14 | Limpeza de ano novo

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Rain came pouring down
When I was drowning,
That's when I could finally breathe

A chuva despencou
Quando eu estava me afogando,
Foi quando finalmente consegui respirar


Clean

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10... 9... 8... Opa!

A reclamação é coletiva quando a lancha se inclina perigosamente para a direita. Mesmo deitada, eu escorrego de leve na superfície lisa e estofada em que estou, na parte da frente da lancha, e agarro o corrimão de ferro ao meu lado para me sustentar.

Bianca Miyashiro, uma das atacantes da Seleção, estava deitada ao meu lado e quase acaba em cima de mim com o movimento. Ela está segurando uma garrafa de espumante em uma mão e uma latinha de cerveja na outra, e um pouco de cerveja se derrama entre os meus seios.

Pelo menos agora estou só de biquíni e não com alguma roupa que pode ficar manchada, já que o ritual de derramarem bebida alcoólica em mim segue firme e forte. Solto uma risada que carrega um pouco de terror, porque estou no meio do mar e as ondas ficam cada vez maiores, mas também bebi espumante demais para simplesmente não rir da minha desgraça.

Ou melhor, da nossa desgraça.

Olho por sobre o ombro na direção de Tati, que está com o namorado, ambos atrás de um vidro baixo e sob a proteção de uma lona azul-escura. O cara está com as mãos no volante no que deve ter sido um gesto automático, porque estamos parados no momento.

Atrás deles, em um banco estofado na outra ponta da lancha, Alana está acompanhada de Nadine Xavier, e juntas elas formam nossa dupla principal de goleiras. Encontro o olhar de Nadine, que levanta os polegares e me dá um sorriso. O medo deve estar estampado na minha cara, mas forço um sorriso de volta.

Depois olho para Bianca, que sai de cima de mim e volta a se deitar ao meu lado, retomando a contagem regressiva:

— 9... 10... — Ou, bem, pelo visto retomando só uma contagem, mas se esquecendo da parte em que deveria ser regressiva.

Eu franzo a testa, percebendo o erro, mas as outras emendam a contagem aos gritos, então dou de ombros e faço o mesmo, todo mundo entoando:

— 11... 12... — Até que os fogos explodem no céu e a gente grita: — Feliz ano novo!

As cores iluminam a pele bronzeada das minhas pernas, estiradas na direção da ponta da lancha, e olho para o lado para ver os fogos de artifício refletidos nos olhos de Bianca. Ela está sentada meio de lado e grita alguma coisa que não compreendo. Com o rabo de cavalo totalmente torto, o cabelo castanho cheio de frizz e o asian flush que diz odiar, ela é o total oposto da menina certinha que finge ser diante da comissão técnica, o que me faz rir como uma idiota porque a adoro por isso.

Ela exclama:

— 2024, porra! — Depois ergue a garrafa de espumante e a latinha de cerveja, bebendo um gole de cada.

Eu tento memorizar tudo. Nunca vivi um réveillon assim, com amigas, e agora me dou conta do que estava perdendo.

Olho de novo para trás, e Tati e o namorado estão se beijando, as mãos dele ainda no volante da lancha. Sinto uma pontinha de inveja por ela ter quem beijar, mas só uma pontinha. Alana e Nadine se abraçam, depois começam a engatinhar juntas até onde Bianca e eu estamos, mas no caminho precisam passar por Tati e o namorado e acabam os separando.

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