| Capítulo 27 |

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— Você está péssima. – Dinah comentou, analisando o rosto da filha.

— Nossa mãe, isso ajudou muito. – Ironizou. – E o papai, algum sinal de melhora?

Dinah suspirou pesadamente, ela já sabia que só um milagre salvaria Quentin, ainda esperava por ele mesmo sabendo que era quase impossível.

Uma coisa era sentir que seu marido não voltaria, outra era dizer a filha que ele não voltaria.

Durante os primeiros meses de Sara com eles, Dinah sentiu um pouco de ciúmes da relação dos dois. Ela via a maneira como eles se olhavam, passavam horas se encarando em silêncio, eles tinham uma conexão que ela queria ter com eles.

Ela podia imaginar a reação da filha ao saber que o pai não voltaria, Sara ficaria arrasada.

— Mãe? – Sara sacudiu os braços em frente a Dinah. – Ouviu o que eu disse?

Dinah olhou para a filha com um olhar perdido e um sorriso triste:

— Ouvi, claro que ouvi.

Sara percebeu que tinha algo de errado com a mãe, ela parecia um tanto perdida:

— Está tudo bem? – Perguntou intrigada. – Você está parecendo... Abatida.

— Eu só preciso de um café. – Mentiu. – Fica um pouco com seu pai, acho que vai fazer bem para os dois.

Sara franziu o cenho, enquanto observava a mãe sumir pelos corredores brancos.

Ela ainda ficou algum tempo parada, colocando os pensamentos no lugar, antes de abrir a porta e entrar no quarto do pai.

Quentin parecia igual. A mesma expressão tranquila, a mesma roupa clara e a mesma posição, mas algo estava diferente e Sara podia sentir.

Ela se sentou e segurou a mão do pai, como fazia quando ele a colocava para dormir e caia no sono primeiro que ela.

— Papai, eu sei que pode me ouvir. – Ela alisou a mão dele. – Eu queria que pudesse falar também. Sabe aqueles conselhos preciosos? Então, estou precisando de um agora. – Sara ficou em silêncio, esperando pela resposta que já sabia que não viria. – Ava me ama. – Falou, rindo em seguida. – Ama, porém não me entende... Ninguém nunca vai entender. – Quem passasse por ali, juraria que Sara estava falando sozinha, de fato estava, mas para ela o pai estava ouvindo e compreendendo tudo o que dizia. – Damien te fez parar aqui, a culpa é dele... De novo. – Suspirou. – Ele vai pagar por isso também...

Nesse momento, Sara sentiu um aperto em sua mão e outro logo em seguida. Os aparelhos apitavam e ela estava saindo para chamar um enfermeiro, quando ouviu o pai chamá-la.

— Sa... Sara... – Sua voz estava fraca e quase inaudível. – Fica. – Ela olhou em volta, procurando por um médico na parede de vidro, mas não encontrou nenhum, então atendeu ao pedido do pai e voltou para onde estava. – Filha... – Ele mostrou um meio sorriso. – Deixe... Deixe Damien... Em paz.

Sara prendeu a respiração por uns segundos. Ouvir seu pai pedir para desistir de sua vingança, logo após ouvir Ava dizer o mesmo... Não estava sendo muito fácil para ela digerir:

— Não pai, não me pede isso. – Pediu. – Por favor, não me pede isso.

Com muito esforço, Quentin levou a mão até o rosto de Sara e lhe fez um breve carinho.

— Você... É boa. – Falou com dificuldade. – Rancor demais... Apodrece o coração.

— Não, o senhor é bom, Susan era boa... E o que ganharam?

— Uma filha... Justa e bondosa. – Quentin queria fazer algo pela filha, antes que fosse tarde demais. Ele sabia o que estava impedindo Sara de matar Damien, só que ele sentia que não tinha muito tempo. – Eu... Vou morrer. – Falou, fazendo uma lágrima rolar no rosto da filha. – Você tem que ser forte... Liberte o rancor... O ódio... E aí, você vai ser feliz.

Sara chorava ao lado do pai, sentindo algo dentro de si sumir. Tudo o que ela mais temia, estava se tornando realidade. Sara era uma mulher quase destemida... Quase.

Ela tinha medo da morte, medo de acabar sozinha e seca por dentro, medo de ser consumida por ódio e rancor.

— O senhor é minha parte boa. – Ela sorriu em meio às lágrimas. – Sempre foi o senhor... Não me deixa sozinha pai, não vou conseguir sem você... – Quentin tossiu seco, seu corpo fraco e vulnerável sacudiu de acordo com a força da tosse. Sara já estava em desespero. Queria chamar alguém, mas tinha medo de sair do quarto e não encontrar o pai quando voltasse... Como da última vez. – Pai, por favor. – Ela segurou o rosto dele. – Luta contra isso, por favor... Eu preciso de você, pai... Eu preciso.

— Você é forte. – Ele falou, já quase sem voz. – Vai conseguir, eu sei que vai...

— Não... Eu não sou, eu sou fraca... Eu sempre fui fraca...

— Ouça o seu coração... Eu confio em você... Amo você, filha...

As mãos que estavam no rosto de Sara caíram ao lado do corpo. Os olhos castanhos, cheios de vida, que estavam abertos, se fecharam... A respiração pesada já não era mais ouvida, assim como o bipe do aparelho que estava ligado a ele...

A esperança que lutava no peito de Sara não existia mais.

— Pai! – Ela gritou, mesmo sabendo que ele não podia mais ouvi-la. – Pai, não me deixa aqui... Pai, eu preciso de você... Pai... Pai... Pai...

Dinah sentiu o coração afundar quando ouviu os gritos da filha... Ela pressentiu o fim, mas saber era muito pior.

Ela correu até o quarto do marido e viu a cena mais triste de sua vida.

Sara sacudia o pai como se pudesse trazê-lo de volta. Ela gritava, enquanto seu corpo balançava com o choro compulsivo.

— Filha. – Ela puxou a menina, enquanto os médicos tentavam reanimar Quentin. – Calma, meu amor, calma.

Sara se debatia contra os braços da mãe, gritava o nome do pai... Sentia seu coração partir com ele, deixando um enorme fazio em seu lugar.

— Pai volta... Volta pra mim... Não me deixa... Pai! – Ela gritava, enquanto Dinah lutava tentando conte-la.

— Eu sinto muito. – O médico falou, aumentando ainda mais o desespero de Sara.

Ela gritava, se debatia e chorava, como se alguém estivesse arrancando uma parte de seu corpo.

Dinah estava desesperada com a reação da filha, não esperava que a menina fosse sofrer tanto. Ver Sara naquele estado, só piorava a dor que sentia...

Sara sentiu uma leve picada no braço, e aos poucos viu tudo ficar borrado ao seu redor.

A voz da mãe, ficava cada vez mais distante... Tudo rodava... Ela já não sentia o aperto do enfermeiro que ajudou a contê-la...

Antes que desmaiasse, por causa do calmante injetado em sua veia, Sara pôde ver a figura pela porta de vidro...

Os mesmos olhos azuis... O mesmo sorriso debochado...

Revenge | Avalance VersionOnde histórias criam vida. Descubra agora