Diego rolava a tela do celular enquanto se revirava no colchão, pelo que deveria ser a vigésima nona vez só naquela madrugada. A verdade é que tivera acordado subitamente e agora não conseguia mais pregar o olho. Essa realidade, entretanto, já estava se tornando quase uma rotina. Logo se recordou do caos que sua vida estava sendo nessas últimas semanas, o quão terrível havia sido e o quanto seus olhos haviam pesado de tantas lágrimas.
"Eu não posso acreditar que você realmente não enxerga o enorme problema no que você fez." Diego bradava furiosamente no telefone, pois sentia que naquele momento não conseguiria olhar nos olhos daquele homem.
"Diego, eu acho que você e seus fãs estão exagerando e muito. Meu amor, você não percebe que está deixando um bando de desocupado entrar na sua cabeça. Quem é que tá sempre aqui pra você? Sou eu. E é assim que sou retribuído?"
Diego sentia seu estômago revirar a cada palavra que ouvia o homem do outro lado da linha proferir. "Você é TÃO cara de pau. Como eu nunca pude enxergar antes? Faz um favor: não me liga, não me manda mensagem, não me procura. Eu não quero mais OLHAR na sua cara" E mais uma vez, naquele dia, o ruivo chorou, desejando o colo de sua mãe para que essa lhe dissesse que aquele dia tão tenebroso era só um pesadelo e iria passar. Mas como não a tinha disponível ali fisicamente, foi deitar e dormir, usando toda a fé que tinha para implorar que aquele dia acabasse logo.
Diego balançou a cabeça ao relembrar as memórias daquele dia que, acreditem, ele faria de tudo para esquecer, e pensou na solidão que o acometeu naquele fatídico. Pensava que: como seria justo? Ele, um homem que estava sempre ali por todos, não teve ninguém quando precisou. Bem, ninguém, não era totalmente verdade. Ele estava ali. Ele sempre estava. Com aquela colônia forte, aquele cheiro que só ele tinha, a risada de chaleira e o alter ego criado que retirava as mais genuínas risadas de Martins. Lembrou da sua voz carregada de preocupação pois, mesmo que insista em sua própria mentira de que utiliza apenas uma rede social [Já te achamos, Amaury, pode sair] ele via o que acontecia e aquilo enchia de tristeza, pois sabia que seu pequetito não merecia. O cacheado tentou o que podia para fazer o rapaz rir e dissipar, mesmo que por um momento, toda aquela sensação ruim que sentia.
Diego, diferentemente da outra, sorria timidamente com essa memória e sem ao menos perceber, tinha seu celular aberto no contato Amaury Lorenzo, onde ali se encontravam alguns áudios enviados por Amaury e reproduzidos por Diego – no 2x, é claro –, todavia, não respondidos – veja bem, ele não faz por maldade, mas imagine, Amaury só larga o botão do storie quando este já atingiu o limite, consegue imaginar o botão de áudio do whatsapp? Que não tem limite. –
Olhou e avaliou se era de bom tom deixar que a emoção vencesse a sua racionalidade extrema, pelo menos daquela vez.
"Malditos pensamentos intrusivos" Pensou consigo mesmo enquanto olhava o "ta acordado?" que havia enviado naquele segundo. Fechou os olhos e abraçou o celular contra o peito, tentando lutar contra a vontade de pressionar a mensagem e escolher o Apagar Para Todos. Nem teve tanto tempo de raciocinar, Amaury era um homem que respondia rápido. Era ágil.
"Eu to sempre acordado, pequetito. Já viu a montagem que me colocam como um morcego???" A resposta veio seguida de uma quantidade exagerada de emojis de riso.
"HAHAHA, eu COM CERTEZA vi. e eles estão certos, você é um MORCEGO"
"kkkkkkk, quando você menos esperar, estarei sobrevoando seu apê e da Thati. Farei companhia aqueles que já devem ter entrado novamente aí." Mais uma vez os emojis exagerados, dessa vez continham alguns de morcegos misturados."
"VC VIRA ESSA BOCA PRA LÁ!!!! eu to sozinho aqui, não gostaria de ter que passar por isso"
Seria louco dizer que Amaury não percebeu um pensamento solto sobrevoar sua mente – tal qual os morcegos na casa de Diego – ao saber que o mais baixo estava sozinho em casa.
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Quem é o louco entre nós? | Dimaury
RomanceEle estava ali. Ele sempre estava. Com aquela colônia forte, aquele cheiro que só ele tinha, a risada de chaleira e o alter ego criado que retirava as mais genuínas risadas de Martins. Sempre foi ele.