Sanches
Aperto o botão no painel da McLaren, fazendo o teto subir, fechando o carro de novo, ocultando as luzes dos postes aqui dentro. Me inclino sobre o banco de couro e puxo a trava da porta, vendo ela subir, dando a visão da Soraya falando com o meu pai, quando eu assobio ela se vira por cima do ombro e vem.
Soraya: Depois eu passo aqui pra conversar melhor com o senhor - ela sorri, dando tchau pro meu pai e eu volto a me encostar no meu banco - Tchau, Beatriz e dá um beijo na neném por mim.
Beatriz: Tchau, querida, dou sim - ela sorri, dando tchau e eu nego com a cabeça, ouvindo a risada do Bacu - Vai pela sombra, doutora.
Espero ela subir o batente do meio fio e quando ela entra, eu puxo a porta de novo, ouvindo o barulho da porta batendo nas borrachas. Ela me olha, prendendo o cabelo loiro e eu ligo a McLaren, saindo da rua com a contenção seguindo atrás. Já é quase 2 horas da manhã, mandei o jatinho ir buscar a Tiana e até agora nada de receber notícias.
Eu: Vai ficar no Leblon? - reduzo a velocidade, passando na lombada e ela me olha com o rosto franzido - Não mudou nada, falei aquilo, mas não te pedi pra voltar a ter o que a gente tinha, só vou te levar pra casa.
Soraya: Eu sei que foi só pra tirar a denúncia, não precisa se esforçar pra fingir - passo a mão na boca, evitando rir e ela mexe na bolsa de couro dela - Eu retirei, mas não quer dizer que se ela fizer de novo, eu aceite calada, porque você vai me impedir.
Eu: Direito todo seu, se ela te bater é um direito seu - passo a língua pelos lábios, girando na rua de baixo, dando passagem pra contenção passar - Mas tu não tem direito dessa vez, porque fez a mesma coisa que ela fez, então tu não tá com a razão - coloco a mão na frente da saída de ar e diminuo a temperatura - Quem começou a xingar foi você, cheguei bem nessa hora, ninguém me contou, eu vi.
Soraya: A advogada sou eu, Sanches - ela solta uma risada baixa, mexendo na bolsa - Quem tem contato lá dentro sou eu, então se fosse pra fazer alguma coisa, pode ter certeza que o que eu fiz não iria mudar o curso das coisas, ela só tem o nome mesmo e eu tenho o diploma.
Olho pra ela e fico calado, porque se der corda, ela vai longe e eu tô sem paciência pra tá ouvindo papinho furado no pé do ouvido. Então só deixo ela falando e sigo meu trajeto, porque logo pela manhã, eu tenho reunião com a facção, a pouca energia eu deixo pra mais tarde. A boa vida de tranquilidade do Sanches acaba hoje, é hoje que eu entro pro crime, saio da minha folga e já sei que vou me estressar.
Soraya: Oi, já tô voltando - vejo ela falando no celular, enquanto eu dirijo já na pista - Demorei, porque tava resolvendo um caso, mas já tô voltando - estreito os olhos, vendo a via vazia - O departamento tava cheio, foi por isso, quando eu chegar em casa, eu falo contigo, agora tô dirigindo - ela tira o celular da orelha e eu passo a mão no nariz, sentindo a ponta gelada.
Eu: Qual é o nível da encrenca que eu me meti? - olho de lado, dirigindo só com a mão direita, vendo ela respirar fundo - O mínimo que eu sei do seu marido já me diz que é encrenca, mas tu não fala nada, só se afunda e ainda quer mais, eu não entendo essa porra.
Soraya: Acabou, não acabou? - ela abre os braços, me olhando séria e eu fico quieto - Se acabou, não precisa você ficar desconfiado com nada e não se faz de santo, porque você sabia que eu era casada.
Eu: Problema não é você ser casada e sim com quem você é casada, tô tranquilo, doutora, mas gosto de saber onde eu tô pisando - meto a mão no bolso, puxando dois chicletes e ela me olha - Quer chiclete?
Soraya: Quero - ela pega os dois e eu dou risada, pegando mais dois pra mim - Você é sonso demais, pega a mulher do seu irmão, pega a mulher que quer, seja ela solteiro ou não, mas fica se fazendo quando sou eu e ainda quer exigir alguma coisa.