Capítulo Oito: Salvação

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No olhar do íncubo brilhavam lágrimas pela primeira vez em toda a sua existência. Jisung sentia uma terrível e irremediável dor, muito pior do que ter cada um de seus ossos partidos ao meio, ou que ter suas asas e chifres arrancados a força. Ele apertou os lençóis que tinha ao redor do próprio corpo, protegendo suas intimidades, encheu o peito de ar e chamou por Minho:

— Você não morreu, não é? Você não pode dizer que ficaremos juntos e me deixar assim!

Com as mãos sobre o tronco alheio desnudo o sacudiu, as garras tão afiadas que quase o cortaram.

— Minho! Abra os olhos — ele clamou, aos berros.

Estava se tornando frequente, com aquele humano Jisung experenciava intensas emoções que nunca pôde antes, e assim como ter o beijado proporcionou-lhe a melhor das sensações, o receio de perdê-lo trouxe consigo a pior de todas.

Lágrimas sinceras escorreram pelas bochechas riscadas e um soluço entrecortou sua voz, que chamava, baixinho:

— Minho... acorde. Vamos, abra os olhos e me responda...

O rosto do moreno não tinha nenhuma expressão, nem cor.

— Eu... eu acho que você é o meu amor verdadeiro, a minha alma gêmea, e por você eu estaria disposto a enfrentar o exílio e o desprestígio, eu vejo agora...

Desespero, esse era o nome do demônio que atormentava Jisung e o fazia se arrepender de não ser mais corajoso.

— E já que somos metades de um todo, o laço entre nós nunca poderá ser rompido. Eu estou ligado a você para sempre, Minho. E não poderia ir atrás de outro nem se quisesse. Eu jamais serei capaz de esquecer como é amar você. Então... não me deixe!

Doía saber que suas palavras eram puramente a verdade, já que o íncubo não mentia.

— Agora que me fez assumir minha debilidade como demônio, me deixe ouvir sua voz insolente!

Vendo que não obtinha respostas, o de cabelos azuis escondeu o rosto no tórax do humano, inalando o seu perfume, e encharcou a pele branquinha com seu choro dolorido.

Manteve-se daquela forma, inconsolável, até sentir uma mão gélida em seu ombro.

Arregalou os olhos, olhando para trás, mas não havia ninguém.

— Olá...? — encarou a escuridão ao seu redor.

As luzes do poste em frente a janela piscaram, uma brisa intrusa sacudiu as cortinas e assobiou agudamente. E exceto pelos tecidos, tudo parecia igual, intocado e inerte.

Jisung olhou novamente para frente, o moreno continuava inconsciente, deitado na mesma posição. E ele sentiu um sopro suave em sua nuca, como se houvesse alguém atrás dele.

O fôlego calmo e tranquilo de um predador que analisa com cuidado e paciência a sua presa.

Os carros cruzando as ruas e as vozes distantes das pessoas eram os únicos indícios de outros seres vivos além dele próprio.

O relógio estalava: tic tac.

Tic. Tac.

— Minho... Acorde...

Ele sobrepôs as mãos do humano com as suas próprias, o rosto bonito do Lee perdeu a cor e a vida que possuía. Uma angústia lancinante esmagou o coração do íncubo, que fechou os olhos com força e ouviu baques pesados contra o piso, como se fossem passos se aproximando.

Ele abriu os olhos...

Mas não havia ninguém.

Tic. Tac. Tic. Tac.

Night Devil | MinSungOnde histórias criam vida. Descubra agora