01 | Satoru Gojo, você é um filho da...

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• 2007 •

Satoru Gojo estava chorando num dos degraus da escada que levava ao campo de treinamento da escola naquele dia. Não chorando como uma criança chora quando alguém nega seu brinquedo favorito ou a hora de brincar acaba. Nem chorando como alguém desesperado ou alguém que sentia uma dor aguda e não conseguia controlar as lágrimas. Ele não fazia um barulho sequer sentado naquele degrau com as pernas enormes abertas e os cotovelos apoiados nas coxas, mas havia definitivamente uma lágrima descomunal escapando daqueles olhos magníficos que eram o fascínio - e desespero - de muita gente.

Eu sei que ele me percebeu chegando. Não tinha como não perceber - e eu fiz o favor de entregar minha chegada tropeçando num dos degraus enquanto segurava minha saia vermelha. Mas nem que eu não tivesse tropeçado, ele era Satoru Gojo, e era justamente por isso que era tão esnobe a maior parte do tempo, ao menos ele não era daqueles feiticeiros que falam mais do que a língua permite e fazem menos que um pai ausente.

Mas também justamente por ele ser Satoru Gojo - e ter uma fama absurda para um adolescente - , pensei que ele não esperaria que eu descesse mais de dez degraus daquela escada de pedra para alcançá-lo e vê-lo com aquela expressão de pura frustração e tristeza. Sem contar na lágrima, ela é inesquecível.

Se a situação não fosse obviamente trágica, eu poderia usar aquilo contra ele o resto da vida e quem sabe assim, ele parasse de me perturbar. Mas, eu tinha um coração perfeitamente normal que não sabia ignorar essas coisas, mesmo que a pessoa em questão fosse Satoru Gojo e eu o detestasse um pouquinho - um pouquinho sou eu sendo exageradamente gentil.

Esperei que ele saísse dali tão rápido quanto um raio porque por algum motivo, na minha cabeça, ele seria um desses caras que odeia ser pego num momento vulnerável. Talvez ele fosse mesmo e só não tivesse se dado conta de que eu estava ali. Ele parecia alheio à realidade como se tivesse sido pego num domínio - e eu estaria rindo disso se pudesse acontecer de verdade, mas alô, estamos falando de Satoru Gojo.

Esperei também qualquer piadinha, literalmente qualquer uma serviria para esse momento estranho com um silêncio ainda mais estranho que eu não sabia se deveria quebrar, e eu tenho certeza que aquela cabeça perversa dele podia pensar em qualquer uma enquanto eu estava ali parada e muda tentando lembrar o motivo de eu não ter ignorado a situação quando enxerguei sua cabeça branca ao longe.

Deveria ter ignorado. O que diabos eu ia dizer para um Satoru Gojo triste que eu nem conhecia direito?!

Para começo de conversa, eu estava atrás da Shoko que devia estar por ali - e não dele. Só queria saber se ela estava bem dada toda essa situação envolvendo Suguru Geto e o mundo dos feiticeiros de Jujutsu. Não queria nem saber o que ela achava de tudo isso - apesar de ser um absurdo e algo que com certeza traria uma confusão enorme - , só queria saber se ela estava bem e se queria conversar sobre a falta que ele deveria estar fazendo, mas já previa a reação dela, Shoko provavelmente daria de ombros como se não se importasse com a situação e sairia fumando um cigarro como sempre.

Nem cheguei a pensar em como Gojo, que era ainda mais próximo de Geto, estava se sentindo com tudo isso.

Foi só quando vi ele na escada, sentado de qualquer jeito encarando a vida como se ela tivesse de repente perdido a cor, que a lembrança deles dois sendo um pé no saco me atingiu como um chute no estômago. Ele devia estar sofrendo. Ele estava claramente sofrendo.

Ainda assim, o que diabos eu tinha que dizer a um Gojo triste?!

Como diabos eu ia tentar dizer alguma coisa sem tocar sem querer no nome do Geto por conta do que estavam comentando por aí?

GOJO & UTAHIME (One Shot) Onde histórias criam vida. Descubra agora