Duas opções.

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Os dois já estavam juntos há tempos.

Afinal, se não conseguir passar uma noite sequer sem se ver, se roer de ciúmes sempre que alguém se aproxima do outro, dormir abraçados em uma cama minúscula e trocar muitos, muitos e muitos apertões, ainda não era considerado "estar juntos" Ramiro não saberia dizer o que era.

- Rams por que a gente não namora?- Kelvin indaga de repente enquanto mais uma vez os dois dividem um sanduíche no café da manhã.

Com o orçamento limitado de Ramiro essa tinha se tornado a rotina deles quando o loiro dormia no "cafofo" noites essas que haviam ganhado ainda mais frequência com o passar do tempo, a ponto de ele já deixar roupas no armário alheio para trocar quando chegasse do trabalho no bar.

- Cuma assim Kevin? Isso de macho namorá cum otro macho, num sei não...

- Ihh nem começa, nem começa que eu já tô careca de saber onde esse seu discurso aí vai acabar.- Ele bufa dando mais uma mordida no pão. - Eu só falei por que é ruim ver todo mundo na cidade se ajeitando com alguém, a Luana tem o Rodrigo, a Lucinda mal largou o Andrade e agora já vai casar com o delegado, até o Hélio e a Petra que se conheceram outro dia já vão casar...

- Mai Ocê num tem eu Kevin?- Ele pergunta preocupado com um bico fofo nos lábios.

Ramiro no fundo sempre teve a insegurança de que um dia Kelvin se cansaria dele e se interessaria por alguém um pouco menos complicado.

- Tenho? Brincadeira, eu sei que eu tenho você, e você me tem também, eu só acho que depois de mais de um ano nesse nosso vai num vai, já tá mais que na hora de a gente se ajeitar também sabe? Faz isso nem que seja por mim... Eu nunca tive assim um namorado de verdade pra receber bilhetinho, pra andar de mão dada, tomar sorvete na praça, dormir de conchinha depois de...- Ele se interrompe com uma falsa tosse quando perceber que estava falando demais.

- Mai Kevin, se nós for namorado memo nós vamo ter que... que beija né?- Ele pergunta meio ansioso pela resposta.

- Ah mais aí é fácil de resolver, outro dia na festa de casamento do doutor Antonio você mesmo ia me beijar num ia? Você disse que não se importava, disse que não ligava pra o que as pessoas iam pensar, só parou por que a Berenice interrompeu, inclusive que vontade de pegar aquela sirigaita pelos cabelos.

- Eu disse né? Eu disse...- Ele que antes encarava o outro, se vira novamente e encara a porta com as costas escoradas na cama.

- É cê disse...mas aí cê nunca mais tocou no assunto, que nem o beijo que a gente deu no seu carro, eu lembro até hoje mas se você não fala sobre não vai ser eu que vou ficar te pressionando.

O loiro se levanta apoiando as mãos na cama e limpando sua calça roxa brilhosa além da conta.

- Kevin ocê tá cum raiva deu?- levanta o olhar para encarar o outro de pé à sua frente.

- Eu quase nunca fico com raiva de você de verdade Rams, num é mais segredo pra ninguém, nem pra você que eu te amo, esses dias eu deixei escapar sem querer, num queria te assustar mas não não neguei por que é simplesmente verdade...- Kelvin se abaixa para ficar na altura do peão e deixar um singelo carinho em sua barba.

- Kevin nós pode tenta...tenta um beijin mas tem que ser devagarin que nem aquele que nós demo lá no meu carro...

Kelvin ri mostrando suas covinhas, nunca imaginou que com seus 25 anos estaria vivendo um namoro de colégio, na época em que selinho era a maior conquista e dar uma caneta na aula já era considerado pedido oficial de casamento.

Nunca ter tido isso só aumentava ainda mais sua empolgação, ele queria aquilo, apesar de ser adulto e já ter experiênciado tudo que é possível de forma carnal com outros homens, no fundo seu pré adolescente interior sentia falta dos amores puros da infância.

Ocê quer?-KelmiroOnde histórias criam vida. Descubra agora