capítulo único

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Já havia algum tempo que Roier vinha notando um estranho comportamento de seu marido, um hábito incomum.

   Cellbit não gostava de dias de sol. Parecia que o simples fato de acordar e não ver nuvens cinzas no céu eram o suficiente para deixá-lo indisposto até o cair da noite. Roier passou a observar isso quando numa manhã comum viu o marido levantar-se e ir até à varanda, olhar para o céu e suspirar frustrado, retornando para a cama e se cobrindo de maneira dramática.

   A partir daquele dia não pôde deixar de notar sempre o desânimo do outro, era preocupante, porém cômico, ele conseguia transmitir melancolia até em seus menores atos.

   Numa manhã qualquer Roier despertou com o som de um trovão, ao abrir os olhos imediatamente procurou pelo marido descobrindo que ele não estava mais na cama. Ergueu-se com preguiça e bocejou, seus sentidos começavam a despertar também e só então o moreno percebeu o barulho alto de chuva por todo o lugar, a sensação fria e o ar cinzento também denunciavam o temporal que caía.

   Levantou-se da cama e se dirigiu para o banheiro, fazendo sua higiene matinal e só então deixando o quarto. Enquanto andava pelo castelo podia ver as gotas agressivas de chuva violentamente se chocando contra a vidraçaria vermelha das janelas.

   Não demorando muito chegou no salão do lugar, contemplando o trono vazio que se localizava no fim da enorme sala, caminhou preguiçoso sob a tapeçaria vermelha em direção ao mesmo, seus olhos passeando pelas colunas do lugar contemplando os estandartes vermelhos com o símbolo de sangue expostos no topo de cada uma delas.

   Aquele era seu castelo no fim das contas, mesmo que Cellbit fosse o dono do lugar, ele era a voz final para tudo, uma vez que uma ordem sua fosse dada Cellbit acataria sem reclamar.

   Chegou em seu trono e sentou-se com uma postura desleixada, estava ali somente porque tinha preguiça de procurar pelo loiro, era muito mais fácil esperar que ele viesse até si, algo que não demorou.

— Guapito.

   Roier, que estava quase cochilando, levou sua visão até o início do salão onde pôde ver a figura de seu marido.

— Gatinho. — Levantou-se e foi em direção ao loiro — Saiu da cama cedo hoje.

— Acordei mais disposto. — Abriu os braços receptivo.

   O moreno abraçou a cintura do outro e selou brevemente os lábios, era um ritual comum do casal um beijinho de bom dia.

— Algum motivo em especial para isso? — Referia-se à repentina disposição do híbrido.

— Acho que não, eu só... acordei feliz.

— Então normalmente você acorda triste?

— Óbvio que não, e como poderia? Todos os dias acordo ao lado da pessoa mais perfeita do mundo.

   Roier arqueou uma das sobrancelhas e um sorriso ladino formou-se em seus lábios, sutilmente aumentou a força do abraço que seus braços ainda formavam na cintura do loiro.

— Realmente acordou diferente hoje, gatinho. — Depositou mais um selinho nos lábios alheios — Então me diga, com o que pretende gastar essa disposição? — Mais um selar foi deixado, entretanto, não afastou os rostos completamente, ficando a centímetros da boca alheia.

— Não sei, tenho o dia livre, sabe? — Foi a vez de Cellbit depositar um selar rápido nos lábios do outro — Richarlyson ficará com Felps. — Mais um selar — E está chovendo, não quero ir para a ordo. Tem alguma sugestão?

— Muitas. — Respondeu baixo, olhando diretamente para a boca do outro e sorrateiramente descendo uma das mãos presentes na cintura alheia — Mas infelizmente hoje sou eu quem está ocupado.

   O clima foi rompido de maneira tão abrupta que Cellbit involuntariamente se afastou, confuso.

— Entendo. — As orelhas de gato do loiro abaixaram-se levemente.

   Naquele momento o moreno estava pronto para rir e revelar ser apenas uma brincadeira, entretanto a reação de frustração o fez recorda-se do desânimo habitual do marido.

— Gatinho, estava apenas brincando. Mas agora quero te fazer uma pergunta.

— Estou ouvindo. — A expressão de tristeza lentamente se tornava de curiosidade.

— Por que não gosta de dias de sol?

   Os olhos azuis piscaram algumas vezes, confusos.

— Eu gosto de dias de sol. — Disse simples e honesto.

— Não gosta não. Sempre que o dia está ensolarado você fica xoxo, capenga, cabisbaixo.

— Huh, 'tá... eu fico, mas não é culpa do sol. — Cellbit desviou o olhar — É culpa sua.

— Como?!

   A cauda do híbrido de gato começou a mover-se de um lado para o outro, ele estava nervoso.

— É que dias de sol significam que não vou poder ficar o dia inteiro com você, normalmente eu tenho que ir para a ordo ou simplesmente me enfiar no meu escritório junto a Maximus e Bad. Quando não é assim é você quem sai, não avisa nada e simplesmente passa o dia fora.

   Cellbit não estava mentindo, em dias normais ele via o marido apenas ao acordar e de noite quando já estavam se deitando para dormir.

   Talvez tenha sido justamente por isso que interpretou que o brasileiro ficava o dia inteiro indisposto, ele o via apenas de manhã e no fim do dia.

— Lo siento mi amor. — Roier disse em sua língua materna, acariciando o rosto do outro — Mas concordamos que a culpa não é somente minha, certo?

— Claro que é, você me fez ficar mal-acostumado. — Um sútil sorriso surgiu nos lábios do brasileiro.

— Então meu único erro foi ser irresistível demais? — Brincou, vendo o sorriso do outro aumentar.

— Sim, irresistível pra' caralho.

   Roier retirou a mão que acariciava o rosto do outro e a posicionou na cintura do mesmo, puxando-o outra vez para perto de si e iniciando um beijo calmo com a única intenção de demonstrar seu amor pelo parceiro.

   Cellbit guiou uma mão até a nuca de Roier enquanto a outra acariciava um de seus braços, interromperam o ósculo após poucos segundos, porém continuaram extremamente próximos.

— Yo te amo. — O moreno disse num sussurro.

— Eu sei. — O brasileiro respondeu com um sorriso convencido.

— Não destrua o momento.

— Não resisti. — Deixou um selinho nos lábios alheios — Eu também te amo.

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Gatos não gostam de dias de sol?Onde histórias criam vida. Descubra agora