Capítulo 6

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Indicação de música: Masquerade Suit: Waltz - Aram Khachaturian
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Você sabe que eu sou boa nessas coisas. É muito difícil que eu esteja errada sobre isso. - O tom de voz de Ana parecia bem sério enquanto olhava para Aziraphale. Antes ele tinha um sorriso no rosto mas naquele momento, ele parecia escorrer pelo rosto do rapaz como água pelas costas de um pato.

   Anathema, — que se recusava a todo momento ser chamada assim, sempre sendo chamada de Ana — não era da turma de Aziraphale mas o conhecia por um bom tempo. Tudo isso por conta da "aura dele".

   Ana vem de uma família cheia de tradições diferentes, nomes diferentes e profissões diferentes. Sua mãe decidiu seguir as tradições de uma ancestral dela, fazendo assim, ela crescer sabendo sobre cristais, plantas, previsões de futuro e acima de tudo, sobre a aura das pessoas. Era o que ela mais gostava de fazer. As vezes somente se sentava na escola e ficava tentando olhar a aura dos colegas antes de realmente virar amiga deles. Considerando que ela ficava encarando crianças por horas e o nome nada convencional, era de se esperar que ela não fosse a pessoa mais popular da escola.

   Com a prática levando a quase perfeição, quando conheceu Aziraphale, ela não precisava de todo o esforço de antes para ver o que procurava. E se caso alguém achasse estranho, ela poderia simplesmente colocar a culpa em seus óculos, visto que agora usava um por tanto tempo que as vezes até esquecia que estava com ele. Ela que foi falar com um Aziraphale novato e confuso, que nem mesmo era do seu curso porque ele tinha "uma aura amarela e grande". Aziraphale não entendeu nada, riu e aceitou a amizade de Ana.

— Eu jamais iria duvidar da sua habilidade em adivinhar coisas sobre as pessoas. Mas... Talvez você estivesse sem óculos quando viu ele? Ele é bem legal comigo, eu te juro! - Aziraphale dizia, tentando ao máximo não acabar criando uma sensação estranha de desconfiança da tradição de Ana. Ele não sabia como funcionava mas seria a última pessoa que iria desanimar alguém por algo que gosta.

   Mas assim que terminou de falar, queria ter escolhido ter ficado quieto. Porque o olhar que Ana lançou sobre ele o fez sentir que ela poderia começar um incêndio florestal se o fizesse por muito tempo na direção errada.

— Azi... Mesmo se eu estivesse de olhos fechados, eu saberia que tem algo de errado pelas pessoas com que ele anda. Você é de um bloco diferente mas eu sei o grupo de demônios que ele anda. - Ana afastou os livros para o lado e segurou as mãos de Aziraphale, o olhando no fundo de seus olhos. — Não quero que pare de ter amigos e é bom que saia um pouco da sua bolha social mas... Tome cuidado, tudo bem?

   Aziraphale pensou em discutir sobre isso. Defender a honra de Crowley mesmo que não soubesse quem são os amigos de Crowley ou que não tivesse algum poder mágico de ver auras. Mas tudo foi interrompido quando o namorado de Ana apareceu. Aziraphale orgulhosamente se considerava um nerd mas o namorado de Ana parecia o mais forte esteriótipo estadudinense de um nerd. Nem mesmo Aziraphale conseguia bater esse mérito. De toda forma, quando o namorado de Ana aparecia, o mundo se fechava entre eles e nada adiantava discutir. O apocalipse poderia estar acontecendo diante deles e eles nem ao menos notaria. Então essa foi a deixa para Aziraphale se despedir, pegando os livros em cima da mesa e saiu do refeitório, ainda tentando empurrar a culpa de não ter defendido Crowley em sua mente.

   Em sua frente, começou a pensar em todas as coisas que sabia de Crowley. Coisas boas e ruins e quando se viu colocando "me faz rir com comentários sarcásticos" em algo bom, reparou que sua lista estava enviesada e teve que jogar ela mentalmente fora. Foi quando se viu parado em meio as pessoas passando para sair da faculdade ou chegando nela. Foi quando viu também que Crowley estava se despedindo de alguém e parecendo o reparar ali também.

   Aziraphale tentou, durante aqueles poucos segundos de distância que estavam e que Crowley se aproximava, tentar ver algo parecido com o que poderia ser uma aura. Ele quase fechou os olhos como se tentasse ler algo ao longe mas aquela foi a primeira vez que Crowley parecia chegar rápido demais perto dele.

— Tá tudo bem com seus olhos, anjo? - antes que ele pudesse responder, Crowley tirou os óculos e colocou no rosto de Aziraphale. — Por isso que estou sempre de óculos.

— Eu estou bem! Não é... Você gosta de vermelho? - Aziraphale perguntou meio confuso antes de tirar os óculos de Crowley. Ele não tinha uma visão exemplar e o óculos de Crowley não ajudava nisso. Ele se perguntava porque o próprio Crowley usava já que não dava pra ver nada direito.

— É minha segunda cor favorita, na verdade. Por que?

   Como ele poderia explicar, de uma forma que não parecesse ruim, que achava que se tivesse visto uma aura, a de Crowley parecia vermelha. Vermelha era algo ruim nas representações artísticas mas será que isso funcionava para o mundo espiritual também.

— Nada... Nada! É só que você me lembra vermelho. O que é bom! É minha cor favorita.

   Por um momento, Aziraphale poderia jurar que quase viu um sorriso começar a formar nos lábios de Crowley mas se ele fez, somente colocou o óculos de volta e engoliu o sorriso, dessa vez passando a segurar os livros de Aziraphale. Essa é uma das coisas boas que estava na lista de Aziraphale, mais cedo. Ele carrega os livros dele quando está por perto.

— De onde você tirou outro livro dessa Agnes? Eu só vi uma pessoa com um livro desses e ela não parecia do tipo que emprestava.  - Crowley disse enquanto olhava para a capa do livro que estava no começo.

   Assim que escutou, Aziraphale segurou a mão de Crowley, tombando o livro em sua direção para ver se ele estava com um livro que não se lembrava e assim que viu o nome, sabia o que tinha acontecido. Estava com o livro de Anathema.

— Não... É da minha amiga. Eu preciso devolver. Eu te encontro depois na cafeteria? - Aziraphale parecia ansioso demais para ver que Crowley parecia em choque demais pra responder e só concordou com a cabeça. — Tudo bem. Obrigado, querido.

   Uma vez Crowley assistiu orgulho e preconceito e tudo que sentiu assistindo o filme foi preconceito. Ele realmente não entendia como alguém poderia gostar de alguém tão insuportável como o Darcy parecia. Ele não entendia toda aquela cena de toque de mão que ouvia as pessoas falando tanto mas enquanto carregava os livros de Aziraphale para a cafeteria, ele parecia entender. Parecia entender muito bem.

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Olá novamente! Voltamos a programação normal.

• Patos são muito citados durante toda a trajetória de good omens e aqui eles vão aparecer algumas vezes.

• Não pretendo trazer toda a religião da Anathema aqui porque não quero que pareça que estou sendo desrespeitosa com isso.

• As músicas clássicas normalmente representam mais o lado Aziraphale da história, músicas com letras normalmente são ponto de vista do Crowley.

• Pergunta importante: vocês escutam as músicas das indicações? 🤨

Arte da capa: @den_0618 no twitter

Young Omens - AU AziracrowOnde histórias criam vida. Descubra agora