DESABROCHAR DO AMOR
AUTORA: LIV BLANCCO
Capítulo 1 — Uma nova Esperança
Caminhava de forma nostálgica pelo caminho de pedras que conhecia de olhos fechados. Aquela mal parecia a residência que tanto frequentara na infância, onde passava incontáveis horas de seus verões, brincando de bonecas, no jardim que agora jazia abandonado com suas flores secas. Quem passasse por ali pensaria que a casa estava abandonada: coberta de heras irregulares, grama alta e lixo. Diferente de outrora, quando o lugar irradiava cores e beleza.
Munida de sua chave reserva girou-a na maçaneta sendo recebida pelo mau odor, sabia que seria difícil, mas era necessário, não podia mais ficar de braços cruzados perante aquela situação, tinha de intervir.
Sua vontade era gritar com aquela mulher — que considerava sua melhor amiga por se tratar de maneira tão degradante, porém não conseguia. Como poderia dizer algo assim a ela depois de tudo? Aquela era uma forma de atravessar o luto, por mais que doesse vê-la daquela maneira. No último ano ela parecia perdida, fragmentada e até mesmo a aura ao seu redor era pesada, análoga ao ambiente da casa insalubre, com resto de comidas jogadas aos cantos, e bebidas alcoólicas aos montes... era deprimente.
— Vamos lá, hora de acordar Hope! — Exclamou sorridentemente, puxando as cortinas pesadas do aposento da mulher, fazendo o quarto se inundar da luz solar que há muito o ambiente não presenciava.
O corpo jogado sobre a cama nem sequer deu sinais que se moveria. Seria mais complicado do que imaginara a princípio, mas estava pronta para aquele desafio. Sacudiu o tronco magro, porém ela estava inerte. Aquela mal se parecia a sombra daquela a quem considerava como uma irmã: os cabelos antes brilhantes estavam opacos, sem vida e o cheiro que provinha dela era desagradável—resultado de dias sem a higiene necessária.
Por Deus, como as coisas haviam chegado naquele ponto?
— Hope, Hope?
Checou o pulso, os batimentos estavam fracos e ela estava estática, não respondia a nenhum estímulo.
Ela não poderia?
Nem sequer podia conjecturar algo assim. Pescou o celular no bolso da calça e discou os números já decorados de forma ágil e desesperada.
— Por favor, por favor, atenda!
❀❀❀
— Vá embora Yvy, me deixe sozinha — Pediu fracamente, com a voz rouca, devido ao pouco uso. Os lábios lhe pareciam lixas roçando contra o outro para produzir som. A primeira coisa que viu ao acordar foi a amiga no quarto, sem nenhuma maquiagem, o rosto plácido e sério.
— Eu não posso aparentemente. Hope, você faz a remota ideia do quanto você me assustou? Achei que você tinha tentado...
Hope revirou os olhos cansada, quando iriam entender? Ninguém no mundo poderia ajudá-la, ela só queria que a dor fosse embora, que aquilo tivesse fim.
— Não recordo de lhe pedir nada, a única coisa que eu iria agradecer e que me deixasse sozinha, isso sim seria uma dádiva — ela disse puxando sem nenhum cuidado o acesso do seu braço para se livrar do soro, não estava à vontade para discutir sobre nada naquele momento. Levantou-se de forma débil sem nenhum sucesso em demonstrar algum vigor, se a amiga não tivesse um bom reflexo ao ampará-la o seu corpo desabaria no chão.
Sentiu brotando a vergonha em seu íntimo por aquele comportamento, mas não era como se conseguisse evitar. Não queria a princípio aquele resultado, não foram ações planejadas que culminaram no presente.
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Desabrochar do amor
RomanceGien é um homem solitário, desiludido com a ideia do amor. Para salvar o hospital da família aceita se casar por conveniência, em meio a isso, a sua irmã é acometida por uma doença. Hope Muller é a médica designada para ajudar em seu tratamento, a s...