Capítulo 1 - Genevieve

9 2 0
                                    

Anos antes...

"Você precisa se inscrever gata" – Ashley me olha com tanta empolgação que chega a dar dó. Só consigo retribuir com um sorriso torto.

 - "Ash, você sabe que eu não tenho chance nenhuma, e mesmo que tivesse, eu não curto me apresentar" – Ashley me olha com desdém, típico dela quando vai me dar um dos seus longos sermões.

- "Gen, você precisa disso. É a sua chance! Ou você coloca seu nome aí, ou eu coloco, escolhe". – Ela me entrega a caneta com tanta convicção que até eu me convenço que posso ganhar o Nobel.

- "Você venceu, mas só por que é minha melhor amiga" – Sorrio genuinamente, enquanto escrevo meu nome na lista de presença para as audições do CollegeChord Clash. Que Deus me ajude.

Encontramos Harry no meio do corredor, sua mochila balança freneticamente por cima de seu ombro, enquanto corre até nós. 

- "Hey, se inscreveram para qual fraternidade? " – Faço uma careta e viro meus olhos. 

– "Ashley se inscreveu na Alpha Belle, e me forçou a tentar o CollegeChord Clash". – Isso mesmo, "tentar", só se entra para as audições quem é previamente aprovado, depois de se apresentar para uma plateia de alunos candidatos, veteranos e para quem mais tiver vontade de assistir. Santo Deus, eu não consigo.

 - "Ela está fazendo charme, coloca qualquer um no chinelo" – Minha amiga dá de ombro, enquanto, Harry cai na gargalhada e me dá dois tapinhas no ombro. 

- "Tente não vomitar como da última vez, Gen" – A última vez que ele se refere foi quando tentei me apresentar no trabalho de política e acabei entrando em pânico ao ver Thomas Garvin simulando coisas pesadas demais para serem mencionadas, na parte de trás da sala. Ok, eu deveria ter vomitado nele, mas infelizmente, os novos sapatos da Sra. Carter sofreram com o estrago e ela também.

 - "Estou enjoada só de pensar, mas, Ash se inscreveu na Alpha para ter tranças feitas no cabelo todos os dias e participar de disputas dos "Maiores peitos da Heights". Mico maior que esse não existe" – Meu amigo enruga o nariz ao ouvir isso. Assim como eu, Harry jamais entraria em uma fraternidade. Primeiro, o trote me causa dor de estomago. Segundo, não quero lavar carros só de biquíni.

 – "Em minha defesa, não quero perder nem uma festa se quer. E outra, jogadores amam as coelhinhas. " – Uma coisa ela tem razão, os JOFA (Sigla que criamos para - jogadores de futebol americano), tem um tipo de radar quando se trata de garotas de fraternidade. Juro, os caras dormem com todas, sem exceção. 

– "Eu faria a mesma coisa, mas gosto do meu quarto no Campus, a vista pelo menos dá para o gasto" – Ashley me empurra para passarmos pela porta de entrada da lanchonete. 

– "Pode ficar com a sua colega gótica da terceira dimensão e sua vista de árvores, eu fico com os gostosões ali" – Dou risada da ironia, quando a vejo apontar com o queixo na direção da mesa dos JOFA. Ok, em partes ela tem razão, os caras são gostosos demais para o próprio bem, e deve ter umas dez meninas jogadas no colo deles. Corro meus olhos pelos rostos mais conhecidos do Campus. Faz 6 meses que me mudei para a Heights e desde de o dia que cheguei o que mais ouvi de Ashley foi o nome de cada um desses caras. É, um show de testosterona.

 - "Aí... que merda! " – Olho o horário, faltam três minutos para a minha entrevista na cafeteria do Campus. Preciso de um emprego, não sou formada, nem estou perto mas sei que a minha residência na faculdade não vai se pagar sozinha e nem a minha bolsa parcial vai garantir isso. Pego minha mochila e levanto abruptamente da mesa.

- "Pessoal, tenho que ir" – Saio correndo sem dar chances dos meus amigos me desejarem sorte, nem preciso, eu sei que vão.

