Entre o Passado e o Presente

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Boa leitura

Eu já conhecia aquela história, mas não da forma como estava escrita no diário. Sabia que meu nome havia sido escolhido pela minha mãe, e o quanto ela gostava de amoras, um gosto que acabou sendo passado para mim ou enfiado garganta abaixo pelo meu pai. Já que desde que nós mudamos para essa casa, depois dele.enfim ter conseguido comprar uma casa própria com o dinheiro do seu segundo livro, plantou várias pés de amoras no quintal e no jardim em frente de casa.

"-Essa é a fruta favorita da mamãe. Ela ia gostar muito de ter sua própria amoreira."

Me lembro dele dizer isso. Nos anos depois a única coisa que ele se importava mais além de mim e de seus livros, era em fazer aqueles pés de amora darem frutos, o que levou um bom tempo, como ele dizia, algo que havia aprendido com a minha mãe, era que amoras são um pouco enjoadas e precisam do lugar certo para darem frutas e estarem sempre bem cuidadas.

"-Elas só precisam estar felizes. Igual eu!" -Foi o que eu disse quando ela começou a ficar desanimado por suas amoras não darem frutos.

"-Você está certa Amora. Sua mãe não iria desistir de ter suas próprias amoras em casa. "

"-Além de miiiim!" -Respondi animada, por ter sido um nome dado pela minha mãe, por isso estava ansiosa para que as amoreiras desses frutos."

Uma vez na beira de um rio bem poluído, aonde descartavam esgoto, haviam três amoreiras bem carregadas, o que colocou em cheque o que o discurso que a minha mãe havia passado para o meu pai pregava. Aquelas amoras não pareciam nenhum pouco frescas por darem frutos em um lugar como aquele.

"-Olha papai aquelas amoras estão felizes." -Disse animada mostrando a ele.

"-É você tem razão." -Ele disse enquanto mexia no cabelo, ele faz isso quando está confuso. -Se sua mãe estivesse aqui ia fazer ela me explicar como isso foi possível. Talvez devesse investir em um adubo melhor"

Insisto muito naquele dia para que ele me deixasse comer aquelas amoras, ele só aceitou depois que viu outras crianças se aproximando animadas e colhendo suas próprias frutas, comendo ali mesmo direto do pé. Lembrar disso me veio na hora o comentário da minha sobre crianças, me fazendo rir agora. Aposto que se ela estivesse com a gente naquele dia, ela não pensaria duas vezes e me deixaria comer as amoras, na verdade seria a primeira correr na frente, antes que as crianças pegassem as melhores amoras.

Como papai era alto conseguiu pegar as amoras que estavam mais no topo, aonde estávam as mais maduras e roxinhas, fora do alcance das outras crianças. Na hora que mordi aquela frutinha e senti o gosto doce na minha boca, fiquei muito animada e feliz, foi quase como se eu pudesse sentir que a minha mãe estava ali comigo também; e talvez ela realmente estivesse. Gosto de pensar que estava.

"-Nossa essas são as amoras mais doces que eu já provei." -Foi o que o meu pai disse na hora.

Depois daquele dia ele passou a adubar melhor a terra aonde as amoras estavam plantadas, além de dar a elas mais vitaminas e fósforo. Em alguns dias os primeiros frutos começaram a surgir, o que não deixou ele muito feliz. Até hoje sempre que as amoras dão frutos, esperamos elas ficarem bem maduras e depois fazemos vários doces, principalmente geleias, como meu pai fez a dois dias antes. Acho que todas as vezes que ele come um amora, ele se lembra da minha mãe e se lembra daquele dia que passaram juntos. As vezes, quando as amoreiras estão bem carregadas, ele fica sozinho encarando elas enquanto toma seu café, e as vezes o pego sorrindo para o nada; com certeza está pensando na minha mãe.

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Um Namorado Para O PapaiOnde histórias criam vida. Descubra agora