Enquanto a mulher andava de um lado para o outro, aguardando ser chamada, seu coração batia incontrolável em seu peito.
Nunca teve uma relação boa com seu pai, mas queria ter uma opinião sobre o que estava pensando em fazer e gostaria do apoio dele. Desde pequena, vinha até a prisão para visitá-lo junto de sua mãe, mas com o falecimento dela, começou a diminuir as visitas até parar de vez.
Sentia-se sozinha, era só ela contra o mundo inteiro, às vezes era como se fosse uma garotinha desprotegida que precisava do afago de seus pais para melhorar – algo que a mesma não possuía mais.
Ouviu passos se aproximando naquele corredor, mas não se importou em olhar, estava presa demais em seus pensamentos. Quando sentiu uma presença sentar na cadeira ao lado, a curiosidade falou mais alto e ela olhou.
Era um homem atraente, sua postura estava relaxada e ele também a observou quando percebeu que seu olhar caiu sobre si. Imediatamente ela virou o rosto, mas sentiu o mesmo ainda encarando-a, como se a conhecesse de algum lugar, o que para ela também era estranho, pois pensou já tê-lo visto.
— senhorita Kim Yoo Jung? — chamou uma mulher assim que a porta foi aberta, ela se levantou imediatamente — a senhorita pode me acompanhar.
Ela pegou sua bolsa que havia deixado ao lado da cadeira em que estava e deu somente mais um olhar para o homem, que não hesitou em retribuir ainda com uma expressão confusa.
Elas passaram por um corredor extenso muito bem conhecido pela Kim, até a garota atravessar a porta e ver várias cabines com telefone ao lado e pessoas sentadas nos banquinhos, conversando com os presos. Assim que seu olhar pousou no único banquinho restante, a imagem de seu pai veio ao seu encontro, dando uma sensação estranha em seu peito.
Ele estava completamente diferente de quando ela lembrava, sentia seus batimentos mais rápidos assim que se sentou. Ele a olhava com admiração, sua filha já era uma linda mulher, ele sabia de tudo o que perdeu da vida dela enquanto estava ali dentro.
Yoo Jung não tinha nem seis meses quando seu pai foi preso, então sua mãe teve todo o trabalho de cuidar dela. A mesma respirou fundo e pegou o telefone ao lado, colocando na sua orelha, seu pai fez o mesmo.
— Como você está linda! — sorriu aberto — Como passou o natal e o final de ano? Tem alguma novidade? Algum namorado novo?
A mulher sorriu, era bom ver que ele se preocupava tanto assim.
— Na verdade, pai... — respirou fundo — Eu vim aqui pra te contar o que estou prestes a fazer.
Ele a olhou preocupado, segurou o telefone mais forte em sua mão e olhou fundo em seus olhos.
— Eu estou cansada da vida que levo aqui em Cheongju, minto demais em meu trabalho, mal consigo dormir em paz e nem dinheiro para passar o mês eu tenho direito! — sentia uma lágrima teimosa querer descer — E então... A mamãe morreu e o meu mundo caiu, eu não consigo suportar tudo isso sozinha, pai... E-Eu me inscrevi na Universidade de Ulsan ano passado, eles têm um programa de bolsas que irá me ajudar muito e finalmente vou poder me ver livre dessa minha vida medíocre!
Seu pai a olhava com uma expressão de sofrimento, se estivesse lá fora, com certeza ajudaria sua filha. Todos estavam sofrendo por sua causa, sua mulher morreu por sua causa.
— Eu entendo, Yoo. Quero que seja feliz nessa sua nova vida, você é uma mulher jovem e inteligente, tenho certeza que irá conquistar mais coisas ainda.
— Appa...
A mesma não aguentou e deixou que suas lágrimas caíssem, sem se importar se as pessoas ao lado ouviriam, ela estava lutando tanto para não parecer vulnerável para os outros, mas com seu pai dizendo aquelas palavras e a olhando com compaixão, fez com que as emoções viessem fortes.
Tudo estava preparado para a sua saída, Yoo Jung havia comprado a passagem de ida para Ulsan e assim que se instalasse corretamente na Universidade, poderia começar as aulas.
O único obstáculo agora, era sair daquele trabalho. Não se orgulhava de trabalhar ali, eram pessoas medíocres e mentirosas e ela já estava se tornando uma.
Porém, assim que passou seu crachá na máquina de ponto, pôde ouvir um alvoroço vindo da parte de dentro. Ela rapidamente andou até onde estava todo aquele barulho e se surpreendeu ao ver um homem trajando um moletom e com um taco de beisebol nas mãos. Ele estava de costas para ela, então a mesma não conseguia vê-lo corretamente, porém o mesmo gritava descontrolado com um dos vendedores.
— Vocês são piores que pragas! — disse, acertando em cheio a mesa do gerente e espalhando suas coisas pelo chão.
Assim que ele se virou para fazer isso, seu olhar se encontrou com o de Kim Yoo Jung e ela se surpreendeu em ver que o conhecia. Era o mesmo homem que sentou ao seu lado no corredor, enquanto a mesma esperava ser chamada para ver seu pai.
Ele sabia que já há tinha visto antes, ela fazia parte daquele ninho de cobras em que sua mãe se meteu.
— Por favor, se acalme, senhor. Nós podemos conversar pacificamente. — disse um dos vendedores. Aquela sala estava cheia de gente tentando acalmá-lo.
— Pacificamente? Então porque quando minha mãe veio até aqui para conversar, vocês não deram a mínima para ela e ainda por cima tiraram mais dinheiro que ela nem tinha? Imundos!
Novamente um golpe foi acertado em cheio na mesa, fazendo a tela do computador se partir ao meio.
Yoo Jung começou a se lembrar vagamente da mãe do mesmo, pois eles tinham vindo mês passado até a loja para comprar ações, e como sempre, foram enganados igual muitos. Porém a mãe dele foi ainda mais prejudicada, por ser uma senhora de idade e muito rica, estavam sempre prometendo coisas para ela e nunca entregando o resultado.
Por esse motivo e outros também, a Kim não suportava mais trabalhar ali, era como se estivesse cavando a própria cova. Não tirava o direito do mesmo de ficar bravo, com certeza se enganassem sua mãe não agiria diferente.
Com mais alguns minutos, ele ameaçou todos que estavam ali dentro e saiu, como se não tivesse feito nada. Todos respiraram em alívio, não sabendo o que poderia acontecer se caso ele tentasse mais alguma coisa. E claro, chamar a polícia estava fora de cogitação nessa empresa.
Yoo Jung estava desnorteada, mas continuou seu caminho até o gerente geral, que agora tinha toda a sua mesa quebrada e entregou a carta de demissão. Ele pegou de suas mãos e franziu as sobrancelhas, não acreditando.
— M-Mas... Kim Yoo Jung, ficou maluca? Você é a nossa melhor funcionária!
— Eu me sinto muito mal por saber disso, mas não posso continuar fazendo algo que não me faz bem. Irei embora amanhã para Ulsan.
A mesma deu uma breve reverência para ele e foi até a sua sala para pegar suas coisas, não tinha sido impedida e nem seguida por ninguém.
Todos olhavam pra ela curiosos, enquanto a mulher guardava seus pertences em uma caixa, a partir de amanhã, seria uma nova pessoa e não quer que nada do seu passado a assombre novamente.
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Enemies To Lovers
FanfictionKim Yoo Jung estava cansada de viver a vida que levava, por isso resolveu se inscrever em uma Universidade em Ulsan e deixar para trás todo o seu passado. O que a mesma menos esperava, era que a verdade poderia vir à tona através de Song Kang. todos...