Minhas blusas são todas remendadas.
Eu não sei o que acontece, sempre compro uma nova na esperança de me manter agradável aos olhos de quem me vê, mas quando menos espero surge um fiapo solto na costura.
Eu encaro, não sabendo o que fazer para lidar com aquele pequeno problema. Eu puxo, mas a costura solta mais. Eu travo.
Era sempre assim, eu tentava resolver e o que era apenas um pequeno problema, se torna algo cada mais desagradável. Eu odiava aquilo. Como uma força impossível de controlar, eu puxo mais aquela linha, mais, mais, mais. Até que ficasse impossível de ignorar o estrago.
Não contente, seguro minha bolsa de costura nas mãos, decidida a consertar todo aquele terrível erro, eu tento. Eu tento mais e a blusa vai se desfazendo aos poucos em minhas mãos, como se fosse algo que eu nunca tive, como algo transformado para sua pior forma, me pergunto se eu tenho esse poder com as coisas. Minha raiva é tanta que a agulha que segurava perfura a pele do meu dedo, eu encaro meu sangue, transtornada.
A agulha pairava no chão jogada pelo susto, o sangue pingava na minha blusa que já não tinha mais salvação. Eu encaro a agulha no chão, e uma lágrima involuntária desce pelo meu olho esquerdo, pela dor. Mas qual das dores?
Eu me levanto, abandonando a blusa estragada, minhas linhas e aquela maldita agulha no chão. Meu dedo ainda sangrava, mas eu me garantia em somente ignorar todas aquelas lágrimas que desciam desesperadamente como se só estivessem esperando uma brecha, apertava meu corpo em uma tentativa falha de me fazer desaparecer, sem querer admitir.
Eu não poderia mais evitar todos aqueles remendos mal feitos se eu não quisesse sangrar.