Chapter 484 Ferido em tantos sentidos, o resgate feito por duas espadas

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Arco final Capítulo 484 Ferido em tantos sentidos, o resgate feito por duas espadas

Primeiro de junho

Mesmo lugar – Província de Anhui

Abriu os olhos... Lentamente.

E logo ouviu um cochicho que pareceu agudo em sua cabeça que despertava.

— O Daozhang acordou... Ele abriu os olhos.

Reconheceu a voz de Tang Shi, tentou se mover e sentiu o traço da dor irradiar de pontos distintos.

Mas... Com quem o garoto fantasma estava falando? Não... Não tinha sido um maldito sonho, nem chegou a se iludir.

— Mestre, não se mova.

Primeiro encarou o teto do aposento feito em madeira escura, Jun Wu respirou fundo e suas costas gritaram silenciosamente.

Em seguida procurou por Fang Xin, em sua forma humana, meramente movendo a cabeça.

— O quanto eu fiquei desacordado? — Jun Wu perguntou com a voz gelada.

— Um dia e meio, Mestre... Tem uma lesão em seu ombro, talvez um osso fraturado, outros ferimentos menores... Sua melhora tem sido lenta.

Jun Wu suspirou, piscando lentamente.

Tang Shi estava agachado no chão, apoiado na beira da cama, mas ele não ousava incomodar.

O garoto apenas queria ver de perto que o Daozhang estava bem... À medida do impossível.

— Suponho... Que foi Fang Xin que me resgatou da queda da varanda.

— Eu não estava sozinho, Mestre... Precisei da inestimada ajuda de Huang Ho, sua queda ocorreu num trecho bem difícil, o resgate exigiu um esforço a mais.

Fang Xin, que se pronunciava tão seriamente, lançou um olhar ao outro lado do quarto e Jun Wu soube que a forma humana da espada de Huan Shui também o observava no aposento.

Podia sentir, principalmente agora, que os olhos verdes de Huang Ho o buscavam ansiosamente, inquieto em seu silêncio frustrado.

Jun Wu mirou-se nele de soslaio.

— Eu... Procurei o Mestre Shui. — Huang Ho tinha um tom estritamente fiel. — Por rio e por terra, mas não há o menor sinal dele...

A forma humana da espada trajando azul escuro, botas pretas fez uma reverência, baixando a cabeça num tom humilde.

A franja negra cobrindo metade de seu rosto feito um eclipse.

— Sinto muito, Honorável Mestre de Fang Xin.

Jun Wu se concentrou intensamente, regulando a respiração e forçou-se a sentar na cama, a dor em seu ombro ainda o deixava tonto, se o mana em seu corpo era insuficiente para uma cura rápida, provavelmente tinha quebrado os ossos em mais de um lugar, ou tinha sofrido múltiplas fraturas.

— Não adianta procurar A-Shui. — Ele replicou para todos os presentes, tocando o ombro lesionado devagar, um lamento contínuo em sua voz. — Recordo bem, quando ele caiu da varanda, seu corpo não colidiu com a água ou com a terra... Alguém agiu rápido e se estou desacordado a um dia e meio, Bai Wu Xiang deve estar longe de Anhui e em algum lugar improvável.

Essa era apenas a razão sistemática de Jun Wu analisando o pior da situação, contudo, por dentro ele não conseguia manter uma frieza tão consistente.

Naquele aposento estava o erhu, o alforge de Huan Shui, os medicamentos e poções que ele andava tomando, outros pertences pessoais dele.

A ausência de seu marido, causava um peso esmagador a sua existência.

Embora estivesse trajando roupas limpas, mexeu em sua manga e ao menos ficou satisfeito em encontrar o dragão esculpido em água marinha.

O problema era que a borboleta de turmalina estava pendurada na mão do instrumento, amarrada no erhu como um pingente delicado... Naquele quarto, não em poder de seu dono.

Seu meio de se comunicar com Huan Shui era o mesmo que nada e Jun Wu apertou o dragão entre os dedos, fechando os olhos enquanto pensava e planejava seu próximo passo.

Não importava como, iria resolver essa situação.

Absolutamente quieto, virou seu corpo e empurrou a colcha que cobria seu corpo de lado e Tang Shi fixou em sua figura um olhar tão preocupado, que Jun Wu tocou-lhe o topo da cabeça com leveza paterna.

— Tang Shi, preciso que fique aqui e cuide dos cavalos para mim... Huang Ho ficará com você e quanto a Fang Xin...

O garoto fantasma assentiu apertando um lábio no outro e a forma humanizada da espada de jade negro fitou o deus menor, os braços fortes cruzados no tórax, o rosto anguloso compenetrado:

— Sim, diga... Mestre.

— Preciso que volte a forma de espada, você vai comigo até o oeste... A Montanha Zhen Yan.

Fang Xin pareceu discordar da ideia, unindo as sobrancelhas em desaprovação e Jun Wu mais que depressa estreitou o olhar negro e frio em sua direção:

— Vai se atrever a objetar?

— O Mestre deveria considerar repousar mais um dia, vai gastar muita energia espiritual para abrir uma matriz até Zhen Yan.

Contrariando a lógica de que essa energia faria falta para o processo de cura, Jun Wu se esforçou para ficar de pé e parecer inabalável, convertendo cada pequena dor num sorriso sereno convincente.

— Meu ombro pode receber cuidados que acelerem a cura em Zhen Yan, não podemos perder tempo... Fang Xin. Sei que gosta de ficar em sua aparência humana, mas esse capricho terá que esperar.

Antes que Fang Xin pudesse responder ou refutar, Tang Shi segurou na mão de Jun Wu e a puxou de levinho.

— Daozhang Jun... Não vá embora assim, vamos comer juntos um desjejum de despedida. Tio Fang Xin comprou bolinhos e eu fiz o macarrão que o Yifu Shui me ensinou.

Quase que Jun Wu se negou, mas ao invés disso, ele fuzilou Fang Xin com o olhar por ter se apossado de sua bolsa de dinheiro enquanto estava ferido e inconsciente.

A forma humanizada da espada de jade deu faceira de ombros, se fazendo de desentendida, quando seu sorriso parcial era malandro:

— Que foi, Mestre?... Além dos bolinhos, somente comprei um bom licor... Eu tinha que fazer algo enquanto esperava o mestre acordar. — E Fang Xin ergueu as mãos, feito um gesto inocente de rendição. — Dessa vez, não fiz nada indecente com seus taéis.

O gesto podia ter uma conotação inocente, mas Jun Wu estava atento aos olhares maliciosos

de Fang Xin para Huang Ho, que estava parado na mesma ponta do quarto, servil e cabisbaixo.

Era bem fácil de ler em Fang Xin a que “indecências” ele estava se referindo.

Tendo o semblante escuro e repreensivo, Jun Wu segurou de volta na pequena mão de Tang Shi e declarou:

— Guarde essa sua esperteza e malícia para quando voltar a ser minha lâmina. Partiremos nós dois, logo após o desjejum.

Caminhar e ocultar a dor em seus ferimentos era mais complicado do que pensava, ainda assim, Jun Wu não hesitou, sem a menor intenção de fraquejar.

Embora, o quanto era triste comer o macarrão que Huan Shui tinha ensinado o preparo para Tang Shi... Sem ter a pessoa que amava por perto.

 Sem ter a pessoa que amava por perto

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Jun Wu - A Terceira Face do Príncipe • Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora