A Noite de Dezembro

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Era dezembro, estava terrivelmente frio lá fora e nevava violentamente. Tudo estava silencioso porque nem mesmo os carros ousavam sair naquela nevasca infernal.

Sozinho em casa, Satoru havia desligado o celular porque não queria falar com ninguém, restaria apenas aos amigos as mensagens de textos, as quais ele leria no dia seguinte e talvez as respondesse com seu típico e falso bom humor. Por hora era apenas ele saboreando a fria e indigesta solidão. Era seu aniversário de vinte anos e também a primeira vez que passaria sozinho, afinal, Suguru havia sido expulso da escola de jujutsu e eles não se viam há meses.

Sendo assim, que importava seu aniversário? Que importava qualquer coisa? Satoru estava amargo como nunca. Amargo e triste, profundamente deprimido e solitário. Sentado sozinho na mesa da cozinha bebendo diretamente do gargalo de uma garrafa de soju.

Shoko havia insistido para que ele comemorasse seu aniversário com os amigos, ela queria fazer uma festa no karaokê como nos anos anteriores. Todos os outros estariam lá, mas de que adiantava o resto se Suguru não estaria? Afinal, onde ele estava? Nos últimos meses Gojo havia ido até o seu apartamento e sempre era em vão. Ele nunca estava, ele nunca atendia aos seus telefonemas, aliás, aquele número ainda existia? Nada, nenhuma forma de comunicação, ele havia sumido como se nunca houvesse existido e, se não fosse pelos outros, Gojo chegaria a um nível de loucura que acharia mesmo que Geto Suguru era apenas fruto da sua imaginação.

Mais um gole. Ele virou a garrafa nos lábios e apertou os olhos com força quando o líquido desceu, não pelo amargor do álcool e sim porque queria chorar. Quanto mais pensava, mais tinha vontade de chorar. Uma raiva começa a crescer no seu peito, tinha vontade de quebrar tudo, mas para quê? Isso não o traria de volta, isso não responderia nenhuma das suas perguntas.

"Que vida miserável a minha." — pensava ele consigo mesmo.

Gojo era uma criatura exageradamente altiva. De humor ácido e cheio de si, passava para os outros sempre uma imagem despreocupada. Parecia não se importar com nada, exceto consigo mesmo e sua infinita vaidade. Mas Geto sabia a verdade, Geto o conhecia completamente. E agora ele não estava lá.

Em um suspiro longo, ele abandonou a garrafa por um momento e se levantou. Abriu a porta da varanda do apartamento e botou a cabeça para fora. A neve já começava a se acumular ali, o vento frio doeu quando lhe bateu no rosto, a cidade já começava a ser enfeitada para o Natal, as luzes piscavam ao longe. E então uma batida na porta.

"Será que ela veio mesmo eu dizendo que não?" — ele pensava em Shoko quando, lentamente, caminhou até a porta e olhou pelo olho mágico.

Não podia ser.

Surpreso, ele abriu a porta, sem óculos para esconder a expressão de espanto no olhar. Os pés-descalços, o moletom cinza amarrotado e o cheiro forte de álcool no corpo.

— Voc... — ele se quer teve tempo de pronunciar a palavra completamente.

Era Geto, ali, do outro lado da porta. Os cabelos longos e parcialmente soltos estavam cobertos pelos flocos brancos de neve, a roupa preta igualmente manchada pelos cristais que logo iriam se derreter e o deixar molhado. Ele respirava ofegante, como se tivesse corrido até ali, tinha a ponta do nariz vermelha devido ao do frio e como de costume cheirava a cigarro.

Suguru levou a mão direita até a nuca de Gojo e o beijou nos lábios repentinamente. Inicialmente Satoru não reagiu, manteve os olhos abertos e o corpo paralizado. Então, sem desgrudar os lábios dos de Geto, ele o puxou para dentro e fechou a porta. Em seguida empurrou o corpo de visitante contra a madeira escura dela, as mãos tocavam-lhe o rosto incrédulo, seus olhos agora fechados deixavam escapar lágrimas desobedientes. O coração de Satoru batia tão forte que ele tinha medo que Geto o ouvisse.

A NOITE EM DEZEMBROOnde histórias criam vida. Descubra agora