V: Distrito 11

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POV Jungkook:

Lívido de raiva, observo Falco finalizar o que ele insiste em chamar de "contorno marrom" em minhas bochechas. Meus punhos se cerram com força enquanto a fúria me consume. Acabado de ter uma longa e acalorada discussão, onde ele me obrigou a tirar e refazer minha maquiagem cinco ou seis vezes até que finalmente se sentisse satisfeito. Meus lábios tremeram de indignação enquanto eu o confrontei por seu perfeccionismo insuportável. "Isso tudo não importa!", gritei. "Em três semanas estarei morto, e tudo isso é apenas uma farsa ridícula nessa Capital hipócrita!"

Falco, com sua arrogância típica, retrucou com um tom de desprezo: "Você não pode subir no palco parecendo que acabou de sair de uma mina de carvão do Distrito 12." Aquilo me fez perder o controle.

Como ele ousa usar a miséria do meu distrito para me ofender? Ele, que jamais precisou se preocupar em alimentar sua família, nem sequer imagina o desespero e a luta pela sobrevivência que engolem o Distrito 12. Lágrimas de raiva brotam em meus olhos enquanto eu o encaro, tomado por uma onda de revolta.

— O que é? - pergunto rispidamente olhando no fundo dos olhos pretos iguais aos meus, mas menores.

— Acho que nunca tive um tributo tão bonito e infeliz como você. - ele diz, abrindo um sorriso e me observando de cima abaixo como se eu fosse um quadro que acabou de pintar durante uma crise de choro. - É triste.

— Você realmente quer falar sobre o que é triste?!

— Claro, porque você mesmo não fala pro Caesar na frente de toda Panem e perde seus possíveis patrocinadores? - seu tom debochado faz meu coração acelerar de tanta raiva.

Ele não é como os outros maquiadores da Capital. Não se veste de forma extravagante, nem aplaude freneticamente cada propaganda dos Jogos Vorazes na TV. Falco prefere me atormentar, me provocar até o limite, como se estivesse testando minha resistência.

Será que ele quer me ver explodir em público, me humilhar e me levar à prisão antes mesmo que eu pise na arena? A cada sorriso sádico e toque provocativo, sinto que ele está cada vez mais perto de conseguir seu objetivo.

Preciso me controlar, respirar fundo e manter a calma. Não posso deixar que ele me domine, não agora, não quando os Jogos estão tão próximos. Meus punhos estão fechados.

— Vá em frente, pode me bater. - ele diz, dando de ombros e analisando meus punhos. - Acho que você precisa descontar toda essa raiva em alguém de qualquer forma, mas eu estou tentando te deixar apresentável. Um pouco de gratidão não vai te matar.

— Gratidão? - eu repito enquanto dou uma risada fria. - Eu não tenho nada a te agradecer.

— Oh, meu Deus! - diz Teresa aparecendo ao meu lado. Estamos nos bastidores do palco onde a entrevista vai começar, outros tributos também estão concluindo suas maquiagens e roupas. Teresa, pela primeira vez desde que a conheço, é definitivamente atraente enquanto usa maquiagens escuras e tem o corpo ganhando mais forma devido à comida em excesso que nos oferecem. Seu rosto está todo iluminado ao me encarar de volta. - Jungkook, nosso distrito vai ficar tão feliz em te ver assim.

— Assim? - pergunto, controlando o tom da minha voz irritadiça por causa de Falco. - Porque ficariam felizes?

— Você se olhou no espelho? Está lindo!

Minhas bochechas latejam com ardor, como se estivessem em chamas. O calor do contorno se intensifica, me fazendo sentir como se estivesse corando de dentro para fora. Um turbilhão de emoções se agita dentro de mim, como um suco cítrico que me faz sentir tonta e enjoada. Quero bater em Falco, puni-lo por sua crueldade, mas ao mesmo tempo sinto um desejo imenso de agradecer Teresa por sua gentileza e apoio. Meus punhos estão quase explodindo com vontade de acertá-lo, mas logo é substituído por uma onda de gratidão pela gentileza de Teresa. Com a voz embargada, murmuro algo como "Você também... obrigado."

Jogos Vorazes: O Sino [JIKOOK]Onde histórias criam vida. Descubra agora