Capítulo Único

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- Sexo é nojento! - afirmei com convicção, virando o copo colorido do drink Texas Tea e torcendo o nariz assim que o líquido desceu rasgando na minha garganta. Esqueci-me completamente do assunto quando meus olhos lacrimejaram. - O que tem nisso, afinal?

O jovem sedutor que servia as bebidas me lançou um meio-sorriso e se inclinou no balcão, os olhos verdes brilhando em diversão enquanto as ondas loiras caiam sobre o rosto emoldurado.

- Duas doses de Tequila. Duas doses de Rum. Três doses de Vodca. Uma de Gin. Um tantinho de Whisky Bourbon. Triple Sec para amargurar. - sussurrou, esforçando-se no inglês, e ficou ainda mais perto - Finalmente, Sweet and Sour mix e Coca-Cola.

Eu e Kate estávamos na inauguração da boate Pluxe em Veneza. Eu sabia que a ideia era ridícula assim que ela lançou o convite, porém a minha prima insistia que precisávamos aproveitar o calor da Itália já que agora morávamos aqui.

Eu discordava. Achava a cidade romântica e quente demais em comparação ao meu humor gélido. Acredite em mim: Sair de Juneau, Alasca, e se mudar para Veneza era uma mudança bem drástica.

- Eu já disse que você não conheceu o homem certo. - defendeu Kate, ignorando o cara que tentava nos seduzir desde que chegamos, bebericando despreocupadamente seu uísque duplo com gelo. - Como pode achar nojento, Laureen?

Havia surgido uma proposta de trabalho irrecusável em Veneza. Eu, com o sangue de documentarista correndo nas minhas veias e a ansiedade de preparar o meu primeiro projeto com seriedade, não podia perder a história da senhora Consuelo. Trazer para as telas sua experiência de vida e todas as repercussões por ter lutado pelo feminismo na década de 1960... Fala sério! Um diamante nas mãos.

Para ser honesta, eu jamais pensei que conseguiria me comunicar com ela, pois não havia nada de interessante no meu currículo e sequer experiência. Caramba, eu morava no Alasca! Mas, após dois meses de envio, o contato respondeu meu e-mail dizendo que ela estava apta a finalmente abrir sua opinião para o mundo.

Juro, senti meu coração acelerar e a oportunidade brilhar na frente dos meus olhos.

Kate, minha parceira oficial para todas as horas, não pensou duas vezes. Pediu transferência da multinacional que trabalhava e, graças a Deus possuía filial em Veneza. Quando descobrimos, em um piscar de olhos pegou as malas e veio comigo. Viajamos após um mês de preparativos e agora, duas semanas na Itália, ela parecia apaixonada e isso refletia em seu humor hiperativo.

Para se ter uma ideia, a vadia conseguiu me arrastar para uma festa.

Segundo ela, seu objetivo era eu ver com meus próprios olhos como os italianos eram maravilhosos... Blábláblá. Agora estávamos discutindo sobre sexo e sobre o quanto eu achava aquela a mentira mais deslavada do universo. Verdade seja dita: Sexo só é gostoso nos filmes, cinema e livros de romance.

Tentei voltar para a pergunta da Kate, sentindo que dois goles daquele drink já haviam sido suficientes para o meu sangue ferver. O gosto já não estava tão forte quando cheguei à metade do copo.

- Tem beijo molhado e suor... Tudo junto. Homem babando no meu pescoço e aquela coisa estranha me tocando e me deixando arrepiada. Parece bom no começo, mas depois fica muito molhado, sujo e, sei lá, vai ver tenho TOC. Não consigo gozar quando fico pensando no quanto aquilo tudo é bizarro.

Kate começou a gargalhar e o rapaz do balcão, nada discreto, abriu um sorriso.

- Você definitivamente não conheceu um cara legal para transar.

- Está se oferecendo? - Kate jogou, medindo-o de cima abaixo.

O rapaz tinha aquela pinta de garoto surfista e parecia mais novo que nós duas, embora talvez só fosse seu rosto delicado demais. Ele não fazia meu tipo e Kate estava irritada com a maneira descontrolada que ele se inclinava sobre nós duas.

Querido DesconhecidoOnde histórias criam vida. Descubra agora