Aquela que tentou a primeira vez

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Eliza entrou quase que sem fazer nenhum barulho no quarto em que o recém-nascido estava acamado e seus olhos foram até onde Jimmy estava, ele tinha sua cabeça encostada na cabeceira da cama, parecia até mesmo uma expressão desolada o que fez a vampira grisalha se sentir mal por ele.

Naquela fase pós transformações era tudo estranho, tudo confuso, ele estava começando a se adaptar a um novo arranjo familiar já que havia sido adotado e praticamente só tinha Eliza. Esse pensamento fez a mulher soltar um suspiro antes de fechar a porta e caminhar até ele.

- Oi... - ela o cumprimentou um pouco insegura e o viu abrir aqueles profundos olhos verdes para fita-la.

- E aí? - ele disse, certamente uma forma dos jovens contemporâneos de falar com alguém. - Lewis te deu uma bronca?

Eliza quis sorrir. A pergunta havia sido inocente, mas era divertido pensar que realmente Lewis havia dado uma bronca nela. Sutil, mas ainda uma bronca.

- Podemos dizer que sim. - Eliza encolheu os ombros. - E podemos dizer também que eu mereci.

- Um mordomo pode fazer isso? - Jimmy quis saber curioso. - Quero dizer, é que ele é tipo que seu empregado né?

- Jimmy, Lewis é mais do que apenas meu mordomo. Ele é um grande amigo meu. - a vampira caminhou com calma até ficar ao lado do vampirinho que franziu o rosto. - E ele se importa bastante comigo, então eu entendo quando ele precisa me falar algo que mais ninguém teria coragem de falar.

- Porque você pode arrancar a coluna de qualquer um que te falar alguma merda.  - Jimmy sorriu de canto de boca mas aquele comentário expressando totalmente a visão dele sobre violência a pegou desprevenida. - Nossa, deve ser muito irado ser literalmente o topo da cadeia alimentar.

- Eu nunca havia pensado por esse lado. - Eliza cruzou os braços com as sobrancelhas franzidas e ouviu o garoto estalar a língua como se fosse algo extremamente óbvio.

- Ah, qual é! Você é uma vampira que pode andar no sol, você pode literalmente fazer tudo o que quiser e na hora que quiser, você tem poder para isso.

- Não é bem assim, Jimmy... - Eliza se virou para sentar ao lado dele um pouco mais na beirada da cama. - Sim, eu sou uma vampira que anda no sol sem se queimar mas isso não significa que eu posso expor a nossa existência tão levianamente. Algumas regras existem e até mesmo eu tenho que segui-las.

- Mas que graça isso tem? - ele quis saber genuinamente. - Se somos vampiros e se somos fortes, devíamos, sei lá, mostrar que existimos e que se mexerem com a gente estarão muito fodidos.

Era quase impossível contar o tanto de palavrões que ela já tinha ouvido sair daquela boca, talvez fosse a questão da época, claro, uma vampira como ela mal falava um palavrão se quer e as vezes ainda eram as ofensas pré-renascença que em 2017 não fariam tanto efeito.

- Não somos completamente desconhecidos pelos humanos, já que há séculos eles treinam caçadores para tentarem nos tirar do caminho. - Eliza explicou pousando suas mãos sobre seus joelhos. - Você teve sorte de se deparar com caçadoras tão novas, se fosse qualquer outro caçador mais experiente ele não teria pensado duas vezes antes de te matar...

- Aquela loira disse que ia cortar minha cabeça. - Jimmy se lembrou do momento de pânico ao sentir a mão da caçadora segurando seus cabelos com força.

- Eu sinto muito que você tenha passado por isso sendo tão novo. Eu deveria ter prestado mais atenção. - a grisalha se desculpou porque realmente sentia que deveria pedir desculpas a ele, Jimmy estava em sua casa com documentos registrando ela como sua mãe e mesmo assim, ela não percebeu que ele havia saído.

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