Aqueles que sentem

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Não demorou muito para que a respiração de Jimmy ficasse mais ritmada e ele se encontrasse dormindo, seus olhos ainda estavam inchados mas agora ele parecia mais tranquilo sem nenhum sinal de pesadelos. Eliza permaneceu ali, apenas o olhando enquanto ele dormia, observando cada traço de seu rosto e sua cabecinha decorada de cachos pretos e macios, ele parecia tão em paz apesar do momento difícil que eles tiveram... Quando a madrugava estava começando a terminar e logo o dia chegaria, a vampira grisalha decidiu se levantar da cama. 

Era até irônico, vê-la deitada sobre as cobertas e não debaixo delas. Garantindo que o menino não iria acordar com seus movimentos, a vampira destrancou a porta do quarto com delicadeza e saiu deixando a porta semiaberta pois ela voltaria logo. Mas tudo que ela conseguia fazer, era sentir um aperto, um aperto muito forte em seu peito capaz de impedi-la de respirar. 

Eliza correu na velocidade vampiresca para o jardim e lá tentou urgentemente recuperar um pouco de ar. 

- Senhora? Senhora! - Lewis saiu da casa mesmo percebendo que quase começaria a amanhecer, mas não estava se importando com isso, ele viu Eliza passar correndo para fora e a seguiu preocupado. 

- Eu não consigo respirar, eu não consigo respirar... - ela dizia ofegante enquanto massageava seu peito carregado de culpa. 

- Ei, ei, ei, senhora, calma, olhe para mim! - Lewis segurou a vampira fazendo ela o olhar e em seus olhos ele podia ver o pânico crescente. - O que houve? 

- Eu... eu bati nele, Lewis, eu o machuquei, eu... - ela passou uma mão por seus cabelos enquanto levantava a cabeça procurando mais ar. - Eu sou um monstro, eu...

- Não, senhora, você não o machucou. - Lewis tentou garantir. - E a senhora não é um monstro! 

- Eu bati nele... - ela gemeu, o som do choro de Jimmy estava pulsando em sua mente totalmente visceral a fazendo sentir uma dor corrosiva em seu peito. 

- Não fez nada de diferente de qualquer outra mãe, ainda mais nessas circunstancias. - o mordomo afirmou vendo a vampira grisalha tentando controlar sua respiração ofegante. - Respira, por favor, senhora, a senhora precisa se acalmar...

As pernas de Eliza vacilaram e ela acabou se sentando na grama novamente, em volta das rosas brancas que refletiam a luz da lua quase sumindo. Lewis se abaixou quase no mesmo nível que ela, mas apoiando um deu seus cotovelos em seu joelho dobrado enquanto o outro o segurava no chão.

- Eu acredito que seja normal esse sentimento de culpa que você esta sentindo. - o mordomo começou a falar com suavidade. - Afinal de contas, que pai ou mãe quer infligir dor aos seu próprio filho? - ele questionou a observando com a mão sobre o peito, dando gotos a seco e começando a respirar com mais calma. - Mas que pai ou mãe ignoraria tudo isso? Deixar seu filho tomar as próprias decisões autodestrutivas, desobedecer, desrespeitar, e apenas ignorar? - ele viu os olhos azuis de Eliza encarando o chão, ele sabia que castigar Jimmy havia deixado ela devastada, ela com certeza deu tudo de si mesma para não causar nenhum dano físico ou psicológico na criança pois a sombra da péssima maternidade de Anne ainda pairava sobre ela. Afinal de contas, ela aprendeu uma coisa com sua mãe, mas queria fazer outra e fez. O fato dela esta naquele momento em uma espécie de crise de pânico provava que ela entendia e muito a posição em que Jimmy se encontrava e que ela, por mais que odiasse, havia aceitado a própria posição para com ele. 

A vampira rara foi controlando mais sua respiração, sentindo o aperto em seu peito diminuir ao lembrar que realmente não tinha feito com Jimmy o mesmo que sua mãe fazia com ela e suas irmãs, não, foi totalmente diferente. 

Sim, ela ainda se sentia culpada por ter causado dor a ele, faze-lo chorar, mas sua cabeça gritava que ele precisava daquilo ou não teria limites. Jimmy estava empurrando para saber até onde conseguiria ir com Eliza sendo indulgente com ele, e bem, ele descobriu até onde poderia ir e não foi de um modo muito agradável.

Avenida dos Sonhos QuebradosOnde histórias criam vida. Descubra agora