No Limiar da Memória

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— 𝐒oco-rr..o. — 𝐃esesperada, Sally desperta. Busca fôlego, respira rapidamente, mas a agonia do pesadelo, reflexo do passado que a atormenta em noites como essa, a faz ofegar. Completamente suada.

𝐍o escuro, entre lençóis encharcados, ela olha rapidamente para o relógio na cômoda ao lado da cama – digital, cujas luzes indicam o horário – à medida que se recupera. São 3:33 da manhã. Estranhamente, os sonhos ruins são mais fortes nessa hora, porém, ela não entende. Apenas ignora como de costume. Desde que partiu, a jovem tenta enterrar o passado obscuro e sepultar essas memórias, chamadas de tormento. Com a calma, tragada pela realidade tranquila e pela quietude do quarto, isso a permite relaxar, recuperando a estabilidade emocional sempre abalada por tais momentos, finalmente, controlando a própria respiração. O coração que antes batia fortemente já não persiste no susto, mas está tranquilizado.

𝐀 loira fecha os olhos, engole em seco e deixa toda dor fluir, os sentimentos ruins navegam num mar sereno para águas distantes, esquecendo-os. A calmaria aconchega, reconfortando-a. Em seguida, tranquilamente se desvencilha dos lençóis, sentando na beirada da cama. O sono partiu, e é certo dizer que não retornará por enquanto. Portanto, ela torna a levantar, acendendo o abajur à sua disposição. A claridade manifesta toma espaço em meio às sombras noturnas, iluminando os cantos e também incomodando brevemente os olhos azuis como o céu em dia ensolarado da menina, forçando-a a fechar os olhos assim que o clarão os invade, contudo, logo adaptando-se. Seguido de um bocejo longo e relaxante que aos poucos expulsa a preguiça e os resquícios de sono. Acordada de vez.

𝐅altam poucas horas para o dia amanhecer, e será longo e cansativo. Os olhos claros dela percorrem o ambiente, paredes repletas de pôsteres e a escrivaninha com livros empilhados, incluindo obras de Dan Brown – seu escritor preferido. Ela se junta à mesa, sentando-se na cadeira, e da pilha, pega em mãos seu diário. Boa parte das folhas já está preenchida e nelas jazem angústia e superação. É por meio de cada relato escrito que Sally encontra forças para superar, depositando toda a ruindade no papel e aprisionando-a ali para que nunca mais retorne!

— 𝟏8 de maio de 2019. Tive aquele sonho mais uma vez. O mesmo das noites anteriores. Não sei dizer ao certo, talvez seja impressão, ele pareceu mais forte.... Estes pesadelos estão cada vez mais intensos e difíceis de acordar. Tenho medo, medo de não acordar mais... — 𝐀 angústia se manifesta no meio do peito, e então, solta o ar preso momentaneamente com peso. Agora não temendo mais a realidade, mas os próprios sonhos ao adormecer. Ela fecha o diário. A preocupação é uma constância. Deixando de lado aquilo, como qualquer pessoa buscando um ponto de escape, a loira vai ao banheiro.

𝐄la liga o chuveiro, a água está fria. Congelando. Mesmo assim, sem hesitar, ela se dispõe debaixo da ducha com o pijama de ursinhos para dormir, permitindo-se ser tomada pelo choque térmico que desperta de tal forma seu ser, fazendo-a esquecer das vivências oníricas e concentrar-se somente no momento presente, o agora. Tremendo devido ao frio, a garota ainda continua debaixo do chuveiro, cuja temperatura do seu próprio corpo vai se adaptando aos poucos e criando uma resistência, logo, não mais incomodada com o gelo da madrugada. Seguindo ali por minutos, onde tomou um banho – Sally lavou os cabelos e, despida, suavemente passou a esponja com sabão sobre seu corpo de pele delicada, deixando que a água levasse quaisquer medos e anseios, permitindo a si mesma ficar livre de tudo a fim de ter um bom dia –, uma hora e meia se passou e encerrou o banho. Aquecida pelo roupão aveludado preto, saiu do quarto em direção ao corredor da casa – pequena com quatro cômodos somente –, e seguiu rumo à cozinha. Ela não mora sozinha; sua amiga Aira é sua companhia, mas em dias como este, ela está fora, mesmo que passe a manhã inteira reclamando de dor de cabeça na aula, prefere virar noites no final de semana e ter uma segunda com ressaca. Chega a ser confuso. Mesmo assim, a solidão é boa para variar.

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⏰ Última atualização: Dec 03, 2023 ⏰

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𝐒𝐨𝐦𝐛𝐫𝐢𝐚 𝐋𝐢𝐠𝐚𝐜̧𝐚̃𝐨: Escrava do Destino!Onde histórias criam vida. Descubra agora