meu rosto no travesseiro dela e me permito sonhar mais um pouco que ela ainda está aqui.
Depois de um longo tempo, passo pela porta da casa que passo mais tempo do que a minha própria.
- Filha! Desde ontem que não te vejo. - Clara vem me abraçar assim que me vê.
Me permito ficar no seu abraço por tempo o suficiente para me sentir melhor. Mesmo sabendo que ela não é minha mãe, apesar de me tratar, e chamar de filha, ela é a pessoa depois de Alyssa que me faz sentir bem, e posso dizer que a única que faz eu me sentir que realmente sou amada, Alyssa costumava me fazer sentir assim também, mas nos últimos tempos a única coisa que ela mostra sentir por mim é desprezo.
Eu estou errada quando digo que Alyssa é a única pessoa que eu amo. Clara com certeza deve se encaixar nesse rótulo também.
- E o que foi isso no seu rosto? Andou brigando de novo?
- Não foi nada demais, só um mal entendido.
- Não sei o que faço com você. - ela balança a cabeça em negação e sai andando até a cozinha.
Procuro Alyssa com meus olhos, a procuro por todo lugar até a encontrar no jardim dos fundos, sentada na grama enquanto lê um livro qualquer.
Vou até ela e, sem dizer nada me jogo ao seu lado, me deito colocando a cabeça em seu colo. Olho pra ela com um sorriso, mas ela não me recebe da mesma forma, seu olhar é assustador.
- Por que não me acordou?
- Não sou sua empregada. - ela volta a ler o livro, mas sei que está apenas fingindo porque seus olhos estão parado em um mesmo parágrafo.
- Seu humor pela manhã é contagiante sabia? - puxo o livro de sua mão e finjo está interessada nele.
Ela bufa pesadamente e me empurra, me fazendo tombar para o lado, se levanta e sai andando pisando duro.
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Te Sigo, Baby
Romansa+18 As vezes eu paro para refletir sobre o tempo. É algo que está a nossa volta mas não sentimos, não vemos, ele apenas passa por nós e quando nos damos contas já estamos mais velhos e com novos pensamentos, novas perspectivas e novos desejos. As pe...