IV

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A raiva me subiu pela garganta. Eu estava farto daquela brincadeira, farto do medo que Mephiles me causava. E foi pensando nisso que levantei daquela cama quase levando os lençóis comigo, rasgando o desenho em pedacinhos até alcançar a lixeira mais próxima para atirar o que restou ali dentro.

Mesmo ainda sentindo um misto de coisas interiormente, fui ao banheiro e fiz o que era necessário, logo descendo as escadas na direção da cozinha.

Minhas mãos tremiam - talvez pelo medo, ou só a fome, mesmo -, então tratei de procurar algo que me apetecesse para comer. A todo momento, meus olhos vagavam pela casa, à procura de qualquer indício de que Mephiles estava por ali. Quando enfim cansei de procurar por nada, um sorriso aliviado perpassou meu rosto, mas não durou muito tempo: no andar de cima, era possível ouvir passos profundos. Meu coração quase saltou pela boca.

Lentamente, me dirigi até a porta da frente, alcançando a chave que a abriria. Os sons pararam, mas eu ainda tinha medo. Parecia impossível colocar a chave no local certo com a tremedeira quando, finalmente, ela entrou. No instante em que girei-a e a porta foi aberta, os passos chegaram mais e mais perto, quase como se corressem em minha direção. Nem olhei para trás, apenas parti para o lado de fora da residência e me escorei contra a madeira, esperando algo bater contra ela ou mostrar que desejava sair. Mas nada aconteceu.

Mais uma vez, tranquei a porta na maior agilidade, correndo pela rua com os olhos encharcados. Mesmo já estando longe do lugar, ainda olhava para trás, imaginando que veria a sombra de Mephiles pela janela ou na frente da porta, aquela cara presunçosa que imaginava ser de um sorriso macabro presente em sua face.

Mas não havia nada.

Mesmo assim, me negava a parar, correndo desesperado para o mais longe possível daquela aberração. Mal enxergava, minha visão embaçada pelas lágrimas que não fui capaz de conter.

E nada me pararia. Pelo menos, era o que pensava até ouvir uma buzina alta de um carro soando à minha frente. Minhas pernas falharam com o som e desabei ao chão, me encolhendo. Por alguns minutos, tudo pareceu parar no tempo, sem reações, sem interrupções. Mas aquilo retornou rápido demais, e pude ouvir a porta do carro sendo aberta e alguém vindo na minha direção.

- Menino, você tá louco?! - A entonação da voz me fez erguer os olhos, me surpreendendo com a visão. - Silver?!

- T-Tenente? - gaguejo, surpreso demais para fazer qualquer coisa. Ele me ajudou a levantar do chão, me olhando com uma preocupação evidente no olhar.

- O que aconteceu? Por que está chorando?

Então, eu me lembrei. Eu estava chorando. Estava mostrando minha fraqueza na frente de outra pessoa.

- Eu não... não estou chorando! - dito rápido, secando as lágrimas. O equidna vermelho não pareceu acreditar, cruzando os braços fortes sobre o peito. Era difícil esconder a verdade dele, eu sabia disso. - Por que não está no trabalho? - pergunto, tentando mudar de assunto para sair daquela confusão.

Ele suspirou, fazendo um sinal para segui-lo até o carro. Confiava nele, portanto fui atrás, agraciado pelo gelado que o ar condicionado potente do veículo dava. Knuckles fechou a porta e pôs o cinto de segurança, e logo tratei de fazer o mesmo - fingindo que não havia esquecido de colocar a proteção.

- Fui demitido - responde simplista, apertando as mãos no volante. Temi que o objeto explodisse com sua força. - Aqueles bostas não sabem apreciar um bom trabalho! E daí que eu dormi três vezes seguidas todos os dias durante uma semana? Acontece com todo mundo!

Mordo a bochecha internamente, segurando as palavras que por pouco não proferi. Soando empático, me esforço para sorrir tristemente em sua direção.

Behind The Shadows (Volume 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora