Esse loiro só pode estar de tiração com a minha cara.
— Você que vem comer gordura trans em pleno Natal e eu que sou miserável? — falei, com uma careta estampada no rosto. Ele contraiu a testa, descansando as mãos na cintura.
— Fica quieto, seu... seu.... seu olhinho de jabuticaba gaseificado! — ele deu uma batida no balcão, fazendo o som ecoar pelo recinto vazio. Meus olhos se arregalaram e eu senti vontade de atacá-lo e o cortar em pedacinhos. O que merda ele tinha na cabeça?
Muito álcool.
— Quem você acha que é, seu mané? Se liga, seu esquisito! Eu vou arrancar sua alma e fazer você engolir ela de volta! — avancei no balcão, como se pudesse puxá-lo ali na posição que estava. Ele choramingou algo, parecendo dizer que tinha família e que não queria ficar na chuva. Se distanciou mais de mim, cobriu uma das próprias orelhas e com a mão livre bateu na minha, a que tentava o atacar. — Eu vou te comer vivo!
— Para, cuzão! Eu só queria um cheeseburger! — lamuriou mais alto. Seus prováveis amigos sumiram. Eu não consideraria mais essas pessoas como amigos, o garoto tava todo borocoxô e eles fogem assim.
Pera aí, cuzão? Não sei nem por qual motivo estou sentindo pena desse cara! Ele só me xinga!
— Qual é seu nome, moleque do cheeseburger?
— Meu cheeseburger primeiro, resposta depois. — a boca carnuda parecia recitar as palavras como um poema. Por que estou encarando a boca dele? Acorda, Jungkook!
Minha bunda que eu daria um lanche pra esse Zé mané. É óbvio que ele não tem grana. Meu turno, minhas regras.
— Cheeseburger. — me acordou dos pensamentos. Digamos que eu me distraia fácil.
— Sem cheeseburger, amigo. Se liga.
— Vinte pratas pelo cheeseburger.
— Vinte pratas pelo cheeseburger? Colega, ele custa vinte e cinco! Você não sabe ler?! Tem vários preços aqui, em cima da minha cabeça. — apontei pro painel atrás de mim.
Ah, mas ele tava bêbado. Bom, what a shame.
— Vinte pratas e um boquete?
— Moleque, cala sua boca. Me lembre de aparecer debaixo da sua cama amanhã e pedir pra que você nunca mais tome nada alcoólico na sua vida. Imagina se eu fosse um cara mau? Você estaria ferrado. — giro meus olhos em suas respectivas orbes. — Senta lá na mesa, vou te dar algo pra comer.
Só eu estava trabalhando, até porque é quase Natal. Ou seja, se viesse alguma alma viva aqui hoje, eu mesmo teria de fazer o pedido dessa alma viva. Ah, mas e se roubassem o caraio do caixa? Vai se foder, siga o roteiro.
Entrei na cozinha e acompanhei o garoto sentar na mesa com o olhar. Literalmente na mesa. Porra, eu não ganho pra isso. Dei um suspiro longo, mas sorri logo em seguida. Ele é bonitinho. Que bom que não encontrou alguém ruim, senão ele iria pro saco, fica muito estiradinho quando bêbado.
Pensei na Julieta e no Romeu, que estariam me esperando em casa. São dois cachorros bobinhos, feito eu.
Consegui fazer um suco com as laranjas menos capengas e peguei minha marmita, que preparei mais cedo. Kimbap e gyoza de carne que eu inventei de fazer. Culpa da lombriga que me deu mais cedo.
Voltei para a recepção, passando pela portinha ao lado do balcão e indo até a mesa que ele estava sentado.
— Sai da mesa. Disse pra você sentar na cadeira, não na mesa.
— Pareceu bem claro pra mim, você disse "sente na mesa". — e ele continuou na mesa. Coloquei o pratinho nela, junto com o suco de laranja.
— Senta na cadeira ou te faço passar fome.
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McDonald's Natalino
FanfictionO Natal chegou de novo. Presente pra cá, presente pra lá, mas eu nunca gostei dessa data. Tanto que na véspera desse feriado, estou cobrindo o plantão de uma amiga que saiu para festejar com os amigos. Aqui, no fast food que odeio. Ótimo, acabei de...