A Cabana das Janelas Vermelhas

Capítulo XXXVIII

O Retorno - Parte II

Ashia, no volante, dominava a arte da evasão, deslocando-se entre os carros da estrada com movimentos ziguezagueantes, desafiando a lógica e a prudência. Até mesmo os sinais vermelhos, agora, eram meros detalhes na nossa busca pela liberdade. O perseguidor, por sua vez, adaptava-se com agilidade às manobras ousadas da Ashia, permanecendo implacavelmente perto do nosso carro. A sensação de que estávamos sendo caçados intensificava-se a cada curva, a cada ultrapassagem audaciosa. Apenas ansiávamos para os próximos carros aparecerem. Cada cruzamento. Cada estrada. Eles podem estar em qualquer lado. Porém não iam ser imprudentes ao ponto de começar a disparar e chamar a atenção das autoridades. 

Pelo menos assim espero.

- Onde estão os outros? - Clara, consciente do perigo iminente e não conseguindo ficar em silêncio, quebrou o silêncio.

- Podem estar literalmente em qualquer lugar, então estejam atentos. - Ashia, concentrada na estrada à frente, respondeu sem desviar o olhar.

A resposta curta indicava o quão séria era a situação. Cada movimento era meticulosamente planejado, cada desvio representava uma dança arriscada com o perigo iminente. No entanto, ela era especialista em fugas, demonstrando uma concentração admirável em uma situação tão crítica. O cheiro de borracha queimada infiltrava-se no carro pelos buracos das janelas, enquanto o fumo dos pneus tingia tudo ao redor do veículo.

Ela acelera e faz uma curva rápida numa rua estreita, escapando por entre dois carros com uma destreza incrível, mas os perseguidores não davam trégua. O ruído do rádio e das ruas soam como um som abafado de fundo, juntamente com os pneus a ressoar sobre o asfalto nas curvas violentas.

Se continuarmos assim, logo vamos chamar a atenção da polícia, e cada segundo é crucial. Ser rápido em despistar o carro que nos persegue não só vai decidir se conseguimos sair da cidade sem sermos notados pela polícia, mas também vai garantir a nossa segurança.

A estrada à nossa frente mergulha em um túnel, uma oportunidade para ganhar vantagem. Observo Ashia preparar a arma com destreza, pronta para atirar novamente.

- O que estás a fazer? Não era para chamar a atenção. - Interfiro, preocupado com as consequências.

- Não chamaremos á atenção se a estrada estiver deserta. - A resposta de Ashia é assertiva, e, de fato, o longo túnel parece vazio, em ambos os sentidos. Sem hesitar, ela abaixa o vidro, manobra o volante com habilidade, e dispara para trás. Enquanto ela conta com a assistência de Brandon, sinto-me impotente no banco traseiro, agachado junto a elas. Cansado da minha inutilidade, dou um longo suspiro antes de pegar a arma, abaixar o vidro e aguardar por uma mira favorável.

A oportunidade se revela quando o carro dos perseguidores muda para a faixa ao lado. Após alguns tiros precisos, consigo perfurar o pneu dianteiro. Com a explosão e a velocidade do veículo, ele vira, colidindo violentamente contra a parede do túnel, criando um estrondo ensurdecedor e espalhando detritos pela estrada. Ashia exibe um sorriso triunfante e encara-me com aprovação.

- Eu sabia que não podias ser tão inútil com armas. - Ela comenta, mantendo o sorriso, antes de retornar sua atenção ao volante e entregar a arma a Brandon.

Conseguimos escapar da cidade ilesos. O carro não tanto. Não há sinal dos outros carros, o que é uma coisa boa e um problema ao mesmo tempo. Afinal, eles podem aparecer quando menos esperarmos. 

A noite estendia-se pacificamente sobre nós. A ausência de luzes e barulhos ao redor faz-nos questionar se realmente tudo aquilo não foi só um surto coletivo, mas os danos no carro são evidentes demais. O silêncio dentro do carro predomina por uns vinte minutos, à medida que nos distanciamos cada vez mais das luzes urbanas. A falsa ideia de que estávamos seguros era a única coisa que nos mantinha minimamente calmos neste momento. A música do rádio, que até então passava despercebida, é substituída por notícias de última hora, capturando a minha atenção.