XII: Me apaixonando

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POV Jimin:

A primeira vez que a morte tocou minha vida, foi quando encontrei minha mãe, Areum, sem vida na cozinha. Uma mulher de apenas 41 anos, baixa e sempre sorridente, com cabelos negros e lisos que caíam até a metade das costas. Para mim, sua recepção era sempre calorosa: "Oi, filho! Como foi o seu dia? Quer bolo? Chá?". Já com meu pai, era diferente: um aceno de cabeça, raramente um toque. A imagem de seus olhos abertos na cozinha e sem vida, permanece vívida em minha memória. Até hoje, me lembro de ter contado meus passos até chegar nela antes mesmo de entrar em casa: 22 passos.

A cozinha, antes um lugar aconchegante e familiar, agora era um palco de tragédia. O corpo de minha mãe jazia no chão, frio e inerte, contrastando com a vivacidade que sempre a caracterizou. Seus olhos, antes cheios de alegria e amor, agora estavam vazios e fixos no teto. A dor da perda me consumiu, e os 22 passos que me separaram dela pareciam uma eternidade.

Como era possível que a mulher que iluminava meus dias com seu sorriso radiante estivesse agora sem vida? As lembranças de sua voz doce e acolhedora me atormentavam, tornando a realidade ainda mais cruel.

Na Numerologia, o número 22 representa indivíduos visionários, com capacidade de inspirar mudanças significativas no mundo. Essa descrição se encaixava perfeitamente em minha mãe: sensível, intuitiva e com um espírito livre que contagiava. Era como se ela fosse capaz de iluminar tudo ao seu redor. Sua presença era um bálsamo para minha alma, um refúgio seguro em meio às tempestades da vida. Sua risada era como música para meus ouvidos, e ainda hoje recordo com clareza seus passos dançando sozinhos pela cozinha, como se a vida fosse uma melodia que ela insistia em cantar. O amor que eu nutria por ela era tão profundo e intenso que transcendia as palavras.

E agora,  aminhando à frente de Jungkook e Teresa, abrindo caminho no bosque com meu facão em meio aos galhos e plantas que nos impediam de seguir em busca de um local seguro, não pude evitar de assimilar a morte de minha mãe com a de Kami. Lembranças da cena de três horas atrás corroem minha mente: seus olhos lutando pela vida, as lágrimas que escorriam pelo seu rosto, as tentativas desesperadas de falar algo, suas mãos se agarrando aos meus braços como um último pedido de ajuda. E então, o silêncio. O sino dela caído na grama, o luar se aproximando e banhando o solo nevado com sua luz pálida, testemunhando o sangue que manchava a terra. O azul escuro do céu, a última imagem que guardei antes da escuridão tomar conta de tudo. Uma culpa me consumia por não ter ficado ao seu lado na árvore.

Ainda ecoa em meus ouvidos o som estridente da flecha perfurando o ar no exato momento em que a disparei contra Joenne. A expressão de surpresa e choque em seu rosto enquanto tombava ao chão, dobrando os joelhos, e a vida se esvaía de seu corpo, jamais se apagarão da minha memória. Apesar de anos de treinamento rigoroso pela Capital no Distrito 2, nada me preparou para as consequências psicológicas de tirar uma vida. Isso não deveria ser minha responsabilidade. Isso não é um mero cardápio de pessoas onde posso simplesmente riscar os pratos que escolho para "consumir". Estou tirando vidas! Alguém no Distrito 2 aguardava ansiosamente o retorno de Joenne, assim como a família de Kami, que vivia no Distrito 12. A morte de cada um deles deixa um vazio irreparável.

— Jimin. - escuto alguém me chamar.

Namjoon, um. Anya, dois. Iseul, meu maquiador, três. Distrito 3, e quatro...

— Jimin! - me chama Jungkook, pondo a mão em cima do meu ombro.

Permaneço de costas, imóvel, meus olhos fixos nas árvores que nos cercam. Espero em vão por algum sinal de perigo, um som furtivo, um galho quebrado revelando a presença de um inimigo. Mas nada acontece. Jungkook me impede sem qualquer explicação. Me viro para ele. Sua expressão é de apreensão, os olhos escuros que antes brilhavam com confiança agora estão diferentes, carregados de uma incerteza. O suor escorre pelo seu rosto enquanto ele segura firmemente a lança, a mesma que pertenceu a Joenne.

Jogos Vorazes: O Sino [JIKOOK]Onde histórias criam vida. Descubra agora