Transição

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Bom, a semana passou lenta e dolorosamente. Eu apaguei sem ler todas as mensagens que eu havia recebido do Gabriel e eu estava bem, na medida do possível.
Certa tarde, eu e Luísa resolvemos ir até o Ibirapuera. É um parque aqui de São Paulo, um pouco longe para nós que moramos na zona norte, mas muito bonito e aconchegante. Nossas férias de julho estavam acabando e procuramos aproveitar o máximo delas. Estávamos andando, procurando algum lugar para sentar, até que chegamos perto de uma reunião. Umas 40 pessoas reunidas, conversando entre si. Os organizadores estavam com uma camiseta azul, com o logotipo global line. Eles entregavam panfletos e falavam de alguma seleção de viagens e eu automaticamente me interessei. Olhei para Luísa que estava ajeitando a toalha no chão
-Lu, não saia daqui, eu já volto.
Ela assentiu.

Eu andei até onde as pessoas estavam, deixando o lado curioso me levar a saber o que era tudo aquilo. Uma mulher veio até mim.
-olá, você gostaria de fazer um intercâmbio? - perguntou-me.
- intercâmbio? Essa reunião é para isso?
-Sim - ela sorriu e continuou - Estamos aqui hoje para espalhar a cultura no intercâmbio. Teremos uma seleção de candidatos e os 22 que passarem primeiro, poderão escolher entre 4 países para viajar por três meses, com tudo pago. Esse projeto é patrocinado por uma empresa, e o intuito é promover o conhecimento das línguas e conhecer novas pessoas. E então, quer se inscrever?
Olhei em volta e haviam muitas pessoas apoiadas em pranchetas, provavelmente se inscrevendo.
- qual o critério dessa seleção? - perguntei.
- bom, primeiramente interesse. Mas preferimos pessoas jovens, com vontade de ter experiências novas. Nós fazemos as fichas dos candidatos e depois escolhemos baseados em suas respostas.
-ok. Então vou me inscrever. - o que? Mesmo emily? Sim cérebro, colabore.

Ela fez uma série de questões sobre mim, minha vida, meus planos para o futuro,entre outras coisas. Terminado isso, eu voltei para onde a Luísa estava.

- Era uma seleção de intercâmbio e eu meio que me inscrevi. - disse, me sentando ao seu lado.
Ela olhou pra mim, incrédula.
- você ficou louca? Emily, como você simplesmente se inscreve pra um intercâmbio? Seus pais não sabem disso. O que eles vão dizer? E eu? - ela continuou.
- Lu, são apenas 3 meses. E também, qual a minha chance de ser escolhida? E outra, você já vai viajar no fim do ano. Não estressa.- deitei-me na toalha.
-Emy, se isso tudo for por culpa do Gabriel e...
- pode parar. São meus últimos dias de férias. Eu não quero desperdiçar falando nele.
- ok, então. Estressadinha.

Eu sorri. A Lu era como uma irmã, nós estávamos sempre juntas, e nos entendíamos sem problemas.
- quer tomar sorvete? - eu perguntei sorrindo.
Ela me deu um tapa
- você quer que eu engorde e exploda não é mesmo? Aí você vai trancar meus restos numa caixinha e sair para pegar todos os meninos, depois vai dominar o mundo com esse seu cabelo vermelho.
Eu a olhei e não aguentei. Caí na gargalhada e logo depois, ela também estava rindo.
- você é ridícula. Eu vou comprar sorvete. - levantei, arrumei meu shorts e sai andando.
- CHOCOLATE EMILY!!! - ela gritou.

Eu ri de novo, comprei dois sorvetes de chocolate e voltei para a Luísa.
Nós tomamos rindo e passamos o resto da tarde conversando. Sem maiores dificuldades.

Meus últimos dias foram tranquilos. Eu fiquei em casa, jogada debaixo da minha coberta, assistindo séries no Netflix. E ouvindo o meu irmão gritar com os amigos dele por culpa de um jogo online. A Lu e o pai dela foram viajar e ela só voltaria no início das aulas. Não, a Lu não estuda comigo. Ela estuda em Guarulhos e isso é uma droga. Tenho amigas no colégio e nos falamos as férias todas pelo WhatsApp, mas não saímos. Eu já estava com saudades.

A bendita segunda-feira pós-férias chegou e com ela trouxe o desânimo, o sono e a vontade de morrer. Fui me arrastando para a aula, junto com o meu irmão, também se arrastando ao meu lado. Nós temos uma diferença de 4 anos, e brigamos na maioria das vezes que estamos juntos. Mas não hoje. Hoje compartilhamos da mesma vontade de querer que o mundo acabe num barranco, pra gente poder morrer deitado.
- eu acho que esqueci meu celular. Vamos voltar - ele me disse.
- João, você não usa o celular.
- Eu sei, é uma desculpa ótima. Vamos voltar. - ele fez cara de choro.
-Babaca.

Pegamos o ônibus e continuamos o caminho.

Amanhã Não Se SabeOnde histórias criam vida. Descubra agora