CAPÍTULO 03

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Quatro Dias Antes da Morte do Noivo

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Quatro Dias Antes da Morte do Noivo

Casarão da Família Uchiha, Texas,

13 de Novembro de 1959.

04H:26M

     Sakura nunca lhe disse um adeus. Revê-la agora em circunstâncias tão irônicas é um pedido para reviver tudo, depois de todos esses anos a procurando como um bastardo por aí. Se ele soubesse que somente precisaria de um familiar afortunado para tê-la de volta... Bom, faz todo sentido no final das contas.

     Na cama, Ino ressona baixinho, ele não planeja fazer qualquer menção em deitar-se, não se levanta daquela cadeira para nada há horas, não irá conseguir dormir um segundo sequer, de qualquer forma. Ele aperta os olhos para focar melhor o longínquo milharal pelo vitral limpíssimo, as grandes folhas verdes agora não passam de sombras na noite de céu nublado, balançam devagar conforme a direção do vento, numa dança lânguida, parecem convidá-lo para unir-se a elas na escuridão.

    Todas as luzes do casarão estão desligadas, todos dormem e descansam, exceto ele. O moínho ao longe sendo o único ruído daquela madrugada gélida. O cigarro em seus dedos já está quase no fim, no peitoril da janela há mais alguns tantos, todos mortos, apagados, depois de queimar e queimar, para no fim só restar uma bituca pequena e miserável, além das cinzas.

   Assim como eles dois, antes que sua Sakura decidisse sozinha que já não mais o pertenceria, largando-o em um mundo cinzento, solitário demais sem sua infame companhia. Desde que se sentou nessa cadeira de carvalho, sua mente não para de lhe pregar peças, seu coração tolo traz à tona lembranças bonitas demais, distantes demais, mas tão vivas ao mesmo tempo... Ela está tão bonita agora.... Mas quanto a isso não havia expectativa de ser o contrário, sendo ela dona de tanto poder sobre qualquer pobre mortal que a olhasse.

   Embora na janela a paisagem seja outra, sua imaginação amargurada tece no vidro limpo e amplo a imagem do rosto dela em seu primeiro beijo, dos olhos dela na primeira noite juntos, do primeiro eu te amo vindo daqueles lábios normalmente tão fogosos, mas naquela noite tão puros e sinceros — assim acreditou. Díspar a sensação calorosa que essas memórias causam em seu coração, a ardência nos olhos o lembra o quanto é difícil amá-la depois de tudo. Sua garganta sufocada anunciando o início de um dilúvio silencioso e salgado, gotas amaldiçoadas caindo pela mesma desalmada mulher.

    Há muito tempo ele sabe, que tudo não passou de uma ilusão, na verdade uma vergonhosa desilusão amorosa de um jovem burro o bastante para acreditar nas falácias de uma prostituta. Ainda mais alguém como ela, tão obcecada por coisas tão vãs. Um dia, ela o fez acreditar que ele seria o bastante, que seu sentimento valia mais que qualquer fortuna, a vida de amor que ele a prometeu, sarcasticamente, foi ela a fazer o necessário para que nenhuma jura fosse concretizada. Sequer lhe dizendo o porquê. Por que ele não foi suficiente? Jamais saberia a resposta, no fim.

Maldito Seja TitioOnde histórias criam vida. Descubra agora