The Mag

"Drogas curam cicatrizes"

Após passar o dia explorando ambos ambientes, Stef e Saiph encontravam-se, no final do dia, na pequena e aconchegante casa da vampira. Foi quando Muss, percebendo a privacidade delas, decidiu se recolher.

"Bom, eu vou me recolher. Ambas podem ficar sozinhas. Vejo vocês amanhã", disse Muss, despedindo-se antes de sair. Os três trocaram desejos de boa noite.

Saiph entregou a Stef uma muda de roupa e sugeriu que conversassem mais profundamente sobre suas vidas pessoais. Stef pegou a roupa e se trocou, retornando à sala onde Saiph preparava um chá de ervas. As canecas, feitas de barro, conferiam um toque acolhedor a todo o ambiente, repleto de elementos naturalmente produzidos.

Saiph ouvia atentamente a história de Stef, percebendo o misto de sentimentos na expressão da garota.

"Me conte, Stef, como de fato veio parar aqui?" perguntou Saiph.

Stef, apesar dos leves traumas, não mostrava hematomas físicos provenientes do reino de Sab. Com um sorriso entristecido, ela compartilhou: "Eu era de um reino de pirâmide, a melhor amiga da rainha. No entanto, algumas desavenças surgiram com o tempo... Acabei tendo alguns deslizes, e, considerando o temperamento dela, achei melhor partir. Meus desejos pessoais não eram muito bem-vindos naquele lugar", explicou Stef, demonstrando que, apesar de tudo, já havia se acostumado com aquele ambiente.

Saiph, curiosa, indagou: "E você tem para onde ir?"

Stef respondeu: "Minha prioridade é encontrar meu amigo Dante, que correu de lá e me deixou para trás. Estou à procura dele... Vou encontrá-lo com cautela."

Ambas se envolveram em um silêncio ponderado, até que Stef quebrou o silêncio:

"E você? Qual a história da pequena Saiph?"

Saiph respirou fundo, desviando o olhar, aparentemente um pouco desconfortável. Um breve silêncio voltou a preencher o local. A curiosidade intensa de Stef era palpável, e ela encarou Saiph com um olhar preocupado.

"Primeiramente... me chame de O Saiph, por favor", pediu Saiph.

Stef engoliu em seco, constrangida por não saber disso antes, e pediu desculpas baixinho. Saiph continuou, revelando um pouco mais de sua história:

"Bom, sei que viveu isso também. A forma como vim para Tuckan foi através de terroristas, mas comigo foi um pouco diferente."

"Eu era de um lugar distante do centro...", Saiph começou a contar, e a narrativa agora se desdobrava diante delas.

Saiph era de uma pequena cidade no interior da região dos lagos, um lugar tranquilo com praias. O garoto foi um dos primeiros a chegar a esse mundo de caos, testemunhando uma série de eventos perturbadores. Um dia, na praia com seus amigos, aproveitavam uma garrafa de bebida alcoólica e cigarros espalhados na areia, quando começaram a ouvir gritos e explosões ao longe, vindas do mar. Uma enorme explosão surgiu na água, e eles puderam ver uma onda avassaladora se aproximando da praia. Todos correram para o interior da cidade, apenas para se depararem com o caos já em andamento. Grandes porções da cidade estavam em chamas, edifícios desmoronavam em chamas, e carros explodiam. Os amigos de Saiph o deixaram para trás, correndo em direções diferentes, enquanto o garoto indefeso ficava paralisado pelo choque.

Saiph corria desesperadamente pelos destroços, sua pele queimando em lascas, e seus pés cortados pelos vidros quebrados espalhados pela areia. Perseguido por terroristas, ele escalava prédios em ruínas, suas lágrimas se misturando ao pânico da fuga. Saltava dos topos dos edifícios, suas pernas sentindo o impacto violento, ossos rachando e sua mente em turbilhão. Mesmo assim, continuava correndo pela praia, suas pernas cansadas ardem, a areia se infiltrando nos ferimentos profundos.

O entardecer pintava o céu, e Saiph encontrou uma arma quase enterrada na areia, um vestígio da devastadora onda. Atirou contra os terroristas, seu grito de horror ecoando na praia vazia. Apesar dos esforços desesperados para escapar, a captura era inevitável. Encontrou um garoto loiro à beira da morte na praia, tentando socorrê-lo ao carregá-lo consigo. Contudo, o peso da situação o fez desmoronar na areia.

Atacado pelos terroristas, Saiph caiu, o garoto ainda sobre ele. Em um momento aterrorizante, viu o terrorista decapitar brutalmente o jovem à sua frente, o sangue jorrando sobre seus corpos. Uma pancada brutal na cabeça o fez desmaiar, encerrando aquela visão dolorosa e traumática.

Saiph, entre lágrimas, compartilhava sua história angustiante com Stef, revelando o trauma que o trouxera para aquele mundo. Stef, em choque, ouvia atentamente, seus olhos marejados refletindo a dor do vampiro.

"Eu... só lembro... de aparecer nessa selva, eu estava em cima de um antigo túmulo, e à minha volta eu só via lápides. Andei pelos arredores, vi um deserto no horizonte do lago, mas não tive coragem de investigar. Conheci Muss, ele parecia estar vivendo aqui muito mais tempo que eu, indo de cipó para cipó. Achei ele tão parecido com aquele garoto da praia... Decidi me juntar a ele. Só peço que o mantenha longe de qualquer trauma, eu faço de tudo para protegê-lo de qualquer trauma mental, pois não quero que ele fique..."

Ele olha para si mesmo, marcado por cicatrizes, uma lágrima percorrendo seu rosto. Stef se aproxima e o abraça.

"Sh... Está tudo bem. Sabia que essas cicatrizes são um charme seu? E sabia que tudo isso te fez mais forte, mais do que você já era? Você foi incrível. Eu não faria nem metade do que você fez. Agora, você tem alguém para proteger, e aqui parece um bom lugar. Descanse, Saiph. Você fez tudo."

Envolvidos em um abraço reconfortante, Stef e Saiph compartilharam um momento de consolo mútuo. No silêncio da noite, cercados por sons místicos e criaturas desconhecidas, Stef se sentia segura nos braços do vampiro. Juntos, adormeceram, entregando-se à paz momentânea. No entanto, mesmo em seu refúgio, Stef não esquecia seu verdadeiro propósito: encontrar Dante. O objetivo persistia em sua mente enquanto mergulhava no descanso, preparando-se para os desafios que aguardavam ao amanhecer.