Capítulo XL

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O Ceifador


Ryan

Posicionando-me do lado de fora da porta, consigo ouvir um pouco mais da conversa, porém não dá para entender o que estão a falar. Por fim ouço a voz da Jéssica. Pressiono os olhos e tento concentrar-me no plano que Ash entregou-me. Com um chute, consigo derrubar a porta, que cai numa batida seca e cessa a conversa.  Aponto a arma diretamente para um dos homens mascarados, que ia disparar, se não fosse pela destreza de Ash, que acertou-lhe primeiro, do lado de fora. 

Sem ninguém a bloquear a passagem entre nós e eles, avançamos para dentro. O Brandon não perdeu tempo e tirou os dois homens da cabana, amarrando-os a uma arvore.

Jéssica dá uns passos para trás, visivelmente perturbada com a nossa presença ali, mas tenta manter-se firme, coisa que ela não é muito boa a fazer. Os lábios tremem e a sua postura está muito tensa, como um passarinho assustado á procura da saída. O homem ignora a frustração dela e mantém-se calmo no seu cadeirão, enquanto abre um sorriso amendroador como se não estivesse nem um pouco preocupado por estar no alvo das nossas miras.

- Boa noite senhores. Estava agora a conversar com os meus homens sobre vocês. - Ele enche o copo novamente com gestos lentos e tranquilos demais. - Ossos difíceis de roer. Sabem, eu respeito isso. No que eu estava a pensar quando mandei esses amadores? 

Percebo que, apesar de nossa entrada surpresa e de estar em desvantagem numérica, ele parece sentir-se totalmente no controle da situação. Ash lança-me um olhar cauteloso, indicando que precisamos ser astutos e não baixar a guarda. 

Avançamos com cautela, mantendo as nossas miras direcionadas para ele e para Jéssica. A atmosfera tensa paira no ar, como se estivéssemos numa espécie de impasse. O homem continua a preencher o seu copo, saboreando a bebida com uma tranquilidade desconcertante. Outra coisa desconcertante era o silêncio da Jéssica, e o quanto ela evitava ao máximo que os nossos olhos se cruzassem. 

- O que vocês querem? - Pergunto, tentando manter a voz firme apesar da inquietude que cresce em mim.

O homem de fato levanta as sobrancelhas com um ar de desdém, como se estivesse entretido com a minha audácia.

- Oh, aí está uma pergunta interessante. - Ele dá uma risada sarcástica. - Vamos lá, sentem-se. Podemos discutir isso civilizadamente. Afinal, todos nós temos interesses em jogo aqui.

- Somos pessoas com agenda cheia. Não temos tempo a perder para sentar. - Ash responde asperamente, e o sorriso dele só aumenta. Parece tirar um certo prazer da provocação.

- Estamos à procura de respostas. - Clara diz firmemente, com os seus olhos cravados no homem e, de seguida para Jéssica, como se a estivesse a ameaçar diretamente. - E parece que vocês têm algumas.

O homem de fato abre ainda mais o sorriso, revelando um brilho sutil de dentes brancos e perfeitamente alinhados.

- Respostas, certo. Bem, todos procuramos algo, não é? Eu, por exemplo, procuro... poder. E vejo que vocês também têm os vossos motivos. - A sala mergulha em um silêncio tenso, e a presença ameaçadora do homem de fato paira sobre nós como uma sombra sinistra. Sabemos que esta conversa está longe de terminar. Ele acomoda-se no sofá, divertindo-se ao girar os cubos de gelo dentro do copo. - Já conhecem a minha esposa? Como já repararam, não é uma pessoa de muitas palavras. - Ele a apresenta como um objeto, e a expressão de Jéssica, embora confiante á primeira vista, revela uma tensão subjacente. O seu sorriso social é uma máscara para esconder os seus olhos cansados e receosos. Tento não me deixar envolver em pensamentos de empatia, mas é difícil ignorar a luta interna que todos enfrentam. Olhando para os meus companheiros, percebi que cada um enfrentava os seus próprios demónios internos. Esse demônio não era apenas um conceito abstrato. Ele tinha um nome e um rosto, desafiando-nos a resistir à sua influência e às lembranças que evocava.

A Cabana das Janelas VermelhasOnde histórias criam vida. Descubra agora