XXIII - Inverno. Neve e café quente.

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Semanas haviam se passado desde o encontro dos dois.

- O que você acha sobre chalés e cachecóis? - Mia-lena perguntou ao seu amigo, enquanto rabiscava qualquer coisa em seu caderno de desenhos.

Edgar deu de ombros, bebericando uma xícara com café quente. Tão quente que queimava sua língua mas ele gostava da sensação.

- Para dizer a verdade, eu nem ao menos sei o que é isso...

Mia-lena olhou para ele, de soslaio. Não queria falar algo que pudesse ferir seus sentimentos, tinha noção de que Edgar havia sido criado de uma forma diferente da dela, mesmo que ela tivesse sofrido bastante nas mãos de sua madrasta, ela pudera aproveitar bem cada estação do ano e o inverno era a sua predileta.

- Não sabe o que é um cachecol ou um chalé? - pergunta, séria.

Ele a olha, sobre os óculos. Esses que ele havia encontrado após revirar uma gaveta, com certeza seriam os óculos da avó da jovem.

- As duas coisas...

- Não é possível... - ela pondera, aflita, analisando a feição de Edgar, não queria dizer algo a mais, teria que medir suas palavras perante ele, principalmente ao ter aqueles olhos grandes e verdes olhando diretamente para ela, como se pudesse ler sua mente. Ela engoliu seco e prosseguiu - Venha, vou te mostrar.

Levantou-se, calçando as sandálias e ajeitando sua blusa de uma forma desajeitada. Seus pés estavam gelados, era algo que ela não gostava no inverno, o frio que o mesmo trazia, fora que havia passado maus bucados nessa estação, principalmente ao lembrar-se do fino lençol que usava para se cobrir. Arrepiou-se, apenas ao lembrar daquela época tenebrosa.

- Isso é um chalé. - sorriu, mostrando uma imagem em uma revista de época, Edgar observou aquilo com atenção, como se fosse a coisa mais importante do mundo.

- Normalmente chamamos isso de cabana moderna... - Edgar riu, jogando os braços para trás do pescoço, evidenciando seus músculos.

- Isso se chama chalé! - ela repreendeu, abrindo uma gaveta e tirando um cachecol azul escuro com listras brancas - E isso é um cachecol. - enrolou sobre o pescoço de Edgar, o homem captava cada pequeno movimento que a mesma fazia, ela estava tão perto e ao mesmo tempo tão longe. Seu lobo queria tê-la mais perto, queria poder cheirá-la, mordê-la, montá-la...

- Eu gostei. - Edgar sorriu em frente ao espelho, puxando um pouco o cachecol pois achava que estava apertado demais.

- É um presente para você. - Mia-lena sorriu, Edgar piscou para ela através do reflexo do espelho. Os dois ficaram se encarando sem dizer nada por longos segundos, antes da jovem se afastar, envergonhada.

- Então... - Edgar coçou a garganta, intimidado. Não sabia muito bem como agir próximo a jovem, ele a achava difícil, embora soubesse muito bem lidar com fêmeas... Mulheres. - Acho que terei que encontrar um presente para você...

- O que? Não. - Mia-lena negou, abanando as mãos, sorrindo delicadamente e Edgar quase suspirou ao notar que os dentes superiores dela eram grandes, como os de um coelho e ele achava aquilo a coisa mais fofa. - Presentes sem segundas intenções, não se preocupe e aliás, eu quero agradecer por você ter me protegido até esse momento e ter cuidado de mim...

Cruzou os braços, timidamente.

- Apenas estou protegendo a minha companheira e bem, acho que mesmo que não fôssemos nada, eu também estaria te protegendo. Você é legal e eu também tenho que te ajudar a me ajudar a ... Ler?

- Não agradeça, fiz isso porque gosto de você...

Ela deixou escapar, logo sentindo as bochechas esquentarem, virou o rosto rapidamente com o coração quase saltando do peito. Edgar sorriu, aproximando-se.

- Então você gosta de mim? Posso considerar isso um bom sinal, não é mesmo? - questionou, puxando o queixo da garota com delicadeza, afim de fazê-la olhá-lo. Ela piscou os cílios, olhando para ele, sentindo uma eletricidade percorrer por todo seu corpo, acendendo algo dentro dela que ela não podia decifrar.

- Um pouco... - disse, tentando ficar calma mas ao vê-lo olhar para baixo, basicamente para seus lábios, seu coração acelerou três vezes mais. Ela engoliu seco, tentando fugir do alcance dele, mesmo seu corpo não obedecendo mas ao olhar além daqueles olhos verdes e famintos, ela viu algo que há muito tempo não via e seu peito encheu-se de alegria.

- Neve! - praticamente gritou, ao empurrar Edgar, ela correu para a janela e saltou sobre a mesma.

- Neve. - Edgar repetiu, seguindo sua amada. Não importava o que ela fizesse, ele sempre iria se animar com qualquer coisa, a menor que fosse. Qualquer coisa que animasse sua companheira, iria fazê-lo feliz.

E então, o dia todo eles brincaram na neve, montando bonecos e jogando bolas de neve um no outro, rindo e se divertindo, fortalecendo ainda mais o laço do companheirismo. Nada e nem ninguém iria destruir isso.

Ou será que iria?

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