Capítulo 1: O Chamado Inesperado

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A renomada cardiologista Helena Miller estava no meio de uma reunião importante em seu consultório em um hospital de prestígio na cidade de Porto Grande quando seu telefone celular começou a tocar insistentemente. Ela se desculpou com seus colegas e saiu da sala para atender a ligação, sem ter ideia de que sua vida estava prestes a mudar de maneira drástica.

Ao atender o telefone, a voz de um homem, que ela não reconheceu de imediato, soou do outro lado.

- Dra. Miller, sou o advogado de seu pai, Dr. Miguel Miller de Vintervile.

Helena franziu a testa, surpresa ao ouvir falar de seu pai depois de tantos anos de ausência.

- Advogado de meu pai? O que você quer?

O advogado continuou com uma voz séria:

- Sinto informar que seu pai faleceu esta manhã. Ele deixou instruções para entrar em contato com você imediatamente após sua morte.

As palavras a atingiram como uma onda. Helena não tinha palavras para expressar a enxurrada de emoções que a inundou. Ela tinha escolhido afastar-se de seu pai por causa de diferenças irreconciliáveis, mas agora ele estava morto.

- Estou enviando um avião particular para buscá-la e levá-la a Vintervile o mais rápido possível. O funeral será realizado nos próximos dias e a leitura do testamento está marcada para daqui alguns dias, disse o advogado.

Helena balbuciou, ainda atordoada:

- Eu... Eu preciso fazer alguns preparativos.

- Por favor, Dra. Miller, é importante que você chegue o mais rápido possível. Há assuntos a serem resolvidos, e seu pai deixou instruções claras de que gostaria de sua presença. O advogado insistiu.

Após desligar o telefone, Helena se viu parada, olhando para o horizonte, perdida em pensamentos. Sua mente estava cheia de memórias do passado e da relação conturbada com seu pai. Ela sabia que uma jornada de volta à sua cidade natal estava prestes a começar, uma jornada que traria à tona não apenas o luto, mas também segredos do passado que ela nunca imaginara revelados. Helena gostaria de evitar seu retorno a Vintervile, mas ela também se sentia no dever de ir e assim o fez. Afinal de contas, era seu pai.

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Helena Miller estava no avião, a caminho de Vintervile, para o funeral de seu pai. Ela sentia-se sozinha, mergulhada na escuridão, exceto por um enxurrada de memórias que começavam a surgir. Ela vislumbrou a causa das diferenças entre ela e seu pai se desenrolando diante de seus olhos.

Era um dia quente de verão, anos atrás, quando as sementes do conflito foram plantadas. Helena havia acabado de se formar na faculdade de medicina e estava determinada a seguir sua carreira em cardiologia em uma cidade grande. No entanto, seu pai, Miguel, que era o médico-chefe do hospital de Vintervile na época, tinha outros planos para ela. Ele acreditava que ela deveria retornar à cidade natal e assumir seu lugar na equipe médica da cidade. Os dois já haviam entrado em embate várias vezes.

No calor das discussões, palavras amargas foram trocadas entre eles. Miguel argumentava que a medicina em Vintervile precisava de mais médicos, enquanto Helena insistia que ela tinha o direito de forjar seu próprio caminho. As tensões aumentaram à medida que a divergência de opiniões se transformou em uma briga que deixou cicatrizes emocionais profundas em ambos.
Mas havia algo mais, algo que pairava como um segredo não dito entre eles. Helena tinha escondido parte de sua verdadeira identidade de seu pai por anos. Ela sabia que sua sexualidade não seria aceita facilmente na pequena cidade de Vintervile e nem conseguia imaginar qual seria a reação de seu pai. Além de uma profunda mágoa que ela sentia pelas inúmeras traições do pai para com sua mãe. Ela havia falecido anos atrás e agora os dois estavam mortos. Helena sentia-se sozinha.

CORAÇÕES EM CONFLITOOnde histórias criam vida. Descubra agora