Quinta-feira lasciva.

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Eles sempre se encontram no mesmo local, frequentemente nos mesmos horários. Observá-los se tornou um fetiche, uma espécie de hobbie sexual.

Toda quinta-feira, Jeon e "ela" vem transar aqui nessa parte da biblioteca.

Se vierem hoje, será a sexta vez que faço aquilo: assistir o sexo deles enquanto me masturbo escondido.

Durante a semana, anseio por repetir minha nova perversão. A adrenalina parece nunca diminuir, o tesão parece nunca parar de aumentar. É sempre muito gostoso e eu sempre continuo desejando ver mais. Ou desejando fazer parte.

Mas isso nunca vai acontecer.

Já está quase na hora, e eu me apresso para terminar as anotações do meu trabalho, para estar livre antes de chegarem lá, naquele corredor.

Cinco minutos.

Dez minutos.

Quinze minutos.

Vinte minutos se passam e eu não ouço nenhum som; vozes, beijos ou gemidos.

Será que não virão hoje?

Me levanto e vou andando até o local. Parada antes da virada do corredor, estou tentando ouvir alguma coisa, qualquer coisa que me indique que eles estão ali. 

Mas não ouço nada.

Calma e cuidadosamente, dou mais dois passos para frente e, para a minha frustração, me deparo com o corredor vazio.

— Mas o que eu faço agora? — profiro em voz alta, falando sozinha, perdida em meus desejos, distraída em minha necessidade lasciva.

Quando dou um passo para me virar e tento ir em frente na direção da minha mesa, esbarro com um corpo sólido parado atrás de mim.

A surpresa e o choque da trombada me fazem soltar um som de susto, um suspiro trêmulo, mas logo a minha voz se cala quando me afasto e ergo o olhar, e então percebo de quem se trata.

Rosto bonito e delineado, olhos negros, cabelos escuros, semblante autoritário e uma sobrancelha arqueada para mim.

— Procurando alguma coisa? — diz, em sua inconfundível voz aveludada num tom rouco.

É ele.

— E-eu? — gaguejo para falar.

Imediatamente tento formular um pensamento lógico, mas o meu cérebro entra em pânico.

— Ah, sim! S-sim. Eu estou procurando algo... — enrolo na minha língua, arrastando em meu pensamento alguma mentira que faça sentido nesse contexto inegavelmente arriscado.

— Que seria...? — ele rebate, me olhando com um olhar investigativo, suspeito. — Algo como... — antes de deixá-lo terminar, eu me apresso:

— Como um livro! É claro.

— É mesmo? — diz, com um toque suave de deboche escondido em sua entonação e expressão facial. Minhas mãos soam frio enquanto ele continua dizendo, sorrateiramente: — Algo como um livro... — meu corpo todo colapsa, travo totalmente enquanto o rapaz dá um passo lento em minha direção. — Ou, talvez, algo como... alguém. Hm?

— O-o quê? Não... O que está querendo dizer com isso? Eu realmente estava procurando um livro! — entro em surto internamente, vasculhando minha cabeça em busca de um título de obra ou nome de algum autor, mas não consigo pensar direito; não enquanto ele dá mais um passo para perto de mim, me fazendo instintivamente dar um passo para trás. No entanto, ele se aproxima com mais um outro passo, sugerindo:

— Um livro, é? — novamente, um passo dele e mais um passo meu. — Será que você está mesmo procurando um livro? — mais passos, e logo estamos perto o suficiente para eu sentir a fragrância do perfume amadeirado. — Ou será que... — um último passo dele para frente e um último passo meu para trás e eu estou lentamente encostando minhas costas contra a parede enquanto ele, com calma, me prende entre ele e ela. Devagar, o mais alto continua a frase: — Está procurando por... outra coisa. — inclina a cabeça para sussurrar a última parte contra o meu rosto, bem perto.

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