Desabrochar do amor

Capítulo 2 - Impotência

 Somente o que precisava era um momento de silêncio para que pudesse finalmente despir-se da fadiga do corpo, e mente. Há quanto tempo não podia ter um descanso merecido?
Nem conseguia se lembrar, sempre estava desarmando uma bomba prestes a explodir em seu colo, em eterno estado de alerta, não tinha tempo para relaxar.
Ser dono do hospital da família que estava por um fio, era a pior herança que podia ter, dia após dia tinha uma batalha para tentar reerguer o que um dia havia sido um local de renome. Estava disposto a fazer tudo ao seu alcance para que seu legado não se findasse, muitas pessoas dependiam de seu êxito.

Naquele momento olhava pela janela imerso em pensamentos, não conseguindo dar a atenção necessária aos muitos números à sua frente — podia sentir uma dor de cabeça despontando — só não podia dizer se era fadiga, ou fome àquela altura.
Passar pelo caos dos últimos três anos não fora uma tarefa fácil para dizer o mínimo, agora tinha de pôr as coisas em ordem o mais rápido possível. O maior tempo que passava na empresa considerava um tempo ganho, para que enfim pudesse acertar os negócios que o pai em atos deliberados havia jogado em ruínas.

De certo ele próprio quase não acreditava que poderia fazer algo, nem mesmo os acionistas e membros do conselho do: Serenity Medical Center.
Eram dívidas astronômicas, salários atrasados e multas, era um completo desastre. A situação era um caos completo, algo que já era intrínseco em sua vida. Desde que se conhecia e entendia-se como um ser humano, fora jogado em um mundo anárquico, mergulhar naquela desordem era um delírio, qualquer um em sua situação facilmente declararia falência e desistiria. Não ele.
A Início era uma responsabilidade que nem sequer sabia se conseguiria administrar, mas agora era algo diferente, como uma paixão que se desabrochava em sua vida.

Novamente encerrava o expediente após o horário, nem sequer se dava conta do tempo passado, junto aos diversos documentos em cima de sua mesa. Podia enfim retornar a sua casa, provavelmente nem sequer sua secretária estava ali, já era demasiadamente tarde.

Começou a pegar algumas pastas para revisar seu conteúdo, continuando seu trabalho em casa. Não seria problema perder uma noite de sono, entretanto seu intento fora interrompido pela única batida na porta, logo após a mulher sem convite passou por ela, lhe oferecendo um grande sorriso.

Vê-la era quase como encontrar um oásis em meio ao deserto, ela era a única que o encarava como uma igual. Uma eremita. Acreditava que por isso tinham aquela conexão, diferente das que tinha com os demais a sua volta. Ela era uma das únicas que poderia entender que o que fazia era para sentir-se parte de algo, e ser finalmente necessário. Sentir-se vivo.

— Já que não saiu um segundo desse lugar hoje, vim te ver pela última vez antes de eu ir viajar.

— Vai dar tudo certo na sua viagem, é uma coisa boa, se tranquilize e descanse, é uma ótima oportunidade.

— Jura, você está me mandando descansar, meu bom querido workaholic?

Ela indagou se aproximando, colocando as mãos sobre os ombros firmes, os massageando, tentando fazê-lo relaxar, provando por fim seu argumento.

— Nossos trabalhos são diferentes, sabe bem disso, mas seu tio vem te atribuído mais responsabilidades, significa que ele confia em você.

— Não tanto quanto em Mariáh, mas eu não sou a filha dele, não é mesmo? Mas não estraguemos nossa despedida com esse papo chato. Vou ficar vários dias fora trabalhando, me deixa aproveitar esse momento tão precioso e raro com você.

— Aqui não, vamos.

Disse a puxando suavemente pelo braço, a fazendo revirar os orbes dourados.

— Aí você é tão chato e puritano, Gien. Vamos logo, não quero perder mais tempo.