Surprise - Short-fic Kelmiro

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Nessa história o vocabulário de Ramiro está mais rebuscado porque se esforçou nos estudos no decorrer do tempo. 

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A noite era serena e tranquila. O quarto estava iluminado somente pela luz do luar da Lua Cheia e a brisa agradável balançava as folhas das árvores, criando uma melodia adorável da natureza junto aos sons dos insetos. Ramiro havia ganhado dinheiro extra pela primeira vez após o pôr do Sol. Tudo contribuía para descansar satisfeito na cama depois de um dia comum de trabalho e entregar-se ao sono merecido. Porém, não era o caso.

Dentro do banheiro, esfregava as mãos na água corrente da torneira há cerca de vinte minutos. O sabonete já estava quase no fim e, embora não houvesse vestígio de sangue contra a pele, a culpa o obrigava a esfregar as destras num silencioso processo de autoflagelo, já avermelhadas e doloridas pelo atrito insistente.

Aos vinte anos Ramiro Neves era um homem castigado pelas dificuldades da vida. Não havia o ar de esperança, jovialidade e leveza tão presentes nessa idade. Pelo contrário. Mantinha as feições duras, o olhar carregado e o andar decidido e pesado, como se, por não ter certezas quanto ao futuro, precisasse sentir o chão duro sob os pés. Sua rotina era simples. Acordar, trabalhar, almoçar, trabalhar, voltar pra casa e dormir. Não era sociável e aprendeu a se impor com os peões para ser respeitado. Na hierarquia entre eles não havia espaço para cordialidades mais aprazíveis. Quem falasse mais alto e com maior brutalidade era quem mandava – e assim ele aprendeu a ser.

Naquela tarde havia sido designado a um novo trabalho com outros homens. O interesse financeiro e a necessidade falaram mais alto quando lhe contaram sobre a quantia extra. Por não ter um salário alto, vir da miséria e não ter acesso a oportunidade melhor de emprego pelo analfabetismo, deixou o bom senso de lado quando a voz da sua mãe lhe veio em mente como num aviso. "Quando a esmola é muita, o Santo desconfia". Mais tarde se arrependeria de ignorar as sábias palavras da mulher.

Quando cores laranjas e roxas pintaram o céu num belo Crepúsculo, o seu arrependimento começou. Junto a Antônio La Selva e outros cinco funcionários, dentre eles Sidney, estavam no meio da mata perto ao rio. A pobre vítima era um homem conhecido pela região por ser justo, trabalhador, esforçado e gentil. Em resumo, o modelo ideal de advogado. Trabalhava para alguém que processava o patrão e já tinha toda a documentação pronta cuja causa seria ganha caso chegasse às mãos do juiz. Documentação essa que se transformaram em cinzas quando invadiram a casa dele na madrugada anterior, quando o sequestraram. Estudava o caso assim como se acostumou a fazer para se assegurar cada vez mais das informações quando foi pego de surpresa e retirado de sua casa.

Antônio deu a arma com um silenciador nas mãos de Ramiro. Queria que fosse ele a fazer o serviço no meio da madrugada. O rosto impassível do patrão não precisava ser seguido de palavras para Ramiro compreender a mensagem silenciosa: se quisesse manter o emprego, precisaria ser homem o suficiente para puxar o gatilho.

A cada passo que dava em direção a vítima o aproximava mais do que se transformaria o seu destino. Desde que o sequestraram no meio da estrada evitou fita-lo. Fingia encará-lo para os demais não deduzirem que se sentia desconfortável perante o crime. Portanto, o observava por sobre os ombros e nas laterais da cabeça. Nunca no rosto. Sempre além.

O pobre coitado se transformara num moribundo após a surra. Estava sem o paletó e a camisa de botões, antes limpa e seca, agora estava manchada pela terra e molhada devido ao suor oriundo do nervosismo e do sangue. O nariz sangrava e o corte na têmpora já estava de coloração azulada. Ajoelhado no chão em meio às folhagens com os pulsos amarrados nas costas e uma fita tapando a boca, cercado de capangas do seu inimigo, não tinha a menor chance de sobreviver.

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