FRONTEIRA - Gerson Santos

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DUAS SEMANAS ANTES

NO MEU PENSAMENTO SEI QUE VAI FICAR a todo momento sei que vou lembrar do brilho do teus olhos, fecho os olhos e não consigo te esquecer, tem alguém comigo mas não é você. Tenho até medo de dormir para não lembrar...aqueles olhos...aqueles olhos que refletem luz no meu coração.

-- você sabe que isso vai ser difícil -- o policial disse me entregando um canivete

-- tudo na minha vida é difícil -- falei guardando no bolso do short

O policial Júlio da as costas para mim e vira à esquerda voltando para sua rotina de trabalho, seguro minhas mãos naquele ferro frio e enferrujado e inspiro o cheiro do local que era: sangue e mijo.

Aqueles olhos.

-- você precisa esquecer essa mulher -- Pedrinho, meu amigo diz e nego abrindo um sorriso

-- a todo momento sei que vou lembrar do brilho dos seus olhos -- cantarolei andando de um lado pro outro dentro daquela cela

-- você está maluco. -- Chico disse rindo com sinal de repreensão

-- estou maluco somente por ela, por Mikaella. Vou sair daqui para a tê-la de novo

-- você devia sair daqui para recomeçar sua vida, sem ela. A garota já tá bem com aquele jogador lá do Flamengo, esquece ela, Marcus.

-- vocês são dois frouxos, só não vão atrás das mulheres de vocês também porque mataram elas.

Falei bravo me sentando no colchão em cima daquela pedra, pego o canivete e fico brincando com ele em meu dedo.

Fixo o meu olhar nele, era preto e com uma serra que parecia cortar bem...imagina só eu deslizando ela pelo corpo da minha mulher depois de fazer sexo com ela.

Esse era o meu plano: transar com a minha esposa até amanhecer e depois matá-la.

Se ela não for minha para sempre, não pode ser mais de ninguém.

E aquele jogadorzinho que não se atreva a mim intervir ou irá sofrer as consequências. Queimava o meu peito só de imaginar que ela estava com ele nesse exato momento em que estou preso aqui.

Pensar que ela poderia o amar destruía o meu coração feito paçoca esfarelada, ela não poderia amar qualquer outro homem. Somente eu. Eu.

Só Eu.

-- aqueles olhos -- cantarolei novamente a música do DOM M

Aqui na cadeia durante esses cinco anos, a gente acaba aprendendo muitas coisas...a gente tinha acesso a televisão pelo menos cinco vezes no mês, uma vez por semana e geralmente era futebol ou notícias sobre. E a vi em um jogo do Flamengo com aquele jogador, Gerson.

Mas ela não era dele, no fundo eu sei disso.

Certeza quem nem se quer transaram ainda. Por que ela só pode fazer isso comigo.

-- só comigo -- falei apertando o canivete aberto na minha mão e a dor do sangue escorrendo não me incomodava, apenas me dava prazer e era isso que eu queria fazer com ela.

Na verdade, bem pior.

Quando todos foram dormir e Julio viu que a barra estava limpa, me despeço dos meus companheiros que eram uns otarios por não quererem fugir junto comigo. Assim que ouço o barulho daquele cadeado sendo destrancado solto um suspiro que estava preso na garganta a muito tempo.

Vou caminhando em direção ao banheiro como combinado, visto as roupas de policial que Júlia havia me arrumado, coloco o revólver na cintura, penteio meus cabelos que estavam grandes e minha barba que não fazia a messes

Confiro o dinheiro que minha mãe me trouxe, metade havia dado para Júlio para que conseguisse a minha fuga.

Caminho ao lado do policial fingindo estarmos comentando sobre algum caso específico

-- boa noite, estamos indo. Valeu Raul! -- meu amigo disse fazendo um toque com o guarda porteiro que abriu a porta do presídio.

Assim que suspiro o ar gelado do mundo lá fora uma lágrima escorre pelo canto do meu olho direito enquanto encaro as estrelas

-- você me deixa na minha mãe? -- perguntei para ele que entrava dentro do carro.

-- ok, vamos rápido! -- ele disse e entrei no banco de passageiro, o policial arranca seu carro com tudo e sinto o meu coração bater mais forte.

Agora poderia encontrá-la novamente.

Agora a teria novamente.

Finalmente ela seria minha mais uma vez.

Só minha.

de mais ninguém.

Estou livre,
Minha Mikaella.