-Vamos, Irene! -ele checa mais uma vez o relógio em seu pulso. -Desse jeito a gente vai se atrasar.
Após menos de um minuto de sua fala, a sua mulher surge descendo as escadas de mãos dadas com a sua pequena.
-A culpa não é minha que a sua filha não parava quieta pra eu conseguir terminar de fazer o penteado.
Um sorriso de orelha a orelha surge em seu rosto, "Elas estavam tão lindas". Irene vestia um macacão azul marinho com um scarpin prata que só aparecia a ponta, por conta do tamanho da barra da vestimenta, enquanto seus cabelos estavam meio presos com uma presilha de pérola, deixando que algumas mechas de sua franja, se é que podia chamar aquilo de franja, se soltassem e contornasse seu rosto. Já a pequenina, estava com um coque que trazia uma amarração em cetim roxo para combinar com seu collant e saia de gaze também do mesmo tom, fora a sapatilha de ballet creme em seus pés.
Toda vez que via Irene naquele papel, no papel de mãe, faltava ar em seus pulmões.
Petra estava toda agitada e saltitante e Irene estava super atenta nos degraus para que nenhuma delas caísse.
-Calma minha filha, desse jeito é perigoso você cair.
Mal chegaram no último lance das escadas e a menina se desvencilhou de sua mão e foi correndo até o pai que estava de braços abertos.
-Cadê a bailarina do papai hein?
A pequena tinha um sorriso de invejar no rosto e corria para aquele abraço como se a sua vida dependesse disso. Antônio a pegou nos braços e a girou no ar, fazendo com que ela soltasse boas gargalhadas. Aquela cena aqueceu o coração de Irene, que caminhava com calma até a sua família, com certeza nunca se esqueceria desse momento. Antônio percebeu que ela se aproximava e parou de rodar com a filha, passando a segurá-la apenas com seu braço direito, enquanto o esquerdo se encarregava de trazer a mulher para mais perto, rodeando a mão livre em sua cintura e olhando profundamente em seus olhos, tais olhos que eram a sua perdição.
-Você está linda. -as palavras saem como um sussurro.
-Obrigada, amor. -diz dando um selinho nele.
-Eca! -fala Petra, tampando os olhos com as duas mãozinhas, o que faz com que os pais rissem.
-Você também não está nada mal, querido. -ainda com o sorriso no rosto, se volta para Caio e Daniel. -E como estão os meus garotos?
-Com tédio. -respondeu Caio.
-Não fale assim, é a apresentação da sua irmã. -fala dando uma última ajeitada na camisa que o mais velho vestia. -Quem sabe ela não se torne uma grande bailarina um dia.
O som de um risada se faz presente na sala.
-Daniel! -o repreende dando um tapa leve em seu ombro.
-Vamos, vamos, que se sairmos agora ainda dá pra chegar no teatro da cidade em cima da hora. -diz Antônio, ainda com a menina no colo, destrancando a porta de casa e se dirigindo para a caminhonete.
Os meninos seguiram os passos do pai enquanto Irene pegava a sua bolsa e se certificava que estava levando a câmera fotográfica.
Depois de mais ou menos vinte minutos, chegaram ao teatro e Petra foi direto para o camarim juntos com as outras crianças. Nisso, a sua família procura os assentos reservados pra eles. Sentaram na primeira fileira.
Após verem a apresentação de hoje, Antônio e Irene notaram que ballet não é uma paixão de sua filha. Ela estava toda desconcentrada. Muito provavelmente, não deve ter prestado atenção nas aulas nem por um segundo, pois enquanto as outras crianças pelo menos tentavam seguir a coreografia, Petra corria pelo palco repetindo os movimentos do seu filme favorito, "Anastasia".