Clã: O último feitiço

CAPÍTULO I

Não importa quantos Festivais já haviam passado. Para Pedro, todo Festival parecia ser o primeiro. O nervosismo e o frio na barriga eram exatamente iguais aos que ele havia sentido no primeiro dia que chegou ao Clã. Tanta coisa aconteceu depois daquele primeiro dia. Em momentos de nervosismo, ele lembrava de tudo que havia passado e enfrentado para estar ali. Às lutas, perdas, conquistas, tristezas e alegrias que não só ele, mas todos os integrantes do Clã haviam enfrentado. Todavia, se o passado foi de tristezas, o presente era de pura alegria e magia. O Clã estava muito bem consolidado com a orientação da Suprema Beatriz. As relações com os outros Clãs eram de fraternidade e companheirismo. Até mesmo a aliança com a Tribo dos Verdes havia se concretizado após Giovanna ter se tornado a Grande Bruxa Verde. 

Tudo estava bem. O Clã seguia firme e unido.

Mas, dentre as suas maiores alegrias e conquistas, ter encontrado seu amor era a maior delas. Dan, um menino alto, pele clara e cabelos castanhos havia conquistado o coração de Pedro no primeiro momento. A primeira conversa, o primeiro encontro, o primeiro abraço e beijo foram um dos momentos mais mágicos da vida de Pedro. E depois de alguns de quase 8 anos juntos, lá estavam eles se preparando para mais uma apresentação no Festival.

- Minha barriga está doendo de tanto nervoso - exclamou Pedro, enquanto segurava sua barriga e fazia uma careta.

- Já já passa, amor! - disse Dan, com a voz suave e calma.

Contrapondo a energia intensa e quase caótica de Pedro, Dan era o ponto de equilíbrio que conseguia acalmar o bruxo

- Será que dá tempo da gente ir tomar alguma bebidinha? - indagou Pedro, já puxando o braço de Dan para fora do palco.

- Não, daqui a pouco a Bia...

Antes que Dan pudesse terminar a sua frase, Bia Santos apareceu como um relâmpago diante dos dois. Os anos haviam se passado, mas o seus cachinhos continuavam firmes e o seu olhar havia ficado mais rápido.

- Estão prontos? Vamos começar agora. Os Clãs convidados e os novos alunos já foram recepcionados e acomodados. Só falta eu receber o ok de vocês para abrir a cortina! - disparou ela de uma vez só. 

- Sem tempo pra uma bebidinha? -  arriscou Pedro.

- Não! - respondeu Bia Santos, de modo ríspido. - A Suprema vai fazer a abertura, assim que ela terminar as cortinas vão cair e vocês começam.

Enquanto isso, todos já estavam sentados no grande salão, esperando o início das apresentações. Maria Eduarda fez questão de sentar na frente, para que assim ela pudesse prestigiar o discurso de sua amiga Beatriz e as apresentações dos outros bruxos. Maria continuava vaidosa, amigável e poderosa. Desde que foi escalada para compor o novo Conselho, sua capacidade de vodu continuava potente. 

Se perguntando o porquê da demora, Maria já estava pronta para se levantar da cadeira quando um grande e belo espelho oval foi conjurado no meio do palco. O espelho brilhou e de lá saiu a Suprema Beatriz no auge de sua beleza e poder. A Suprema vestia um longo vestido preto e fosco. Os seus longos e ondulados cabelos loiros caiam pelos seus ombros e o  seu olhar continuava meigo e poderoso. 

- Sejam todos bem-vindos! - exclamou a Suprema erguendo os braços e fazendo com que o espelho atrás dela se explodisse em cristais, iluminando todo o salão. - É com muita honra que anuncio o nosso Festival de Magia e União. Para aqueles que estão pela primeira vez no Clã, saibam que há 15 anos atrás nós sofremos ataques dos Caçadores. O ataque causou destruições gigantescas. Perdemos amigos e companheiros muito queridos. Porém, com a nossa força, com a nossa união e com a inspiração do Criador, nós todos conseguimos vencer essa batalha e restaurar o nosso tão amado Clã. Comemoro não somente o fim da grande guerra, como também os 15 anos que realizei as Três Maravilhas e assumi meu posto como Suprema!