X: Um presente

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POV Jimin:

Enquanto caminho em direção ao meu apartamento após me despedir de Jungkook, paro em frente à cozinha dos Avoxes. Estão todos ocupados com suas tarefas habituais, cozinhando ou lavando a louça. Não existe apenas uma cozinha na Capital, é claro, e justamente por isso me questiono quantas pessoas nessa cidade vivem com a língua cortada. O que todos eles devem ter feito para serem considerados traidores de Panem? O que o presidente Snow considera rebeldia? Eu estaria agora naquela cozinha ou em um dos banheiros da Capital limpando privadas por ter saído do meu apartamento e ido até Jungkook? Um sorriso esquisito se desenha em meu rosto enquanto reflito sobre isso... Eu já estou morto de qualquer forma, não é?

Procuro Min Yoongi entre eles e o vejo bem ao longe, agachado, retirando um assado de um forno gigante. Ele se levanta, coloca a assadeira em cima de uma pia que tem quase o tamanho da minha casa inteira do Distrito 2 e se vira para mim, seus olhos arregalados de surpresa.

— Eu sei que não deveria estar aqui. - eu digo, lendo sua expressão. - Mas essa é minha última chance de te agradecer.

Yoongi permanece estático no lugar, enquanto outros Avoxes também nos observam, tão assustados quanto ele. Pigarreio, me preparando para dizer a coisa mais absurda que já planejei em forma de agradecimento:

— Se eu vencer, vou proteger sua família quando voltar para o Distrito 2. Eu os vejo às vezes na Noz, e parando pra pensar agora, acho que eu nunca quis saber como você sumiu de repente, e nem sobre como eles se sentiram sobre isso. - falo, e Yoongi está com os olhos cheios de lágrimas, preciso me manter forte para continuar: — Vou tirá-los da Noz, vou dar meu melhor pra que se sintam seguros. Sua irmã não vai precisar mais se inscrever nos Jogos Vorazes mais vezes do que o necessário pra conseguir alimento, vou providenciar comida pra todos e... E é isso.

Yoongi, com lágrimas rolando pelo rosto, apenas acena com a cabeça. Infelizmente, ele não pode reagir de outra forma, e me retiro da cozinha. A ideia de ter alguém de verdade para cuidar no meu distrito me traz um alento. Poder me preocupar e me esforçar para mantê-los vivos me dá um propósito, sabe? Preciso de um propósito além de cuidar do meu pai, se for para voltar.

Ainda perdido em pensamentos, ao chegar em meu apartamento, me deparo com Joenne sentada na cadeira da cozinha, geralmente ocupada por Namjoon. Sinto a raiva crescer dentro de mim e fecho a porta com força. Passo por ela em silêncio, observando sua expressão séria e o olhar fixo no vazio, com respiração quase imperceptível. Penso em perguntar o que há de errado, mas sinceramente não quero saber e não tenho disposição para fingir amizade agora. Continuo até colocar o primeiro pé na escada, dando uma última olhada para Joenne por curiosidade, quando sou atacado de repente.

Joenne se aproximou sorrateiramente e agora está segurando uma faca de cozinha apontada para o meu pescoço. Agarro seus pulsos, sou mais forte do que ela, mas sou surpreendido por uma cabeçada violenta que me deixa tonto. Me afasto cambaleando, tonto com o impacto da cabeçada, a visão turva por pontos coloridos e pretos. Vejo Joenne me atacar novamente com um grito agudo. Tropeço no degrau atrás de mim e caio de bunda no chão. Consigo mais uma vez desviar da faca e, ainda sentado, chuto sua barriga. Ela cai para trás como um saco de batata no chão. Me levanto com a mão no corrimão da escada e a outra na testa, pressionando o local da cabeçada que dói bastante.

— Qual é a porra do seu problema? - pergunto alto. - Quer me matar antes dos Jogos? Ficou maluca?

Joenne me encara, apoiando-se nos cotovelos, ainda deitada no chão. Esperava ver ódio ou deboche em seu rosto, mas vejo, em seu rosto, uma mistura de tristeza, desprezo e fúria. Seus olhos marejados de lágrimas se misturam a um sorriso irônico, enquanto seus lábios tremem de raiva.

Jogos Vorazes: O Sino [JIKOOK]Onde histórias criam vida. Descubra agora