Capítulo dois: Welcome To The Mato

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A paisagem bucólica pouco combinava comigo. Assim que atravessei a cancela do sítio da minha mãe com a moto só conseguia pensar que a vida naquela semana seria completamente diferente do que eu estava acostumada.

Fazia tempo que eu não ouvia o barulho dos pássaros como ouvia naquele local, São Paulo era uma cidade morta. Ao invés de pegar um motorista eu decidi alugar uma moto para andar de um lado para o outro por lá, eu esperava não ficar atolada em nenhum local, por isso tomei cuidado de pegar uma motocicleta de modelo big trail.

Parei a moto ao lado da casa da minha mãe, e desci, tirei o capacete e avistei a mulher sentada numa cadeira de balanço. Fui correndo para abraçá-la. Foi difícil segurar as lágrimas. A saudade que eu estava dela, junto com o fato de que ela me lembrava do pai me doíam muito.

- Demorou, filha... Demorou para ver a mãe. – Eu dei uma risadinha entre as lágrimas. – Agora é hora de desacelerar a vida, né?

Eu dei um beijo no rosto dela e quando eu vi tinha uma menina vestida toda de preto saindo da casa. A garota era minha priminha Lúcia. Ela estava usando um camisão do Iron Maiden com um short preto curto e sandálias de dedo também preta.

- O que deu na Lúcia? – Ao ouvir aquelas palavras a garotinha olhou para mim e pulou nos meus braços, Lúcia era uma menina de pele bronzeada e cabelo compridíssimo castanho claro. Ela tinha mais ou menos uns 18 anos, mas era baixinha e muito magra.

- Minha maior ídola chegou! – Ela começou a gritar.

- Deu que ela virou sua fã. – Disse a minha mãe dando um risadinho.

- Tia Maria, eu sou mais que fã dela! – Eu dei uma risada gostosa e sequei as lágrimas. – Prima, a vó tá preparando sua comida. – Nesse momento eu olhei o relógio, era quase 8 da manhã e eu não tinha comido desde antes de pegar o voo. Minha barriga roncou.

A minha avó ainda era viva, apesar da minha mãe ter quase 60 anos. Aos 80 minha avó era uma mulher de muita garra. Fui andando para a cozinha onde a "véia" estava colocando um bolo de fubá com cobertura de goiabada na mesa. Minha avó estava bem enrugada e com um sorriso no rosto.

Abracei a senhorinha que tanto amava, seu abraço era quente e gostoso.

Olhei ao redor depois que soltei dela. O filtro de barro, o coador de café de pano, o pão francês fresquinho, queijo minas e presunto, e pão de queijo; Claramente minha avó e minha mãe não dormiram para preparar aquela comida gostosa para mim.

- Gostou? – Vovó perguntou com uma voz fraca, apertei ela de lado e disse que sim. Nisso vi no corredor Lúcia carregando a mala e o violão que ela havia soltado da moto. Lúcia sempre foi uma menina muito agitada e ansiosa.

Gostava dela assim.

- Prima, já botei sua roupa no seu quarto!

- Obrigada! – Gritei de volta.

Sentei na mesa e aos poucos as mulheres se reuniram ao redor da mesa.

Ficamos horas ali, conversando.

Falamos de tudo, fofocas da minha vida, fofocas da vida dos vizinhos, falamos de celebridades, comentamos sobre a novela das 8, tudo.

Não tomei café, apenas leite, caso contrário viraria um zumbi. O leite era fresco e recém tirado de uma vaca do vizinho. Naquele meio tempo que conversávamos minha avó levantou para fazer o almoço e eu fiquei apenas observando. Em outras situações eu ajudaria, mas estava muito cansada.

- Sua avó morre se a gente não a deixar cozinhar. – Minha mãe comentou, acenei positivamente vendo enquanto ela colocava o arroz na panela e misturava com alho e outros temperos e esquentava o feijão que cheirava tão bem.

Sistema BrutoOnde histórias criam vida. Descubra agora