Boruto
Vazio.
Escuro.
É assim que o meu mundo se encontra desde o dia em que meu pai faleceu.
Era um dia normal na vida da minha família. Meu pai estava fazendo uma viagem a trabalho quando tudo aconteceu.
Era a noite, mais ou menos 22:00.
Faltavam apenas 5 km para meu pai chegar no destino dele quando um motorista de um caminhão perdeu o controle e causou um acidente batendo em um carro, o carro do meu pai.
Poucos minutos antes dele falecer, ele tinha feito uma ligação pra mim, que eu não atendi, estava um pouco ocupado na hora. Mas ele deixou um recado.
- Boruto, eu estou quase chegando, faltam só cinco quilômetros, não vou demorar muito, mas sabe...estou com um pressentimento ruim, está chovendo bastante aqui, e eu sinto que não vou chegar na cidade, é como se...eu tivesse prevendo alguma coisa. Eu espero que eu esteja errado. Estou abastecendo o carro, então não se preocupe, não estou mechendo no celular enquanto dirijo. Mas enfim, se acontecer alguma coisa comigo, espero que você saiba que eu te amo, tá bom? Sei que não sou muito de falar isso, mas espero que você nunca se esqueça disso, sou muito grato por ter você, sua mãe, sua irmã e o seu irmão, vocês são o meu porto seguro...tudo que eu tenho... - ele ficou em silêncio por alguns minutos - Vou voltar pra estrada, espero que não aconteça nada comigo, se cuida.
Ele deixou essa mensagem exatamente 8 minutos antes de falecer.
Uns dias antes do acidente, nós tínhamos brigado, minha alma dói todos os dias por não ter atendido a ligação, talvez se eu tivesse enrolado ele na chamada, não teria acontecido aquele acidente.
Meu coração dói ao me lembrar que eu não tive a chance de pedir desculpas, meu peito dói, tudo em mim dói.
Eu me sinto culpado, por não ter atendido, por não ter tido a chance de dizer o quanto eu o amava.
Porque no momento em que ele me ligou, transar com aquela menina parecia ser mais importante do que atender meu pai.
....
Desde o dia em que ele faleceu, minha mãe se afastou da gente, ela se fechou totalmente. Com a Himawari não foi diferente, todo o brilho que ela tinha em seus olhos sumiram, ela não é mais a mesma menina.
Kawaki foi embora de casa logo depois, ele ainda manda notícias, mas nao é a mesma coisa que ter ele aqui presente.
E comigo foi a mesma coisa, não sou mais quem eu era um ano atrás. Eu nunca parava em casa nos finais de semana, estava sempre em festas com meus amigos, sempre chegando em casa ao amanhecer. Mas desde o ocorrido, eu perdi totalmente o ânimo pra essas coisas, a única coisa que eu fazia, era me culpar, e acho que ainda faço.
Somos três estranhos dentro de casa, almoços em silêncio, nunca conversamos com mais de duas frases, acho que nunca mais vamos ser o mesmos depois de tudo isso.
Hoje faz um ano que perdemos ele.
Fui no cemitéro junto com minha mãe e minha irmã. O caminho até lá foi um silêncio total, que só acabou pelo choro da minha mãe e o da Himawari. Eu nunca gostei de chorar na frente delas, fiz o máximo para que isso não acontecesse.
Deixamos flores, e elas andavam pra ir embora.
- Não vem? - foi a primeira vez que ouvi a voz da minha mãe essa semana.
- Vou voltar andando, podem ir - respondi sem tirar os olhos do túmulo.
Minha mãe não questionou, e elas seguiram seu caminho.
Me sentei na grama na frente do túmulo e encarava as letras que formavam o nome dele na lápide de mármore branco.
Não consigo me acostumar com o fato de que ele faleceu, as vezes parece ser um sonho, um sonho incrivelmente ruim.
O acidente do meu pai foi horrível, eu ainda me lembro do dia em que tivemos que reconhecer o corpo dele. O acidente foi feio, ele ficou muito machucado, e eu não consigo esquecer dos ferimentos no rosto dele. Todos os dias eu acordo assustado por sonhar com isso no meio da noite.
O choro estava preso em minha garganta, ameaçando sair. Dessa vez eu não consegui segurar, e as lágrimas desceram dos meus olhos.
- Eu sinto muito - foi a única coisa que eu consegui dizer naquele momento.
......
Acordei na manhã seguinte meia hora antes do despertador, eu já deveria ter me acostumado com isso, nunca consigo dormir mesmo.
Tomei um banho quente e vesti minha roupa, uma blusa moletom e uma calça do mesmo estilo, era inverno, estava frio.
Me encarei no espelho enquanto arrumava o meu cabelo.
A blusa preta com detalhes em vermelho que o meu pai tinha me dado no meu aniversário de 16 anos. Eu me lembro desse dia, foi o melhor aniversário que eu já tive, tudo graças ao meu pai, que fez de tudo para ser perfeito.
Respirei fundo e saí do meu quarto.
Ao caminho da cozinha, passei pelo quarto da minha mãe, a porta estava entreaberta, conseguia vê-la lá dentro.
Ela estava abraçando uma camisa do meu pai. Estava chorando.
Não consegui entrar no quarto e consolá-la, não consegui me mover nem um centímetro pra poder ajudá-la de alguma forma, meu coração doía ao ver isso, mas eu não sei o que fazer.
Fui até a cozinha e me sentei ao redor da mesa para tomar meu café da manhã.
Apesar de sermos uma família de estranhos, minha mãe ainda faz questão de fazer o café da manhã sempre antes de acordarmos.
Himawari apareceu segundos depois e sussurrou um "bom dia" sem ânimo. Respondi da mesma forma.
Ela comeu pouco dessa vez, isso me deixou confuso. Himawari come pouco, mas não tão pouco assim.
Mas decidi não perguntar nada, sei que ela não responderia.
Ela terminou primeiro e virou para a pia para lavar a vasilha do cereal.
- Quando terminar, lava o que você sujou, pra ajudar a mamãe - ela disse saindo da cozinha, sem ao menos me dar tempo de responder.
Terminei meu café da manhã e lavei a minha vasilha. Enquanto fazia isso eu comecei a refletir sobre tudo o que está acontecendo.
Essas conversas curtas com a minha família, a solidão que eu venho vivenciando desde o dia em que meu pai se foi, o olhar triste da minha mãe e o vazio da Himawari, tudo isso é demais pra mim.
Eu só queria que voltássemos a ser o que éramos, queria que elas voltassem a serem felizes, mas sei que não posso cobrar isso delas, afinal, nem eu sei mais o que é ser feliz.
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Laços inquebráveis - Borusara.
RomansaA vida não tem sido muito gentil comigo, e a prova disso foi a morte do meu pai. Durante uma viagem, ele sofreu um acidente de carro que acabou com sua vida. É realmente uma tragédia. Tudo tem piorado depois disso. E como se a minha vida já não esti...