VII: Tomar uma decisão

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POV Jungkook:

Sentado no sofá da sala, vivencio o sexto dia na Capital e o inevitável se desenrola diante de mim. Glimmer propõe assistir à reprise de vários Jogos Vorazes para coletarmos anotações cruciais. O primeiro evento se passa em uma arena predominantemente escura, onde os Idealizadores, em um gesto sádico, forçaram os distritos a lutarem às cegas. Muitos pereceram por fome, sede ou ferimentos não percebidos a tempo. Apesar da crueldade, consigo extrair lições importantes, anotando em minha caderneta: "1. Preste atenção a galhos quebrando atrás de si; 2. A morte não te alcança tão facilmente nas acima das árvores". Teresa, também dedicada, observa minhas anotações e, ocasionalmente, as copia e eu deixo.

A próxima edição Glimmer parece ficar um pouco desconcertada e avança muito rápido às cenas, dando para ver muito sangue passando borrado na tela e gritaria.

— O que está acontecendo? - pergunta Teresa.

— Canibalismo. - responde Glimmer.

Olho para Teresa com os olhos arregalados, questionando-me até onde a fome e o desespero podem nos levar dentro da arena. A resposta é: não há limite. Imploro para que a morte ou a vitória cheguem logo, antes que eu alcance esse abismo.

À tarde, após o almoço e mais uma edição horrível dos Jogos Vorazes, sigo com Teresa para o treinamento. Tento me concentrar nas aulas de armadilhas, fogo, arco e flecha, e combate corpo a corpo. Nas aulas de arremesso de facas, lanças e escaladas, já me destaco da maioria dos tributos. No entanto, desde o primeiro dia, o combate corpo a corpo e o arco e flecha se mostram meus maiores desafios. Meus reflexos são lentos e minha agilidade no chão é limitada, me deixando à vontade apenas nas árvores. Lutar com os tributos dos outros distritos, tão fracos quanto eu, exceto os do 1 ao 4, é uma tarefa árdua. Contra esses últimos, evito qualquer confronto, pois sei que minha derrota seria instantânea.

Jimin se mantém distante desde o episódio que uniu Joenne ao Distrito 1, três dias atrás. Tentei conversar com ele em algumas ocasiões, mas só obtive resmungos ou um simples "Oi, tudo bem? E com vocês?". Ele agora nos trata como uma dupla, não mais individualmente. Glimmer, durante as reprises, comentou que era normal a virada de tributos uns contra os outros após alguns dias, pois cada um precisava traçar suas estratégias e planos para a arena. No entanto, não consegui – e ainda não consigo – acreditar que Park Jimin esteja se preparando para me eliminar. Uma tristeza profunda muito visível emana de suas expressões desde o dia da aliança de Joenne.

Ele está na sala de arco e flecha atirando sem parar nas pessoas-alvos, seu corpo se movendo de acordo com os alvos que aparecem ao seu redor. Nem se assusta quando me aproximo da porta de vidro. Pego um arco de madeira na bancada ao lado e entro, ficando meio próximo de Jimin.

— Oi. - digo.

— Oi. - responde Jimin, sem parar o que está fazendo.

O silêncio nos envolve na sala enquanto eu observo Jimin acertar alvo após alvo com uma precisão mortal. Cada flecha disparada é uma explosão em miniatura, e sua respiração ofegante é o único som que quebra o clima de tensão. Jimin para por alguns segundos, a expressão indecifrável, antes de voltar a atirar.

Movido por um impulso inexplicável, me aproximo até ficar ao seu lado. O que eu espero? Não sei ao certo. Meus sentimentos estão uma confusão, mas desejo um pouco desesperadamente que ele retribua meu olhar e me ajude a treinar. Em vão.

Jimin acerta seu último alvo, deposita o arco na bancada lá de fora da sala e sai da sala sem sequer me dirigir uma palavra. Uma onda de mágoa me invade de uma forma que não consigo nem explicar.

Jogos Vorazes: O Sino [JIKOOK]Onde histórias criam vida. Descubra agora