Entro na cafeteria do Campus, meu coração batendo mais rápido do que gostaria de admitir. A mistura de aromas de café fresco e conversas animadas preenche o ar enquanto observo estudantes apressados pegando seus lanches antes das aulas. Respiro fundo e me aproximo do balcão, onde um homem de meia-idade, vestindo um avental com o logotipo da cafeteria, me aguarda com um sorriso caloroso e os olhos curiosos por trás de óculos de armação grossa.

- "Genevieve Cox, certo?" – Ele pergunta, consultando a lista em suas mãos. Assinto nervosamente, sentindo o suor frio nas palmas das mãos. "Você está aqui para a entrevista, imagino."

- "Sim, sou eu, pode me chamar só de Genevieve". – Respondo, tentando parecer confiante. 

-"Sou o Sr. Morris, o proprietário, me acompanhe". - Ele me conduz até uma mesa em um canto mais tranquilo da cafeteria, onde a luz suave destaca a atmosfera acolhedora do lugar, aqui a conversa não será interrompida pelo burburinho constante.

Sentamos, e o Sr. Morris que aparenta ser de meia-idade ajusta seus óculos antes de começar a fazer perguntas sobre minha experiência e habilidades. Sua expressão é amigável, transmitindo uma mistura de experiência e paciência acumuladas ao longo dos anos no ramo. Seus cabelos grisalhos estão cuidadosamente penteados para trás, e ele parece atento a cada palavra que eu digo. Enquanto respondo às perguntas, tento transmitir entusiasmo e dedicação, destacando minha paixão pelo serviço ao cliente e meu desejo de contribuir para a atmosfera acolhedora da cafeteria. Nos detalhes sobre minha experiência como garçonete em trabalhos anteriores, percebo a importância de cada palavra para convencê-lo de que sou a escolha certa. No fundo, a competição acirrada por empregos no Campus ecoa em meus pensamentos. Sinto a necessidade urgente de pagar as despesas da faculdade, tornando cada resposta crucial para me destacar entre os candidatos.

Sr. Morris parece satisfeito com as respostas, e agradeço mentalmente por ter praticado tanto em frente ao espelho. Ele me informa que entrará em contato em breve e me acompanha até a saída da Morris&Morris, que criativo. Ao sair da cafeteria, encontro Ashley e Harry esperando por mim. Os dois me olham com expectativa, ansiosos por novidades.

- "Bem, como foi?" - Pergunta Ashley, impaciente.

- "Só vou saber mais tarde. Agora, preciso correr para a aula de Teoria Musical" – Meus amigos me acompanham para a aula e cada um segue seu próprio rumo. Ao entrar apressadamente na sala de Teoria Musical, o Sr. Patterson me recebe com um olhar que mistura desaprovação e resignação. Os murmúrios dos meus colegas diminuem enquanto encontro meu assento, e o Sr. Patterson começa sua palestra.

 - "Gen, espero que seu relógio esteja mais afinado hoje", ele brinca, recebendo risadinhas de alguns estudantes. - "O tempo é crucial, especialmente quando estamos falando de música."

- "Temo que atraso seja minha sinfonia, Sr. Patterson", respondo com um sorriso nervoso.

A aula avança, e estou tentando me concentrar nas explicações intricadas sobre harmonias e modulações. Quando ele pede que interpretemos uma passagem específica, tento articular uma resposta coerente, mas meu cérebro parece ter se transformado em uma partitura ilegível.

Ao fim da aula, ele me aborda antes que eu escape para o corredor. - "Gen, a música exige disciplina. Atrasos constantes não contribuem para um crescendo harmonioso."

- "Eu entendo, Sr. Patterson. Juro que vou melhorar", prometo, com uma ponta de desespero.

Ele suspira, parecendo mais resignado do que irritado.  - "Você tem potencial, Gen. Não o desperdice." - Com um aceno nervoso, saio da sala, determinada a acertar o passo na próxima vez.

Entre Notas e TouchdownsWhere stories live. Discover now